Evento encerrou com uma visita de campo à Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Fazenda Quina, impactada pela implantação de usina de energia eólica, em Campo Formoso/BA.
Em seu primeiro encontro presencial após a pandemia do Covid-19, a Rede de grupos de pesquisa do Projeto Nova Cartografia Social – PNCS, ligados a universidades públicas da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Espírito Santo, Maranhão, Piauí, Amazonas e Pará, voltam a debater temas e situações de pesquisa em uma perspectiva de rede, em evento realizado entre os dias 19 e 22/09/23, no Centro de Artes, Humanidades e Letras – CAHL da UFRB, em Cachoeira/BA.
Os painéis e rodas de conversa trouxeram exposições sobre o tema central do encontro: A construção de conhecimentos em situação de conflito, de onde surgiram relatos sobre violências sofridas por pesquisadores e pessoas das comunidades, sobre as pressões vivenciadas pelas disputas dos territórios e os impactos em decorrência dos grandes projetos de produção de energia e mineração.
O professor Alfredo Wagner (PPGICH-UEA e PPGCSPA-UEMA), um dos coordenadores do PNCS, participou do evento e refletiu sobre as consequências irreversíveis nas relações humanas e ecossistêmicas depois da implantação dos megaprojetos: “Nós ouvimos muito todo mundo dizer que essa luta é como se fosse o último episódio, o lugar que vai ter 500 aerogeradores, que vai ter 1.000 aerogeradores, o lugar onde vai ter uma extração mineral que destrói e explode montanhas inteiras, acho que estamos diante de uma situação limite, vejo tudo isso com muito cuidado”, enfatiza o professor, que em sua apresentação trouxe as incongruências dos megaempreendimentos mundiais ligados ao agronegócio, mineração e produção de energia.
O evento encerrou no dia 24/09/23, com uma visita de campo à Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Fazenda Quina, impactada pela implantação de uma usina de energia eólica, em Campo Formoso/BA. Fomos recepcionados por Jaziel dos Santos Silva que é da comunidade, mestre em extensão rural pela UNIVASF e pesquisador do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Nova Cartografia Social – NEA/UFRB. “Fundo de Pasto é uma denominação que só tem na Bahia, são comunidades que mantêm um território coletivo e pequenas aéreas individuais, em um território sem cercas onde os animais conseguem pastar livremente, nossa principal atividade econômica é a caprinocultura”, Jaziel que também é membro da Articulação Estadual das Comunidades Tradicionais de Fundo e Fecho de Pasto, relata que depois do empreendimento eólico, as cercas foram erguidas e a rotina da comunidade foi alterada.
Para o professor Juracy Marques (UNEB), pesquisador da Rede PNCS, as consequências da presença de parques eólicos na região das Serras do Sertão são graves. “Depois de refletirmos muito sobre este temeroso cenário, na visita de campo pudemos observar que os complexos eólicos instalados, além de trazerem graves impactos socioambientais, não estão cumprindo adequadamente as promessas que fizeram no processo de instalação”, ressalta Juracy, “o termo transição energética não nos parece muito apropriado para o caso brasileiro, e do Nordeste em especial, visto que já temos grande parte da energia vinda de fontes renováveis, o cenário aponta mais para uma série de ‘transações energéticas’, com uma multiplicação desses empreendimentos sem a devida fiscalização do estado”.
A visita de campo teve a participação de organizações da Colômbia e Indonésia convidadas pela Fundação Ford, que é uma das apoiadoras do encontro, juntamente com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. A organização do evento foi compartilhada entre os grupos de pesquisa do PNCS: Núcleo de Estudos em Agroecologia e Nova Cartografia Social (UFRB), Grupo de Pesquisa em Ecologia Humana (GPEHA/UNEB); Laboratório de Estudos sobre Ação Coletiva e Cultura (LACC/UPE), Grupo de Pesquisa Etnologia, Tradição, Ambiente e Pesca Artesanal (ETAPA/UFRN), Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental (NIISA/UNIMONTES), e Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (UFES).