Nova Cartografia Social Da Amazônia

Relatório de Atividades Trimestral Outubro a Dezembro de 2011


MAPEAMENTO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO TERRITORIAL CONTRA O DESMATAMENTO E A DEVASTAÇÃO: Processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais
 
 
 
 
RELATÓRIO TRIMESTRAL
 (outubro, novembro e dezembro)
 
 
 
Plano de trabalho: Agroestratégias, reestruturação do mercado de terras  no Sudeste do Pará
 
 
 
Bolsista: Mayka Danielle Brito Amaral
 
 
 
Titulo do Plano: Movimentos do agronegócio, mercado de terras e mobilizações de assentados, quilombolas em municípios do nordeste e sudeste do Pará
 
 
Introdução
 
Este relatório destaca as atividades iniciais do presente projeto e plano de trabalho, que foram desenvolvidas no período de outubro, novembro e dezembro de 2011.
As atividades iniciais, desenvolvidas, estiveram ligadas ao planejamento e à criação de uma estrutura de grupo de trabalho e pesquisa, realizas através de reuniões de planejamentos e grupo de estudos, das quais serão destacadas algumas.
 
1. Participação nas reuniões de trabalho da equipe de pesquisa:
 
Durante esse primeiro trimestre de realização do presente projeto, fizemos (cinco) reuniões, respectivamente, nos dias 14 e 25 de novembro de 2011; e nos dias 06, 12 e 17 de dezembro de 2011, sendo que esta última foi realizada pela equipe específica do Sudeste Paraense. Além dessa reunião do dia 17, a equipe do Sudeste do Pará se reunião também no dia 07 de janeiro de 2012.
Nas reuniões do dia 14 e 25 de novembro de 2011, bem como a do dia 06 de dezembro desse mesmo ano, discutimos questões mais de estruturação do grupo de pesquisa, tais como: planos de trabalhos; bolsas; prestações de contas; relatórios; proposta do boletim “Guerra do Carvão”; proposta de estudos teórico-metodológicos; publicações; e a leitura do relatório de inauguração da sala da pesquisa no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA).
Na reunião do dia 12 de dezembro, discutimos mais profundamente sobre a realização do boletim “Guerra do Carvão”, que será elaborado a partir da reunião que será realizada no município de Imperatriz (MA), nos dias 11, 12 e 13 de janeiro de 2012. Além disso, fizemos um planejamento prévio das atividades a serem realizadas por cada grupo de trabalho.
Na reunião do dia 17 de dezembro de 2011, a equipe do Sudeste Paraense realizou um breve planejamento das atividades a serem realizadas nessa região, destacando a importância de fortalecer a participação dos movimentos sociais nas atividades. Também fizemos um levantamento do material que dispomos para socializar na reunião preparatória de Imperatriz (MA), dos quais destacamos: a monografia de especialização da pesquisadora Mayka Danielle Brito Amaral, intitulada de “O carvoejamento e a sua insustentabilidade em Rondon do Para”; a sua dissertação de mestrado “Monopolização do território e carvoejamento na Amazônia: a produção do carvão vegetal nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária e nas carvoeiras tradicionais de Rondon do Pará – PA”; eo fascículo dos “Carvoeiros de Rondon do Pará 22”, produzido a partir da oficina com os trabalhadores carvoeiros de Rondon do Pará.
Na reunião do dia 07 de janeiro de 2012, a equipe do Sudeste Paraense realizou uma reunião de estudo e trabalho, discutindo os pontos que serão apresentados na Reunião de Imperatriz.  Além disso, discutiu-se também sobre a elaboração do primeiro Relatório Trimestral.
2. Participação em eventos e apresentação de trabalho:
 
