Reunião – Projeto “Experiências Indígenas e Seringueiras no Entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor: alternativas para o desenvolvimento regional”
Entre os dias 22 e 25 de novembro de 2011, no Centro Yorenka Antame, Município de Marechal Thaumaturgo, região do Alto Juruá acreano, o Projeto “Experiências Indígenas e Seringueiras no Entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor: alternativas para o desenvolvimento regional” realizou uma reunião de encerramento de suas atividades. O “Projeto Funbio”, como ficou conhecido, foi executado entre 2008 e 2011 pela Comissão Pró-Índio do Acre, coordenado por Vera Olinda Sena (CPI) e Mariana Ciavatta Pantoja (Aflora/UFAC), com recursos do FUNBIO. Sua área de atuação compreendeu a Reserva Extrativista do Alto Juruá e a Terra Indígena Kaxinawá-Ashaninka do Rio Breu. O principal parceiro local nas atividades desenvolvidas ao longo dos três anos foi a Associação Apiwtxa (que também executou, neste mesmo intervalo, um outro projeto com recursos do Funbio), mas o Projeto Funbio também estabeleceu interlocução com a Asareaj (organização dos moradores da Reserva), com a Seaprof (estadual e municipal) e com o ICMBio (em Cruzeiro do Sul).
Entre os principais objetivos do Projeto Funbio estiveram a re-fundação de uma aliança entre indígenas e seringueiros na região (que já estiveram juntos na passagem dos anos 80-90) e a construção de uma articulação visando discutir estratégias e desafios de desenvolvimento. Para tal, as ações do Projeto Funbio voltaram-se para a implantação de experimentos agroecológicos, para atividades de monitoramento, supervisão técnica e de capacitação, e também intercâmbio entre as sete comunidades participantes da Reserva e as …(?) aldeias da Terra Indígena. Na Reserva, a cada dois meses o técnico local do Projeto – Antonio Caxixa, um morador reconhecido por seus conhecimentos e práticas agroflorestais – visitou as famílias envolvidas num trabalho de assistência técnica e educação ambiental. Na Terra Indígena, o Projeto interagiu com a dinâmica das atividades da CPI junto aos agentes agroflorestais indígenas, que são [as atividades] anteriores. Pelo menos duas oficinas de capacitação técnica foram realizadas, uma no Centro Yorenka Antame e outra em Rio Branco, no Centro de Formação dos Povos da Floresta (da CPI). Intercâmbios de moradores da Reserva visitando Terras Indígenas (rios Amônia e Breu) também foram realizados.
Na reunião de novembro passado, participaram cerca de 20 pessoas, a maior parte delas moradores da Reserva, além de Vera Olinda (CPI), Mariana Pantoja (UFAC e PNCSA[1]) e Amilton Mattos (PNCSA). Apesar de não ter tido participação dos agentes agroflorestais da TI do Breu (que estavam numa outra atividade), a reunião contou com a presença de Josias Maná, coordenador da AMAAIAC (Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre).
O objetivo principal da reunião foi encerrar formalmente as atividades do Projeto Funbio e discutir formas de dar continuidade ao trabalho já realizado. Foi consenso entre todos os presentes que o trabalho de incentivo aos experimentos agroflorestais deveria continuar, mesmo porque há uma demanda crescente dentro da Reserva para tal. O Plano de Manejo da Reserva, prestes a ser discutido pelo Conselho Deliberativo da unidade, também chama atenção para a importância de atividades como essas, que criam alternativas à expansão agropecuária que se verificou nos últimos dez anos na Reserva. A AMAAIAC afirmou a disposição da entidade em apoiar a continuidade das atividades e do intercâmbio entre indígenas e seringueiros. Durante a reunião foi possível realizar um diagnóstico sobre a situação atual da Reserva, e o tema do “desmatamento”, em especial aquele provocado para criação de gado, recebeu destaque. A expansão da atividade pecuária tem se verificado de diversas formas, inclusive por meio de uma espécie de sociedade na qual moradores da Reserva abrem pastos em suas propriedades para acolher gado de “fazendeiros” vizinhos. Os conflitos motivados por invasões de roçados e de “praias” por gado, além de abusos de poder por parte dos criadores maiores (“fazendeiros”) também foram relatados.
Durante toda a reunião confirmou-se algo que já estivera visível na reunião de avaliação do Projeto realizada em maio de 2010: o espírito de grupo, o sentimento de pertencimento, a noção de uma identidade comum unindo todos os presentes. Esta “união”, como foi definida, levou à decisão dos moradores da Reserva, no último dia da reunião, de criar o Grupo Agroflorestal Vida e Esperança, tendo como “madrinha” a AMAAIAC. Foram então debatidas e aprovadas estratégias e possibilidades de continuidade do trabalho feito nos últimos três anos. Diversas possibilidades foram elencadas, como a candidatura a editais voltados ao tema, interfaces com projetos da CPI e com o PNCSA. Este último estará, nos próximos três anos, desenvolvendo o projeto “Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais”. No Acre, o PNCSA envolve a parceria entre o Núcleo de Pesquisa em Antropologia e Florestas/Aflora-UFAC e a CPI, e a região do Alto Juruá está proposta como um dos locais para atividades de capacitação e oficinas de cartografia para elaboração de mapas e publicações.
[1] Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.