Aldevan Brazão Elias, indígena da etnia Baniwa, Agente de Endemia, da Fundação de Vigilância em Saúde Indígena, da Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas (SUSAM) teve nesse labor profissional da área de saúde aproximação com as questões mais gritantes da saúde coletiva, da saúde indígena, discriminação e estigmatização social em Manaus, cidade onde morreu no dia 18 de abril de 2020, contado entre as vítimas da pandemia de Codiv 19, na cidade de Manaus.
Aldevan Baniwa reconhecido como defensor da saúde indígena, atuou com perseverança para o tratamento dos doentes na Unidade Básica de Saúde (UBS) Major Sávio Belota, bairro Santa Etelvina, na zona norte de Manaus. Fez isso antes e neste tempo especial de aumento dos casos e do caos provocado pelo colapso dos hospitais, pela falta de testes, pela infraestrutura de saúde precária e ausência de condições para enfrentar a pandemia de Codiv 19. A narrativa do seu irmão André Brazão sobre as tentativas que fez Aldevan Baniwa para fazer o teste de Codiv 19 e para conseguir atendimento, oferecem clara ideia das dificuldades que se apresentam para aqueles que não sendo profissional da saúde desconhece os locais, as possibilidades de atendimento. Contudo, Aldevan Baniwa, a 7ª vitima, de acordo com MINUTO COIAB, teve como causa de morte registrada “insuficiência pulmonar aguda com suspeita de Covid-19”. Esse mesmo informativo menciona que os indígenas que moram na cidade ficam fora da contagem da FUNAI. Dias antes do seu falecimento tinha denunciado nas redes sociais as condições de trabalho dos profissionais, que como ele tiveram treinamento, em fevereiro 2020, realizado pela Secretaria de Saúde do Estado, sem contudo, contar com os equipamentos de proteção e as condições de receber os doentes, de separar os graves e os mortos, conforme informado em noticiários.
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) publicou em 2019, o livro “Brilhos na Floresta” publicação quadrilingue inglês, japonês, português e língua Nhangeetu. Nele Aldevan Baniwa é personagem central, autor, tradutor do português para a língua Nheengatu, em colaboração com Noemia Kazue Ishikawa, Takehide Ikeda, Aldevan Baniwa, Ana Carla Bruno e Hadna Abreu, que fez as ilustrações. Selecionamos duas ilustrações, na primeira Aldevan apresenta-se aos leitores; veste uma camisa com um peixe e a palavra Amazônia e sorri. Na segunda ilustração a camiseta que veste Aldevan está com a inscrição 100% Índio; encontra-se rodeado dos pesquisadores que se dedicam a ler e fotografar. Seguramente, ser escritor era o novo projeto de Aldevan Baniwa que era incansável em aprender e fazer.
Aldivan Baniwa era falante da língua Nheengatu e uma frase expressa seu modo de ser: Nhaã apyga puranga sicussá panhé myra tay run – em português significa – “aquele homem era bom com todas as pessoas”, como escreveu André Brazão. Nossas palavras de condolências e de profunda amizade a Ana Carla Bruno, nossa querida colega do PNCSA e da UFAM, as suas filhas, aos seus familiares e aos amigos que soube conquistar. Aldevan Baniwa será recordado sempre.