Participação no V Simpósio Internacional e VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, realizado em Belém (PA), no período de 07 a 11 de novembro de 2011[1]. Em que apresentei um artigo com título “A monopolização do território via carvoejamento na Amazônia Oriental brasileira: a produção do carvão vegetal em Rondon do Pará”, o qual podemos resumir da seguinte maneira:
“A atividade de carvoejamento teve início na Amazônia oriental brasileira, a partir da implantação de políticas públicas na década de 1980, quando se vislumbrava acelerar o desenvolvimento industrial dessa região. Isso ocorreu através da criação de projetos e programas voltados para a exploração do seu potencial mineral, por meio da criação de um corredor de exportação de bens de alto valor agregado (MONTEIRO, 1998). Dessa forma, podemos identificar, por exemplo, a criação do Programa Grande Carajás, que passou a estimular e coordenar o surgimento de diversas empresas, como as sídero-metalúrgicas, que seriam responsáveis por tal intento.
As indústrias siderúrgicas produzem ferro-gusa para a antiga Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale, e para a exportação. A sua implantação na Amazônia promoveu a dinamização de alguns municípios para produzirem o carvão vegetal, que representa o insumo energético básico para a produção do ferro-gusa. Isso aconteceu através de um processo de apropriação cada vez mais desumano e contrário as leis ambientais, no que diz respeito a utilização dos recursos naturais e humanos, e voltados para os interesses do grande capital na região. O que tem resultado em grandes metamorfoses sócio-territoriais, tanto em relação à alteração da cobertura vegetal, quanto no padrão de vida do trabalhador carvoeiro e, mais recente, do assentado.
Essas indústrias atuam na Amazônia oriental brasileira promovendo o processo definido por Oliveira (2004), como monopolização do território. Elas realizam esse processo através da criação de relações de subordinação de diversos sujeitos sociais para produzirem o carvão vegetal, que necessitam para produzir o ferro-gusa. Esses sujeitos sociais estão localizados nos municípios do sul e sudeste do estado do Pará, dos quais será analisado o caso do município de Rondon do Pará, localizado no sudeste paraense, na BR-222 a 450 km da capital do estado, Belém.
O estudo de Monteiro (1998) mostrou que esse município compõe o rol dos municípios que concentraram a produção do carvão vegetal a partir do resíduo de serrarias, em detrimento dos resíduos das fazendas. Segundo ele, isso acontecia por que havia um grande número de serrarias nesse município, facilitando a obtenção do resíduo. Entretanto, em virtude do intenso processo de remoção e, conseqüente, redução da sua biomassa vegetal, o setor madeireiro apresenta-se numa situação de crise, diminuindo drasticamente as suas atividades, o que contribuiu, concomitantemente, para a redução da produção do carvão vegetal a partir desse resíduo (VERISSÍMO et. all., 2006).
Atualmente, Rondon do Pará produz o carvão vegetal, principalmente, a partir do resíduo da mata, seja esta secundária ou primária, tanto como uma atividade complementar e secundária, quanto como uma atividade primária. No contexto dessa produção primária e/ou secundária podemos destacar o importante papel que os assentamentos rurais vêm apresentando na produção desse insumo. Até 2007, a produção era realizada de maneira mais intensa nas carvoeiras tradicionais, entendidas como as mais antigas e com a localização fora dos assentamentos e acampamentos rurais, as quais eram e continuam sendo implantadas em propriedades privadas, com a terra na condição de própria, alugada ou doada.
A partir do ano de 2008, a produção de carvão vegetal se intensifica nos assentamentos rurais desse município. Nesse contexto que muitos produtores de carvão vegetal deixaram de controlar a produção do insumo para controlar a sua circulação, passando a produção para os assentamentos e para outros produtores, todos subordinados às siderúrgicas, localizadas no município de Marabá. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo: analisar o processo de monopolização do território amazônico a partir do carvoejamento realizado no município de Rondon do Pará.
Para tanto, foi de fundamental importância a utilização de procedimentos metodológicos como: a) as entrevistas semi-estruturadas com os trabalhadores das carvoeiras e com os assentados rurais que produzem o carvão vegetal; b) o registro iconográfico, com intuito de mostrar a realidade vivenciada pelos trabalhadores nas carvoeiras, bem como, a dos assentamentos; e, c) o georeferenciamento de imagens, através do Sistema de Posicionamento Global – GPS, que foi utilizado durante as visitas às áreas rurais produtoras do insumo para fazer a sua localização e identificação.
Esses procedimentos permitiram o desvendamento da estratégia utilizada pelas indústrias siderúrgicas para a obtenção da sua matéria-prima básica para a produção do ferro-gusa, qual seja, a da monopolização do território via produção do carvão vegetal nas carvoeiras tradicionais ou nos assentamentos rurais.  Além disso, a pesquisa realizada permitiu compreender que o carvoejamento realizado nos assentamentos rurais é de fundamental importância para as indústrias siderúrgicas, pois a partir do ano de 2006, o Governo do Estado iniciou uma maior pressão ambiental sobre as mesmas, no sentido de estimulá-las a consumir um carvão vegetal de origem legalizada. Desse modo, como o INCRA libera a construção de até 4 fornos de carvão por assentado, com a justificativa de que é para o seu consumo próprio, a siderúrgica acaba se beneficiando com um carvão, supostamente, legal, o que contraria a realidade de fato, o será mostrado com maior profundidade ao longo do presente artigo.”
 
