Na sede do MIQCB localizado na Vila Santa Rita reuniram-se as Quebradeiras de Coco babaçu para dar continuidade às oficinas de mapas propostas ao “Projeto Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação: Processos de Capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais”. Precisamente, as atividades se desenvolveram debaixo de uma aprazível mangueira, e próximo ao barracão onde se prepararam as refeições.
Diversas práticas culturais das quebradeiras de coco pontuaram a oficina.Iniciaram com a culinária. As iguarias originais feitas do coco babaçu – bolo, pudim, biscoitos e cocadas (mole e dura) – servidas na merenda. Também foram trocadas as receitas. Sobraram os comentários elogiosos. Nesse momento surgiu a ideia de oficinas de preparação de alimentos com base no coco (para ato de lançamento do fascículo), e de inserir nele algumas das receitas.
Culinária das quebradeiras de coco babaçu fez as delícias da Oficina
A roda de apresentações de participantes dos quatro municípios – São Domingos do Araguaia, Brejo do Araguaia, São João e Palestina do Pará – foi seguida de uma animada cantoria “puxada” por dona Maria Romana e dona Iracema. Cantos, dança, aplausos sinalizaram a solidariedade e envolvimento das quebradeiras, como suas práticas intrínsecas de fazer a vida e a política.
O Mapa (preliminar) das Quebradeiras do Sudeste do Pará foi estudado, comentado e ampliado por elas com as descrições sobre as ameaças e a destruição dos babaçuais. Sobre os sistemas de trabalho em que estão inseridas comentaram a regra estabelecida pelos administradores de carvoeiras e de cerâmicas, que “usufruem da casca” mulheres que fazem a quebra do coco não recebem pagamento por esse serviço. Este se caracterizaria como “trabalho de meia” no qual elas ficam com as amêndoas. O grupo entende que isso é “prejuízo no tempo da quebradeira” e os grandes beneficiados são os que recebem a casca, que assim passam por acatar a determinação que proíbe a queima do coco inteiro.
Mesmo os fazendeiros que dizem “não se importar que as quebradeiras tirem o coco” tem sido também os primeiros a destruir os palmeirais. As florestas de babaçuais têm sido sistematicamente derrubadas, queimadas, envenenadas e, no seu lugar, se identificam agora os “chapadões”. Em diversos lugares observa-se apenas a “reboleira de babaçu”, pequenas ilhas formadas pelas palmeiras, que funciona como bastões de resistência aos desmatamentos.
A colheita de babaçu e os cuidados com a reprodução permitem a formação de babaçuais com uma densidade adequada para crescimento e frutificação. Diferentemente do “babaçu fechado” com muitas palmeiras próximas, e pouca “produção”. O “babaçu raleado” também é uma forma de manejo que visa desbastar as árvores com garantia da produção. Um babaçual “mais que raleado” já consiste num processo de devastação, o que ocorre muitas vezes detrás da justificativa de raleamento feito por ditos proprietários.
Os conhecimentos sobre as florestas de babaçu incluíram a descrição sobre a ocorrência de fauna (cutia, veado, tatu), que desaparece com os desmatamentos, queimada, e ações de envenenamento. Sobre esta última questão houve depoimentos sobre o frequente envenenamento das pindobas e o perigo que representam os usos de herbicidas para as famílias das quebradeiras.
Nesta Oficina foram elaborados croquis e detalhamento das legendas. Igualmente registraram-se algumas entrevistas, entre elas uma com o Sr. Manoel Bispo, quebrador de coco, fotógrafo e dirigente sindical. Em 1973 ele registrou na sua máquina uma operação do Exercito, o que lhe valeu interrogatórios.
No dia 19 de junho, retomaram-se as atividades na Palestina do Pará com o reconhecimento e georreferenciamento de chapadões e áreas de babaçu raleado. Cumpriu-se o objetivo de georreferenciar o PA Castanheira, Vila São Raimundo, Vila Nazaré e outros registros em Santa Rita
Encontros, Reuniões, Oficinas de mapa, acompanhamento de audiência pública e visitas de campo com as quebradeiras de coco babaçu foram realizados em Marabá (setembro, 2012); São Domingos do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia e Palestina do Pará (maio, 2013), São Domingos do Araguaia (junho, 2013), Brejo Grande do Araguaia e Palestina do Pará (junho, 2013).
As quebradeiras de coco babaçu do Sudeste do Pará destacam na sua mobilização uma política identitária e de reconhecimentos de direitos de usufruto do valioso recurso que é o babaçu, valorizado e preservado por estas trabalhadoras.
A equipe de pesquisadores agradece o apoio do MIQCB na organização e infraestrutura (hospedagem, espaço de reunião) assim como a ajuda para o transporte (Van) do grupo, gentilmente disponibilizado pela coordenação do Campus da Universidade Federal do Pará.