De 25 a 27 de novembro desse ano, realizou-se em Brasília o Seminário Nacional sobre Perspectivas no Mapeamento de Conflitos Agrários, promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar – MDA. O evento reuniu gestores, movimentos sociais, representantes de organizações representativas de povos e comunidades tradicionais e pesquisadores que atuam em diferentes iniciativas de mapeamento de processos de territorialização no Brasil. Entre as organizações presentes destacam-se o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP) e a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
A convite do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários, do MDA, o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) esteve representado no evento pelos pesquisadores Elielson Pereira da Silva, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e Vinicius Alves da Rosa, quilombola de Morro Alto, no Estado do Rio Grande do Sul, Doutor em Ciências da Religião, pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
Além da abertura oficial, em que foram delineados os objetivos do seminário, e da primeira mesa, dedicada a informar as ações governamentais referidas à mediação de conflitos agrários e territoriais, o primeiro dia contou com a valiosa partilha de experiências pelos movimentos sociais. Ayla Ferreira, do MST, declamou um poema de D. Pedro Casaldáliga e sublinhou os laços intrínsecos entre capitalismo a agronegócio, considerados por ela a raiz das brutais desigualdades sociais no campo brasileiro. Dona Maria Alaides, do MIQCB, destacou as diferentes configurações de acesso aos territórios e a diversidade étnica das quebradeiras, pontuando ainda as relações indissociáveis entre resistência territorial e sociobiodiversidade. Para a liderança, o governo deveria priorizar a regularização de territórios interétnicos, ampliando a perspectiva jurídica oficial sobre as categorias de identidade e suas territorialidades.
Na parte da manhã do segundo dia do evento, os pesquisadores do PNCSA participaram da mesa referente à partilha de experiências das diferentes perspectivas de mapeamento atualmente em curso, intitulada “As experiências de mapeamento de conflitos agrários e socioambientais no Brasil: métodos e análises”. Em sua apresentação, sob o título: “A Nova Cartografia Social da Amazônia: identidades coletivas, processos sociais de territorialização e politização de consciência das fronteiras”, Elielson Silva enfatizou os fundamentos que norteiam o fazer etnográfico da “nova cartografia social”, a noção de mapeamento social, as relações sociais de pesquisa com identidades coletivas objetivadas em movimentos sociais, a situacionalidade e pluralidade das descrições e dos processos sociais de territorialização e as insurgências de povos e comunidades tradicionais frente aos seus antagonistas. Esclareceu que a “nova cartografia social” não se constitui como metodologia, pois rompe com pretensões objetivistas, universais e essencialistas. Apresentou, por fim, as ações de pesquisa realizadas pelo PNCSA no Alto rio Acará, Pará, junto a indígenas e quilombolas de vários territórios. Por sua vez, Vinicius Alves descreveu as situações sociais de conflito envolvendo os quilombolas do Estado do Amazonas, particularmente nos territórios quilombolas Quilombo do Barranco de São Benedito, na cidade de Manaus, e o Quilombo Sagrado Coração de Jesus do Lago do Serpa, em Itacoatiara.
Neste sentido, ainda para fins de sublinhar as dimensões das relações conflituosas enfrentadas pelos quilombolas da comunidade Sagrado Coração de Jesus do Lago do Serpa, perante distintos antagonistas, as pesquisas científicas realizadas in loco, no referido território quilombola, constataram os conflitos relacionados a titulação fundiária deste quilombo, sendo que os membros da referida comunidade solicitaram a inclusão de quatro quilombolas no Programa de Proteção de Defensores dos direitos Humanos, devido ao acirramento dos ânimos, ameaças e episódios de violências.
Finalmente, o Seminário Nacional, realizado em Brasília, organizado pelo MDA, contou com a participação representativa dos Movimentos Sociais, pesquisadores, universidades, órgãos de Governo, com vistas as perspectivas no mapeamento dos conflitos agrários e socioambientais, cujas reflexões coletivas deverão convergir em políticas públicas direcionadas a mitigar as conflitividades relacionadas as chamadas comunidades tradicionais espalhadas por todo o território brasileiro.