3.      Trabalhos escritos:
 
– Revisão e finalização da dissertação de Mestrado, cujo título é “MONOPOLIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E CARVOEJAMENTO NA AMAZÔNIA: a produção do carvão vegetal nos assentamentos e acampamentos de reforma agrária e nas carvoeiras tradicionais de Rondon do Pará (PA)”.
 
Resumo da Dissertação:
 
O presente trabalho versa sobre o processo de monopolização do território pelo capital, materializado nas indústrias siderúrgicas, a partir da atividade de carvoejamento realizada no município de Rondon do Pará, localizado no sudeste do estado do Pará, na Amazônia brasileira. As indústrias siderúrgicas constituem a materialização do capital, caracterizado como desigual, combinado e contraditório, que ao se implantarem na Amazônia promoveram uma relação de subordinação de diversos sujeitos sociais em diferentes municípios, para produzirem o carvão vegetal. Dentre esses municípios, este trabalho destaca a realidade de Rondon do Pará, que produz o carvão vegetal desde o início da produção da siderurgia na Amazônia. Dessa maneira, buscou-se caracterizar e analisar o processo de monopolização do território a partir da atividade de carvoejamento nesse município, onde se verificou que a produção do carvão vegetal tem sido realizada através de relações de produção capitalistas assalariadas, e de relações não-capitalistas camponesas de produção. Além de se produzir carvão da forma tradicional, por meio do reaproveitamento do resíduo de serraria e da pecuária, do desmatamento primário e secundário, essa atividade foi introduzida nos assentamentos e acampamentos rurais de reforma agrária, e tem substituído a produção de alimentos. Dessa forma, notou-se que a monopolização do território pelas indústrias siderúrgicas, a partir da atividade de carvoejamento, é realizada através da apropriação da renda camponesa da terra e da extração da mais-valia, tanto nas carvoeiras tradicionais quanto nas carvoeiras localizadas no interior dos assentamentos e acampamentos rurais de reforma agrária no município de Rondon do Pará.
 
Palavras-chave: Monopolização do território. Carvoejamento. Amazônia. Rondon do Pará. Assentamentos e acampamentos rurais. Carvoeiras tradicionais.
 
– Defesa da dissertação de Mestrado, em 01 de dezembro de 2011[2].
 
4. Trabalho no Plano da Pesquisa:
 
– Elaboração de dossiê sobre Carvoejamento no Sudeste do Pará para apresentar na Reunião Preparatória de Imperatriz (MA).
– Sistematização da apresentação sobre o carvoejamento no Sudeste do Pará, para apresentar na Reunião Preparatória de Imperatriz, que será realizada nos dias 19 e 20 de janeiro de 2012, com vista à produção do Boletim “Guerra do Carvão”. A apresentação será pautada em três pontos fundamentais:
1. O carvoejamento e sua insustentabilidade: a relação com o desmatamento;
2. A “nova” dinâmica do carvoejamento: a produção do carvão vegetal nos assentamentos e acampamentos rurais e nas carvoeiras tradicionais de Rondon do Pará;
3. Oficina de produção do fascículo dos carvoeiros de Rondon do Pará.
 
Considerações finais
 
Essas atividades consistem na etapa inicial do desenvolvimento do projeto “Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais”. Elas estão diretamente relacionadas com o objetivo de construir um rigoroso instrumento de ação, com um banco de dados de informações diversas sobre a região, tal como preconiza o projeto.


[1] A cópia do certificado está em anexo.

[2] Ata de defesa em anexo.

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