No dia em que se comemora o Dia Mundial da Água (22/03), ribeirinhos e quilombolas da região das Ilhas do município de Abaetetuba reuniram-se na Ilha Xingu, comunidade Curupuacá, próxima à Ilha do Capim. No evento denominado “O Grito das Águas”, ou nas palavras de uma liderança quilombola da comunidade Campompema, “um grito de rebeldia e resistência”, as cerca de trinta comunidades e entidades presentes ao evento, deram seu grito de protesto contra os grandes empreendimentos que pretendem se instalar nas Ilhas e pediram providencias, às em relação aos impactos ambientais que tem contaminado os recursos hídricos da região das Ilhas de Abaetetuba, próxima ao complexo industrial de Barcarena, alvo de diversas denúncias dos desastres ambientais.
Especificamente o território das comunidades das Ilhas Xingu e Urubuéua encontram-se ameaçados pelo projeto de instalação de Terminal Portuário de Uso Privado da multinacional norte americana Cargill. Antes, um empreendimento da empresa Odebrecht, que pretendia construir a TUP na Ilha do Capim, atualmente realiza planos para instalar-se em dois pontos próximos. A mobilização da comunidade do Capim teve como resultado a produção de um mapa publicado no Boletim de número 8 do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, no qual os pescadores demarcam os recursos a serem atingidos pelo empreendimento, dentre os quais, 31 pesqueiros, apenas no entrono da ilha Capim. A recente publicação do Relatório de Impacto Ambiental-RIMA, produzido pela Cargill trouxe grande surpresa e preocupação, pois dentre as comunidades atingidas, várias sequer sabiam da existência do documento e outras alegam não terem sido ouvidas.
O evento coordenado por lideranças da Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz – Ilhas de Abaetetuba, contou com o apoio de diversas entidades e representantes dos movimentos sociais e universidades. A presença dos moradores foi bastante expressiva, que em suas falas expuseram sua indignação pela crítica situação em que se encontram. Um dos pescadores entrevistados comunicou:
“A gente pesca aqui na baía, mas devido a essa poluição que está aí, quem quer sustentar seus filhos tem que ir pra mais longe como o Amazonas e o norte, porque minha gente aqui tá difícil com essa poluição. Por exemplo, o mapará e a taínha, que tanto tinha antes, e hoje está sumindo da nossa região.”
A pedido das comunidades e do movimento estudantil das Ilhas Xingu e Urubuéua encontra-se em elaboração o mapa das referidas ilhas, que compreende cinco comunidades, dentre essas a comunidade quilombola do rio Assacu.
As primeiras oficinas foram realizadas na comunidade Santo Afonso na Ilha Xingu. Diretamente afetada, a comunidade fez questão de representar os recursos que usufrui, os quais sequer são mencionados no RIMA da empresa Cargill. Dentre estes, o Lago Piri, uma área de uso comum que abastece as comunidades do Xingu e ilhas adjacentes, além das diversas roças, cujos produtos abastecem as famílias e a cidade de Abaetetuba, onde também comercializam seus produtos.
As oficinas têm sido realizadas por grupos e etapas. A primeira foi com as mulheres artesãs de cuia, posteriormente, com a juventude e estudantes do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), realizada no último dia 18 de março.
Por Eliana Teles, Renato Carvalho Barros e Nelson Ramos Bastos.