A equipe do Laboratório do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia /UFPI, realizou nos dias 16 a 18 de maio de 2019, na Comunidade Barra do Corretim, zona rural de Bom Jesus, a cartografia social do território dos indígenas Gamela, localizados nos municípios de Bom Jesus (Barra do Correntim), Baixa Grande do Ribeiro (Morro D’Água), Currais (Pirajá e Prata) e Santa Filomena (Vão do Vico/Sete Lagoas). Situado na área de abrangência do MATOPIBA, que corresponde ao Cerrado piauiense, este povo está sendo severamente impactado pelo agronegócio. Os membros desta coletividade estão vivendo um intenso conflito, devido à postura que adotam em defesa do seu território e contra a devastação ocasionada pela agricultura empresarial.
Uma delegação constituída de sete Akroá-Gamella veio do Maranhão para prestar solidariedade e apoiar o mapeamento social do território dos parentes do Piauí. Esse reencontro constituiu um momento de muita emoção, pois representou a concretização de um sonho eles desejavam concretizar há alguns anos.
Todo dia nós pensávamos no nosso coração que a gente tinha de vir aqui. Que a gente tinha que vir aqui por que essas raízes velhas nossas estão aqui. E a gente vem pra beber nessa raiz, uma energia que em tempos tão difíceis, nunca foram fáceis pra gente, a gente continua tendo a coragem de dizer que nós somos aquilo que eles quiseram apagar. Eles não apagaram! Nós nos reencontramos depois de 300 anos, depois desta dispersão, dessa perseguição por causa do gado e da fazenda que foi chegando e expulsando, Mas a gente sempre esteve ligado. Eu sentia essa energia que está lá e que está aqui também. Essa energia está no nosso coração, está aqui e está lá. Estamos fazendo o reencontro de uma separação que nunca houve. A gente nunca se separou. Sempre estivemos unidos por essa energia dessa raiz velha, antiga, mas que brotou e vai continuar brotando. Se nós estamos aqui hoje é pra continuar uma luta que fala de garantir o direito da nossa existência (Kum’tum Akroá-Gamela).
Além dos indígenas das referidas comunidades, vieram pessoas do assentamento Salto, Rio Preto e Melancias. Atualmente, nestes locais, vivem indígenas que lutam pela terra ao lado dos trabalhadores rurais.
Visando à integração ao movimento indígena no Sul do Piauí, participou um casal de indígenas do povoado Sangue, localizado em Uruçuí. Da rede de parcerias construída pelos Gamela, compareceu Henrique Manoel da Silva – cacique dos Tabajara Tapuio de Lagoa de São Francisco e coordenador da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo (APOINME) no Piauí; Maria das Mercês Alves de Sousa – Comissão Pastoral da Terra (CPT); Benoni Moreira – Defensoria Pública da União (DPU) e Gilderlan Rodrigues – Coordenador do Conselho Indígena Missionário (CIMI).
A cartografia social foi constituída de minicurso Noções de Cartografia e Uso de GPS, ministrado por Tomas Palliolo Pacheco de Oliveira, e oficina de produção do mapa, coordenada por Carmen Lúcia Silva Lima e Raimundo Nonato Ferreira do Nascimento. Todo o trabalho contou com a colaboração das bolsistas Cristhyan Kaline Soares da Silva (PIBIC/UFPI/PNCSA) e Milena Rabelo (CLUA/PNCSA). Após a definição das situações que constituirão o mapa, foi realizada um mutirão para a produção das legendas e a organização das equipes que realizará a coleta dos pontos de gps do território.
Todo o evento, que contou com noventa e oito participantes, foi permeado de relatos sobre a cultura, identidade, luta pelo território e os conflitos com os fazendeiros. Esta atividade faz parte das ações do Projeto Estratégias de Desenvolvimento, Mineração e Desigualdades: Cartografia social dos conflitos que atingem povos e comunidades tradicionais na Amazônia e no Cerrado.