O Campus Universitário de Abaetetuba, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Baixo Tocantins recebeu a visita dos pesquisadores Michaela Meurer e Stefan Schoppengerd, na manhã do dia 10 de outubro de 2023. Na ocasião, a Dra. Michaela Meurer, vinculada ao Departamento de Antropologia Social e Cultural da Universidade de Marburg (Philipps-Universität Marburg), Alemanha, realizou a roda de conversa “Iniciativas climáticas locais”, no auditório central do Campus.
A roda de conversa teve a participação de estudantes dos cursos de Engenharia e Pedagogia e do mestrado em Cidades, Territórios e Identidades (PPGCITI), bem como de professores, técnicos e da coordenação do Campus que recepcionou os professores. Michaela Meurer destacou a importância da cooperação, sendo este um dos motivos de sua vinda ao Campus de Abaetetuba. O Acordo de Cooperação Acadêmica entre a UFPA e a Universidade de Marburg objetiva estabelecer e desenvolver relações de cooperação internacional entre ambas as Instituições através da colaboração acadêmica, científica e cultural.
Como parte da primeira atividade no acordo de cooperação encontra-se em andamento a pesquisa do subprojeto da Rede Interdisciplinar Impactos Sociais das Alterações Climáticas e Inovação de Sustentabilidade na África Austral e no Norte da América do Sul (NISANSA), financiado pelo Ministério Federal de Educação e Pesquisa na Alemanha (Bundesministerium für Bildung und Forschung–BMBF). No Pará, está sendo realizada conjuntamente pelas pesquisadoras Eliana Teles (PPGCITI) e Rosa Acevedo Marín (NAEA) que depositam confiança que o Acordo trará proveitosas contribuições aos estudos sobre mudanças climáticas na área de Ciências Humanas e Sociais e outras áreas correlatas da UFPA, estimulando o conhecimento com abordagens e inovações locais.
Ainda no Campus, os pesquisadores de Marburg estiveram no Laboratório de Cartografia Social no Campus. Na ocasião, a pesquisadora Eliana Teles fez a entrega de boletins realizados pelo PNCSA no Baixo Tocantins, os quais tratam da luta empenhada pelos movimentos sociais da região, afetados por grandes empreendimentos de logística portuária. O material entregue fará parte do acervo do departamento de Antropologia da Universidade de Marburg.
A equipe viajou ao rio Cardoso no município de Limoeiro do Ajuru no dia 11/10. Lá a equipe teve bela e calorosa recepção, por parte dos pescadores, agricultores e de professores e alunos da Escola Municipal João Pantoja Gonçalves, que realizaram diversas atividades. Na ocasião, mostraram o resultado dos trabalhos que a escola e os comunitários tem realizado e as estratégias de preservação de um extenso berçário de peixes, localizado na baía do Marapatá, foz do rio Tocantins, o qual pescadoras e pescadores intentam proteger por meio de quatorze (14) acordos de pesca.
Atualmente, a comunidade vive sob tensão, desde que as notícias sobre a derrocagem do Pedral do Lourenço no rio Tocantins, começaram a surgir na mídia local e nacional. Em sua fala, o senhor Daniel destacou:
“A gente já passou com a barragem, como dizia o papai com a Mucuóca, que fizeram e agora a hidrovia. Vocês viram que tá passando no jornal daí do Amazonas? Quem é o culpado? É os grandes que depende do capital. Quanto mais ele tem mais quer, ele não tá sabendo se vive pobre, indígena, pescador, ele quer saber dele. Daí coitado, as consequências é o ser humano cavando pra chegar numa água melhor pra tomar. E a mesma coisa nós, né? Que Deus livre acontecer a hidrovia aqui, vai acontecer a mesma coisa. Porque vão abrir aqui e essa água vai pra cá e adonde vai ficar água pra nós aqui? E pra donde é que eles vão jogar essa terra, se não for pra beira? Vai acabar peixe, vai acabar pescador, porque não vai ter mais seguro defeso, não vai ter pescador na colônia, porque não vai ter mais peixe. Como falei ontem com o pessoal, ‘tá na nossa mão nós somos a maioria, se você vai lá para defender o que é seu, depois que esteja feito, depois que eles começarem a passar com a riqueza na frente da sua casa, vem a pobreza por trás’. Você não vai ter peixe pra pegar, não vai ter camarão, condição de fazer a sua lavoura, o que vai acontecer? Eles vão fazer isso que é pra cada pessoa que tem terra vai vender pra se deslocar pra outra parte. Se for pra cidade, lá ele vai acabar o dinheiro dele, depois, vai acabar virando mendigo, porque não vai ter o que sobreviver, que muitas vez a pessoa que não tem estudo não adianta ir pra uma cidade.” (Daniel Pastana, pescador)
O LABCARTS- Laboratório de Cartografia Social do Baixo Tocantins funciona no Campus de Abaetetuba da Universidade Federal do Pará desde 2017 e nesses seis anos desenvolve atividades de pesquisas, de produção e de divulgação de situações sociais concretas dos povos e comunidades tradicionais da região do Baixo Tocantins.