Nova Cartografia Social Da Amazônia

OCUPAÇÃO DE TERRA EM LÁBREA


A última semana foi de muita tensão na sede do Munícipio de Lábrea. Segundo informações obtidas em conversa informal com algumas pessoas que estão ocupando a área, são mais de duas mil pessoas ocupando uma área de terra situada na entrada da cidade, na BR 330, Transamazônica, tendo ao fundo uma Área de Proteção Ambiental (APA) e a Terra Indígena Caititu, do Povo Apurinã.

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A área já estava desmatada com um traçado de ruas, pois já estava sendo negociada a venda de terreno no local. Um comerciante de Lábrea se intitula proprietário da referida terra. O mesmo, no processo de desmatamento do local invadiu a APA e a Terra Indígena Caititu. Como estava desmatado algumas pessoas do movimento de ocupação marcaram terrenos tanto na área da APA, quanto na Terra Indígena.

Estive visitando o local durante os dias 23 e 24 e conversando informalmente com as pessoas e obtive a informação de que há mais ou menos um mês algumas pessoas começaram o processo de ocupação na área pelos fundos, mas a partir do dia 19 de julho foi o momento que um maior volume de pessoas adentraram a área para marcar seus terrenos. Segundo narrativas a irmã do comerciante esteve no local com o advogado da família, acompanhados da polícia e, “mostraram um documento novo, página branquinha”. Uma das senhoras com a qual conversamos afirmou: “ a gente quer ver um documento antigo, com a pagina amarela, que mostre que ele é realmente o dono”. Em dois momentos um vereador do município, foi ao local e explicou que parte da terra não possui documentação.

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Em conversa com o referido vereador, o mesmo nos informou que existe uma área entre a APA e a Terra Indígena Caititu que não possui documentação no setor de Terra da prefeitura. O mesmo sugeriu as pessoas que permanecessem nessa área e que a outra área localizada à margem da BR 330, essa é propriedade privada, sendo o proprietário um empresário de Lábrea. O vereador afirmou está preocupado, pois segundo ele “não quer ser confundido com incentivador da invasão, ele só foi lá para informar as pessoas sobre a situação da documentação da terra”. O mesmo está esperando o empresário que é proprietário de parte da terra chegar para explicar isso a ele.

Tal situação “separou o movimento” quanto ao processo de ocupação. Existem pessoas que marcaram terrenos em área que provavelmente está localizado na área da APA e da Terra Indígena Caititu, outros estão em área considerada devoluta e outros, ainda, que estão marcando os terrenos em propriedade privada. A área total da ocupação segundo informação obtida no local é de 90 hectares, porém várias pessoas afirmam que é maior.

Até sábado (23), estava sendo ocupada somente uma das margens da rodovia, no domingo iniciou a ocupação da outra margem seguindo a até a área da lixeira municipal. Lábrea a partir de sexta-feira foi invadida por uma cortina de fumaça. As pessoas estão limpando os terrenos e demarcando com fios e faixas e à frente de cada lote colocam os seus nomes.

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Muito dos que estão ocupando a área são pessoas que vivem nas áreas que alagam e ou moram na cidade na casa e/ou no terreno dos pais e/ou outros parentes. Uma senhora afirmou: “Eu moro há 37 anos na Vilaray. Todo ano os políticos prometem que vão tirar nós de lá e até hoje a gente continua lá sofrendo com a alagação.” Outra fala, um senhor disse: “Eles foram lá em casa, tiraram minha foto e disseram que eu ia ganhar uma casa, da “Minha casa minha vida”, até hoje, cadê? Eles iniciaram dez casinha e nem terminaram.” Vários indígenas que moram na cidade também estão no local marcando terreno.

As falas das pessoas apontam para a indignação com o descaso do poder público municipal. Alguns apontaram que “no meio das pessoas carentes existem até comerciantes tirando terreno.”

Com relação à Terra Indígena, acompanhei a fala do representante da FUNAI que explicou que segunda (25) virá um técnico para fazer a medição e indicar onde inicia a Terra Indígena. As pessoas com as quais conversei sobre a questão da APA e da Terra indígena disseram que só querem saber realmente onde começa essas áreas e que irão sair caso seja confirmado que aquela área é realmente a Terra Indígena.

Estrategicamente as pessoas no local não falam de lideranças. Um grupo de senhores com os quais conversamos nos disseram que existem falas de que o empresário que se diz proprietário está buscando saber quem iniciou e/ou está coordenando essa ocupação. No dia em que o advogado e a irmã do referido empresário estiveram no local, uma pessoa que estava falando em nome das pessoas foi ameaçado de ser preso. A partir daí eles assumiram a estratégia de que não existe um líder.

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Em uma das entradas da ocupação existe uma placa como o nome “Invasão Grande Vitória”, porém as pessoas afirmam que a ocupação ainda não tem nome.

A situação é tensa e indefinida. Vamos ficar acompanhando o desenrolar dessa situação.

Claudina Azevedo Maximiano

Pedro Italiano de Araújo Neto

Professores do IFAM/Campus Lábrea

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