As quebradeiras de coco babaçu das localidades de São Domingos do Araguaia, São João do Araguaia, Palestina do Pará e Brejo Grande do Araguaia acompanham pesquisa que objetiva conhecer a diversidade de espécies de flora e fauna das florestas de babaçu, a relevância da palmeira nos seus modos de existência, os obstáculos para realizar as atividades tradicionais nessas florestas e, ainda, a percepção das quebradeiras sobre as mudanças climáticas.
As quebradeiras manifestaram descontentamento com os resultados da atividade voltada para o coco babaçu, pois as palmeiras têm diminuído em consequência da quantidade de palmeiras derrubadas e o envenenamento das pindovas, o que atribuem aos fazendeiros da região. Muitas mulheres, principalmente as mais jovens, buscam outras formas de trabalho. Outro desestímulo é a falta de estrutura, como transporte para facilitar o deslocamento dos cocos para a sede.
Conforme os relatos, nos babaçuais a variedade de espécies de plantas e animais era maior no tempo em que iniciaram a quebra do coco, também o clima era bem mais ameno e regular. A mudança no clima é marcante para muitas que são também agricultoras. Elas demarcam o período de “chuva, menos chuva e verão” e conferem mudanças nesses ciclos. Nas localidades observadas em campo onde existe maior quantidade de vegetação, dominada por babaçuais, constata-se maior biodiversidade, ao contrário das áreas onde há menos vegetação e menos babaçuais. Os grupos de quebradeiras associaram a diminuição das espécies, bem como seu desaparecimento, à poluição de rios e ao aumento do desmatamento. Em todas as falas é mostrada preocupação com a diminuição da riqueza de espécies.
Na metade do mês de abril, época de chuva, as atividades de coleta e quebra do coco estão diminuídas. No verão realizam a atividade com maior frequência. O registro das quebradeiras é que esse ano choveu mais do que ano passado, vendo isto positivamente, pois no ano anterior quase não choveu. Conforme as falas, o clima interfere não só na atividade voltada para a agricultura como na quebra do coco, pois se chove muito, o acesso ao babaçual fica dificultado devido aos alagamentos e maior frequência de animais peçonhentos. Se está muito quente o acesso também é dificultado pelo esforço físico no calor. A pesquisa foi realizada entre 17 e 21 de abril, época do inverno amazônico onde geralmente se tem chuvas intensas. Os povoados visitados foram São José, São Benedito, 21 de abril, Itamerim, Santa Rita, além de Palestina do Pará, localizados no Sudeste do Pará.
Além da atividade voltada para a quebra do coco babaçu, as quebradeiras são agricultoras, extrativistas, artesãs, entre outras. Possuem relação direta com as plantas, apresentando rico conhecimento sobre as espécies medicinais e um cuidado muito grande com a saúde de suas companheiras. As quebradeiras temem pelo futuro dessa atividade que é muito mais que um sustento, vendo a palmeira como uma mãe. Apesar da realidade ser crítica pelos comprometimentos da saúde das quebradeiras elas continuam se mobilizando e se organizando. Dona Cledeneuza, quebradeira de coco de São Domingos do Araguaia, que me recebeu, frisou a força da identidade das quebradeiras: “Muitas mulheres ainda não sentiram o que é ser quebradeira”, havendo a necessidade do resgate dessa atividade, cunhada tradicionalmente por mulheres antigas.
A pesquisa está sendo realizada por Tássia Cristina Barros Taurino, Bióloga, Mestre em Ciências Ambientais – PPGCA/UFPA e discente do Curso de Especialização em Gestão Ambiental e Manejo de Paisagem- NAEA/UFPA, orientada por Rosa Acevedo (NAEA/UFPA/PNCSA). Rita Pereira da Costa, professora da UNIFESSPA e pesquisadoras do PNCSA apoiou o trabalho de Tássia Cristina Barros.