Durante o lançamento do Boletim Nº 9 Guerra do Dendê, realizadona comunidade São Bernardino, no dia 27 de julho de 2015, os participantes fizeram um balanço dos efeitos do cultivo do dendê pelas empresas Marborges, que está incrustrada dentro do território quilombola, e pela Biovale, nas adjacências. Esse balanço frisou ainda os impactos ambientais e sociais provocados pela infraestrutura (minerodutos e linha de transmissão) implantada por empreendimentos de mineração das empresas Vale S. A., Norsk Hydro Paragominas e Imerys Rio Capim Caulim.
Os quilombolas informaram que nas terras próximas da Marborges, os plantios de mandioca têm resultado um fracasso pela podridão das raizes, indicando que as roças não chegam ao ano. Também as melancias não crescem. Eles levaram esse problema para a Secretaria do Meio Ambiente – SEMAS, que realizou coletas e até o presente não deu a conhecer os resultados dos estudos de laboratório. A preocupação com a contaminação dos igarapés e do solo aumenta com o conhecimento que eles tem da contaminação por agrotóxicos (resíduos de DDT e Endossulfan) da água superficial e sedimentos de fundos próximas dos cultivos de Dendê em Bujaru e Concórdia do Pará.
Outra preocupação com a água é explicitada pela ferrugem que ela contém, fazendo com que a farinha de mandioca tenha cor roxa; eles atribuem esse efeito a possiveis infiltrações nos igarapés, da bauxita transportada pelo mineroduto. Além disso, constatam que o rio Jambuaçu não pode ser mais utilizados para tomar banho, pois as pessoas sofrem coceiras e irritação na pele. Essas questões estarão levando para o MPF na próxima audiência.
Nas falas dos presentes ampliaram-se as reclamações contra a mineradora Vale S. A – associada à Norsk Hydro – obrigada pela Justiça a pagar compensação às familias de Jambuaçu, todavia tem atrasado o pagamento de dois salários mininos, de forma que elas “não podem contar com esse dinheiro”. Todos consideram este atraso uma grande humilhação. De outro lado, relataram o tom de insistência de funcionários das empresas para os quilombolas “parar com os conflitos e ter um relacionamento melhor”.
No dia 17 de julho, a Imerys Rio Capim Caulim S. A – usuária dos minerodutos para transporte do caulim – fez um convite para pessoas da comunidade conhecerem a mina de caulim situada em Ipixuna do Pará, cuja cratera impressionou muito os quilombolas. A empresa não assumiu até o presente qualquer “responsabilidade social” para com os quilombolas. Nas últimas reuniões, a Imerys RCC foi presionada a realizar a reforma da Casa Familiar Rural, o que até agora não cumpriu. No lugar do material didático solicitado, teria entregue toalhas e lençois de má qualidade. Alegavam os funcionários, responsáveis pelo relacionamento com os quilombolas, limitações financeiras, pois a empresa “não tem dinheiro pela crise”. Explicação que é oposta a declaração do lucro liquido informado no Relatório Financeiro de 2014.
Os quilombolas analisaram que suas organizações políticas estão afetadas pelas intervenções externas, por parte das empresas e do governo municipal que buscam produzir a desmobilização e divisão interna.