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Vídeo: A Relação entre Pandemia, o Processo de Recuperação da Autoridade Científica e da Autoridade da Universidade – Alfredo Wagner


PRONUNCIAMENTO de Alfredo Wagner, conselheiro da SBPC, na MARCHA VIRTUAL PELA CIÊNCIA, em 04 de maio de 2020.

  1. Nesta oportunidade de realização da MARCHA VIRTUAL PELA CIÊNCIA, organizada pela SBPC, eu gostaria de ressaltar a relação entre a pandemia e o processo de recuperação da autoridade científica e da autoridade institucional da universidade, enquanto lugar social de produção e reprodução do conhecimento científico.
  2. Até o inicio deste ano órgãos competentes do governo federal falavam em ciência num sentido oficial de crítica: crítica à universidade, critica aos procedimentos de produção de conhecimento científico, crítica às autoridades universitárias ( o que inclusive levou a decisões governamentais em que o próprio Presidente da República passa a escolher os reitores), crítica às agencias de fomento ( reduzindo seus orçamentos, a ponto de se lançar midiaticamente estigmas de criminalização das ciências sociais e de inutilidade da filosofia, classificando-as como desnecessárias e nocivas à sociedade, e de se reduzir bolsas de pós-graduação e de extinguir bolsas de Pibic), além de classificar de maneira depreciativa, como “parasitas”, os servidores públicos em sucessivas falas ministeriais das áreas econômica e de educação. Esta iniciativa de naturalização absoluta do conhecimento científico, reduzindo-o à mera utilidade, implicou numa completa desautorização da ciência e dos lugares institucionais onde ela é produzida, sobretudo a universidade.
  3. A partir do enfrentamento da pandemia se impôs, entretanto, uma situação distinta em que se passa a falar de ciência a partir de outros significados em aberta oposição à visão reducionista de órgãos oficiais. Assim, passa-se a falar em ciência, num sentido inverso, segundo pelo menos três significados nesta relação entre a pandemia e o processo de reafirmação da autoridade cientifica.
    1. Em primeiro lugar todos falam em ciência agora, as mídias inclusive, como VERDADE por oposição a FAKE NEWS. A CIENCIA COMO VERDADE POR OPOSIÇÃO A FAKE NEWS. O pensamento científico é o pensamento que encerra a Verdade. Fake News é uma ficção. Fake News além de ser uma inverdade é algo ficcional, que não resolve os problemas da sociedade.
    2. Um segundo significado da ciência, que ficou fortalecido nestes tempos de pandemia, consiste na aceitação generalizada, por um público amplo e difuso, de que a ciência é uma ação racional, produto de atos de pesquisa sistemática realizados durante um tempo prolongado. A ciência não tem resposta pronta e imediata. A CIENCIA É UMA AÇÃO RACIONAL POR OPOSIÇÃO AOS ACHISMOS. Em vários pronunciamentos hoje de distintas pessoas, de distintos lugares, em pesquisas domiciliares e de rua (pesquisas de opinião), percebe-se que há um respeito pelo conhecimento científico por oposição ao achismo, por oposição ao opinativo. Estamos diante de um aparente paradoxo os resultados das chamadas “pesquisas de opinião” dissociam a ciência do opinativo. Ou seja: Ciência não é produto de opinião. Ciência não é produto daquilo que alguém acha que é. Ciência é produto de uma ação sistemática, de uma ação de pesquisa. Este segundo significado me parece, assim, bastante fortalecido nos meios populares e no cotidiano da vida social.
    3. O terceiro significado que penso ser relevante ressaltar, neste momento da Marcha pela Ciência e da tragicidade dos efeitos da pandemia, é a difusão ampla de uma noção de Ciência como instrumento que fundamenta politicas de Estado por oposição ao empirismo ingênuo de governantes despreparados, que falam o que lhes dá na telha, que revelam uma ignorância e um despreparo elementar bastante acentuado com relação aos fenômenos mais simples, sejam fenômenos sociológicos, sejam fenômenos de tratamento pela biologia ou pelas ciências médicas.
  4. Considero que estes três significados de afirmação e reconhecimento do conhecimento cientifico revelam hoje um processo de re-autorização da ciência. A autoridade da ciência hoje se transformou numa pedra angular do desenvolvimento da vida social. Se fala em ciência nos noticiários, se fala em ciência nas ruas, se fala em ciência no dia a dia da vida doméstica e na intimidade familiar, se fala em ciência nas universidades que estão sendo recriadas por estas operações remotas, virtuais, seja de aula, seja de conferencia, seja de seminários à distancia. Está difundida amplamente a noção de que só se pode enfrentar a pandemia com conhecimento cientifico. A autoridade contida na ideia de ciência voltou a dominar a vida na sociedade. A sociedade hoje não pode prescindir do conhecimento da ciência para enfrentar as suas dificuldades. Penso que esta é a grande contribuição a ser destacada nestes tempos difíceis.
  5. A SBPC teve e tem uma função muitíssimo importante em tudo isto. Tem que ser acentuado este aspecto. A ação da SBPC em diferentes campos da vida social tem revelado, neste momento, que é um momento de transição da desautorização para uma re-autorização da ciência. Em outros termos um momento de resistência firme ao “trabalho da morte” como prevalecente. Deste modo, não obstante a persistência de uma ação oficial de pretensão desautorizadora, cabe sublinhar que a SBPC tem se se manifestado com muita força para consolidar, para cristalizar esta posição de realce que o pensamento cientifico passa a ter na vida social e na sociedade brasileira.
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