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A DOR INVADIU OS ARTISTAS EM SÃO LUÍS (MA): A ARTE PERDEU O MESTRE DRAMATURGO LUIZ PAZZINI


LUIZ PAZZINI (06.10.1953 – 29.04.2020)

As redes sociais noticiaram que o mestre Luiz Pazzini estava em estado grave, vítima do Covid 19. Em pouco mais de um dia a sua morte foi divulgada pelos amigos que passaram a se manifestar em homenagens escritas, fotografias e vídeos de espetáculos. Uma verdadeira avalanche de postagens de artistas, professores e amigos que não puderam se despedir presencialmente de um artista que, certamente, contribuiu para a formação de uma geração. As postagens, ao mesmo tempo que reverenciavam o mestre, denunciavam o momento político vivenciado no Brasil. Falavam em desapropriação do luto, o descaso com a vida, genocídio e valorização das leis do mercado. As vozes e choros contidos, sem expressão em um encontro coletivo, são quase similares à revolta que estamos vivenciando em relação à vigência da necropolitica.

Luiz Pazzini, professor do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), graduado em artes dramáticas pela Universidade de São Paulo, coordenou o Projeto de Extensão intitulado “Memória e Encenação em Movimento” e, através do Grupo de teatro “Cena Aberta”, dirigiu e trabalhou como ator em espetáculos como “Negro Cosme”, “Cofo de Estórias”, “Pigmelão” e “Lulu”. Os espetáculos dirigidos pelo dramaturgo se construíam a partir de pesquisas em fontes acadêmicas e orais, sempre procurando trazer à cena agentes sociais à margem da história oficial. Sobre o espetáculo “Negro Cosme,” em uma entrevista concedida ao jornal da UFMA, Pazzini expressou o seguinte:

A história da Balaiada geralmente é voltada para a vitória de Duque de Caxias, enquanto Negro Cosme, personagem essencial dentro da revolta, tem sua imagem encoberta no relato”.

Nascido em Severínia, São Paulo, o dramaturgo e ator paulista adotou a ilha de São Luís como sua cidade há vinte anos, construindo sua trajetória a partir de uma dedicação integral à arte. A arte, ao invés de ser somente uma profissão, se constituía em uma concepção de vida. Talvez essa visão da arte como instrumento de contestação o tenha levado a reproduzir seus conhecimentos. Formou uma geração de alunos, hoje atores profissionais, artistas com seus próprios grupos de teatro e com trajetórias próprias.

O encontrei, a última vez, em um lugar símbolo do Maranhão: na Fonte do Ribeirão. Nos olhos uma expressão firme, sabedora dos tempos que estamos a viver.

Cynthia Carvalho Martins

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