Nova Cartografia Social Da Amazônia

TRABALHO DE PESQUISA NO QUÊNIA


a) Em 13 de maio de 2018, uma equipe de pesquisadores do PNCSA, composta por Sheilla Borges Dourado, Maria Consolação Lucinda, Antonio João Castrillon Fernandes e Alfredo Wagner, iniciou suas atividades no Quênia, realizando reunião em Nairobi, no Desmond Tutu Conference Center, com membros do Kenya Land Alliance (KLA), a saber: Johanna Wanjala, Ogina Hillary e Odenda Lumumba. Nesta reunião foram repassados os pormenores do contato e confirmada a programação definitiva das atividades, que vinha sendo discutida on line desde os últimos cinco meses. Foi estabelecido o seguinte itinerário: nos dias 13 e 14 permaneceríamos em Nairobi, com discussão na Universidade de Nairobi (UoN) no dia 14. No dia seguinte, 15 de maio, estaríamos na sede do KLA, em Nakuru, no dia 16 em Mombassa, no dia 17 em Kwale, numa oficina de discussão do “first draft” do fascículo de Kibwaga e Nguluku e no dia 18 novamente em Nairobi, em reunião na Fundação Ford.

Figura 1 : Odenda e Johanna (KLA) e Samuel Owuor (UoN)

b) Em 14 de maio foi realizada reunião na Universidade de Nairobi, primeiro no gabinete do Dr. Boniface N. Wambua, diretor do Departamento de Geografia, e depois no próprio departamento no Departamento de Geografia, sob a coordenação do Prof. Samuel Owuor, focalizando: i) a relação entre o minilaboratório de cartografia social, instalado pela KLA, em Nakuru, em colaboração com o Departamento de Geografia e com o Projeto Nova Cartografia Social da Amazonia (PNCSA), e o laboratório da UoN, cujo upgrade foi apoiado, juntamente com a instalação do minilab da KLA, por recursos financeiros da Fundação Ford, obtidos a partir do projeto Social Cartography and Technical Training of Researchers and Social Movements in Kenya and Brazil executado no âmbito do PNCSA.

ii) O debate em torno dos desdobramentos desta cooperação técnico-científica realizada nos últimos quatro anos entre o PNCSA (UEMA,UEA,UFAM), a Universidade de Nairobi (Dept. de Geografia) e a KLA. Participantes: pela UoN os professores Samuel Owuor (Dept. Geography) e Collins Odote (School of Law); pela KLA, Odenda Lumumba, Hillary e Johanna, pelo PNCSA a equipe antes mencionada e ainda: Desmond Tutu, professor de direito de universidade privada, que viajara para o Brasil, no âmbito do Projeto Cartografia Social e Capacitação Técnica de Pesquisadores e Movimentos Sociais no Quênia e no Brasil em 2015.

Figura 2:Professores de Geografia e de Direito da UoN, membros da KLA e equipe do PNCSA, no pátio central da UoN em Nairobi.

Visitamos o laboratório do Dept. de Geografia da UoN, fizemos uma breve exposição sobre o PNCSA, que já era conhecido dos vinte estudantes de graduação, que trabalhavam naquele momento no laboratório, e eles fizeram pelo menos cinco perguntas sobre o trabalho de mapeamento social no Brasil. Nas paredes havia inúmeros mapas elaborados no âmbito do PNCSA, bem como fascículos sobre as mesas, evidenciando que nossos trabalhos tem sido apreciados por eles.

Figura 3: Exposição de Sheilla Dourado, do PNCSA, para pesquisadores e estudantes de Geografia da UoN

Buscamos esclarecer as distinções entre os significados de “tradicional”, ora vigentes no Brasil e no âmbito do PNCSA, e aqueles utilizados no Quenia (que não é signatário da Convenção 169/OIT), bem como entre aqueles concernentes a movimento social e a mediação. Do mesmo modo procedemos à distinção entre “cartografia social” tal como utilizada por empresas mineradoras e dos agronegócios, pelo Banco Mundial e o BID, e o significado de “nova cartografia social”, onde o “nova” significa uma leitura crítica do sentido oficioso de “cartografia social” e de “mapeamento participativo”, expressões que devem ser submetidas a uma análise conceitual e crítica, em virtude da banalização de seu uso na esfera do planejamento e da implantação de megaprojetos.

