No período de 27 a 29 de janeiro de 2015, as pesquisadoras Camila do Valle e Cynthia Carvalho Martins estiveram no Museu Nacional da Dinamarca, e no Zoologisk Museum, também em Copenhague, Dinamarca, visitando as coleções relativas à Amazônia no âmbito do projeto “Centro de Ciências e Saberes: experiência de criação de Museus Vivos na afirmação de saberes e fazeres representativos dos povos e comunidades tradicionais (MCTI/CNPq/ SECIS)”. Este projeto está em andamento a partir de um convênio firmado entre a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e o Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro, e tem como coordenadores os professores Alfredo Wagner Berno de Almeida de Heloísa Bertol Domingues.
No Museu Nacional da Dinamarca, observaram as diferentes coleções da exposição permanente, incluindo o material da Groenlândia, colônia dinamarquesa, e outras coleções, organizadas de acordo com o principio de agrupamento das peças a partir das idades e períodos. Em relação ao acervo da Amazônia, há, em uma mesma sala, intitulada “Amazon Indians”, quadros de Albert Eckhout, pintor que viajou juntamente com Mauricio de Nassau (1637-1644), em expedição holandesa para Pernambuco e artefatos indígenas, incluindo o manto tupinambá e exposição de um vídeo sobre os waiwai.
As pesquisadoras Camila do Valle e Cynthia Martins em frete ao manto tupinambá, Museu Nacional da Dinamarca.
Os quadros, assim como outros objetos, segundo relato da curadora do museu para as coleções das Américas, Dra. Mille Gabriel, foram doados pelo próprio Mauricio de Nassau ao rei Frederick III da Dinamarca e apresentam uma representação dos indígenas e negros vistos no Brasil a partir de uma visão eurocêntrica. No Museu Nacional da Dinamarca, as pesquisadoras iniciaram a análise da classificação dos objetos relativos à Amazônia, composto por seiscentos artefatos, e pesquisaram sobre os viajantes ligados ao Museu e que pesquisaram na Amazônia. Um destaque entre eles é o viajante grego-dinamarquês Gottfried Polykrates, nascido em Atenas, em 1927, que esteve no Rio Trombetas e na Serra do Acary pesquisando os waiwai. E ainda o pesquisador Jens Yde que esteve entre 1957 e 1958, pesquisando os waiwai, autor do vídeo referido e em exibição na sala “Amazon Indians”. Jens Yde foi durante longo tempo curador do Museu Nacional da Dinamarca, no cargo hoje ocupado por Mille Gabriel, que disponibilizou o material de pesquisa e recebeu o material do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, doado pelas pesquisadoras para compor a biblioteca do referido Museu.
Ainda na Dinamarca, as pesquisadoras visitaram o ao Zoologisk Museum, no qual se encontra material recolhido em Lagoa Santa, Minas Gerais, pelo pesquisador dinamarquês P. W. Lund, que descobriu, através de escavações arqueológicas, o famoso Tigre de Sabre, exposto neste museu, juntamente com 5 fósseis de crânios. Lagoa Santa também foi tema de visita e pesquisa do antropólogo brasileiro Luiz de Castro Faria.
Camila do Valle, Mille Gabriel e Cynthia Carvalho Martins – Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague.
Em Gothenburg, Suécia, no Museu Världskulturmuseet, as pesquisadoras tiveram reunião com o curador do Museu Jan Amnehäll e com o arqueólogo Per Stenborg, professor Associado e pesquisador do Department of Historical Studies in Gothenburg. Este Museu abriga as coleções de Curt Nimuendaju, Erland Nordenskiold, Koch-Grümberg, Otto Thulin, Mayer Hermann e vários outros, que pesquisaram a Amazônia e Caribe, alguns recolhendo material que enviaram para museus na Europa. Atualmente, encontram-se nesse Museu Sueco, várias coleções provenientes de viagens à Amazônia, tenham elas sido enviadas diretamente para a Suécia pelos viajantes, ou tenham sido essas coleções objeto de intercâmbio entre museus europeus, prática comum, verificada também no Museu da Dinamarca. O arqueólogo Per Stenborg publicou um livro, com apoio do Museu, sobre a coleção de Curt Nimuendaju, e ressaltou a importância de estabelecimento de uma parceria entre a universidade de Gothenburg e a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), através do Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia. As pesquisadoras deixaram, também na biblioteca deste Museu sueco, as publicações recentes do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.
Camila do Valle, Per Stenborg, Jan Amnehäll e Cynthia Carvalho Martins
Esse trabalho de campo no âmbito dos Museus europeus se constituiu em oportunidade para o amadurecimento do projeto e, consequentemente, intercâmbio, com a possibilidade de realização de um seminário internacional que possa articular pesquisadores dos diferentes países.