Nesta reunião ficaram definidas as condições de possibilidade de desdobramento indicam um Termo de Cooperação entre a UoN e as universidades brasileiras, abrangendo projeto que incluiria a KLA.

c) No dia 15 de maio viajamos para Nakuru e nos reunimos com a equipe do KLA na própria sede da entidade, visitando o minilaboratório e discutindo o seguinte:

i) o “first draft” do fascículo intitulado “Social Cartography – Kibwaga and Nguluku Villages. Social Narratives and Maps”, registrando unidades sociais afetadas pela mineradora “Base Titanium” e pela grande plantação de cana de açúcar da Kiscol (sugar cane plantation),

ii) o projeto de extração de óleo no norte do Quenia, cujo oleoduto afeta os Turkana e suas “terras comunitárias” (lands communities).

Figura 4: Exposição de Odenda na sede da KLA, em Nakuru.

À tarde fomos visitados por uma delegação do povo Endorois composta de 9 membros: Johana Karatu, Wilson Kikaze, Isachar KImunjos, Paul Chepsoi, Richard Kipruto e seu pai, Ivone (filha de J.Karatu) e dois outros membros cujos nomes não conseguimos registrar. A visita durou pouco mais de uma hora e os endorois adentraram a sala de reunião com o líder Karatu soprando um apito que o havíamos presenteado na viagem anterior, anunciando as boas vindas (eles falam a língua do povo endorois, que compreende cerca de 60 mil pessoas, e a comunicação através do apito substituía a fala do intérprete que traduzia o que dizia para o inglês). O presenteamos com um novo pio de inhambu, que o deixou radiante. Eles demandaram uma maior atenção para seu propósito de mapeamento social.

Figura 5: Antonio João, Alfredo Wagner e Richardo Kiprut no reencontro em Nakuru

Figura 6: Reunião da equipe do PNCSA com representantes do povo Endorois na sede da KLA em Nakuru.

Após a partida dos Endorois, retomamos a discussão do fascículo e do mapa de Kibwaga e Nguluku.

d) No dia 16 de maio viajamos para Kwale com a equipe do KLA. Fomos até Nairobi e daí de avião até Mombassa, seguindo depois por via rodoviária até Kwale. Retomamos a discussão do fascículo referido e refletimos sobre o significado da visita dos Endorois e sua demanda de procedermos ao mapeamento social de seu território.

e) No dia 17 de maio pela manhã viajamos para Nguluku. Uma viagem difícil pois com a chuva e os trabalhos de terraplenagem demoramos a acertar o caminho até a vila, sobretudo porque a paisagem encontra-se modificada, pela destruição das referencias e pelo desmatamento, dificultando aos próprios moradores encontrar os “caminhos” usuais de tráfego. Em Nguluku com 35 participantes das duas “villages” presentes foi discutido o “first draft” apresentado pelos próprios membros das duas unidades sociais mapeadas.

Figura 7: Oficina de discussão do “first draft” do fascículo em Nguluku com a presença de representantes de Kibgwaga

Procedemos a uma discussão mais detida dos materiais no lado externo do templo onde foi realizada a reunião. Alguns participantes sublinharam problemas na localização de ícones. Nos presentearam com um saco de laranjas e tratamos de registrar isto numa das fotos a seguir.

Figura 8: Exposição do mapa de Kibwaga

Figura 9: Sheilla e Antonio João recebendo das mãos da senhora que liderou os trabalhos de mapeamento social em Kibwaga um saco de laranjas.

No final do dia retomamos a discussão com os membros do KLA sobre a apresentação do “draft”, a partir de seis pontos, que constarão do relatório final.

f) No dia 18 de maio viajamos bem cedo num vôo de volta a Nairobi e nos reunimos na Fundação Ford, onde também almoçamos. Após a fala da KLA e da UoN, os membros do PNCSA procedemos à entrega dos 9 Reports elaborados durante a pesquisa, registrando todos os passos da investigação e pontuamos sobre desdobramentos a partir de uma experiência concreta de transferência de tecnologia no sentido sul/sul, chamando a atenção para o potencial da tecnologia social em jogo nesta ação de cooperação técnico-científica entre universidades e movimentos sociais.

Figura 10: Reunião no escritório da Fundação Ford com destaque para Margareth, a primeira sentada à esquerda, que coordenou os trabalhos de discussão dos resultados de pesquisa, encerrando praticamente os trabalhos do Projeto.

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