Nova Cartografia Social Da Amazônia

Pesquisa de Campo no corredor Carajás, sudeste do Pará, é realizada pelo curso de Educação do Campo da UNIFESSPA e equipe do PPGCSPA-UEMA


Entre os dias 7 e 11de agosto foi realizado a Viagem de Pesquisa de Campo com foco temático “Dinâmicas Territoriais na Fronteira” no sudeste do Pará. A mesma constitui parte do Seminário Sociedade, Estado, Movimentos Sociais e Questão Agrária, componente curricular do curso de licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). As atividades de pesquisa no percurso entre Marabá-Canaã dos Carajás foi realizada com a participação de professores da Unifesspa e do Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia – PPGCSPA-UEMA.

Articulação estreitada a partir do Grupo de Pesquisa e Laboratório de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará e pesquisadores da Nova Cartografia Social junto com o professor Alfredo Wagner Berno de Almeida, coordenador da Nova Cartografia Social da Amazônia, que esteve em Marabá em junho de 2017, onde reuniu com professores da Faculdade de Educação do Campo, Geografia, Ciências Sociais e História e alunos e ex-alunos da UNIFESSPA e agentes sociais. Assim mesmo, a partir de conversa tecidas com os professores para a organização da equipe e atividade em campo.

Alunos e professores na Unifesspa, antes da saída para a Viagem de Pesquisa de Campo

Na sua proposta esta Viagem de Pesquisa de Campo constitui uma experiência pedagógico-científica do processo formativo do curso de Educação do Campo e com vista à interação dos educandos e educadores com realidades localizadas e situações do contexto social da região. Quanto ao propósito de articulação às pesquisas de interesse da nova cartografia social a mesma é feita com interesse de conhecer as ações dos grandes projetos e impactos socioambientais no corredor da mineração de Carajás no Pará, e para análise de situações localizadas do Brasil, Quênia e Moçambique.

Antecedendo a Viagem de pesquisa de Campo ocorreu a primeira parte do Seminário Sociedade, Estado, Movimentos Sociais e Questão Agrária, realizada de 03 a 7 de julho de 2017, no auditório do Campus I da Unifesspa – Marabá. A mesma contou com palestrantes representantes de entidades e agentes sociais constituídos em movimentos (indígenas, quebradeiras de coco babaçu, pequenos agricultores, Assentados e Sem-Terra) que contribuíram com relatos e debates sobre experiências contexto da região Sudeste do Pará.

Representante indígena, quebradeira de coco babaçu e assentada, no Seminário na UNIFESSPA

Professores e pesquisadores também somaram a discussão a partir de temas de pesquisas e debates a respeito da conjuntura política; da educação do campo; saberes, diversidade sociocultural e territórios tradicionais; mulher e gênero; agricultura e resistência camponesa. Além, de abordagens sobre Estado, grandes projetos, conflitos agrários e lutas sociais. A atividade ainda contou com lançamentos de livros e relatórios. Entre os quais a atividade no tema “Violência no Campo” com o lançamento do “Relatório da Violência Contra Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos no Brasil, 2016”, o “site do Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos e Caderno de Conflitos Agrários da CPT 2016”, realizado pelo comitê constituído pela “Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, Terra de Direitos, Justiça Global, CIMI e CPT”. Um ato marcado pela denuncia dos conflitos no campo e relatos sobre o acompanhamento de observadores sobre o massacre de trabalhadores rurais ocorrido em Pau D’Arco, no Sul do Pará.

Lançamento de livros e relatórios por pesquisadores e representante de entidade no Seminário na UNIFESSPA

Na segunda parte do Seminário, antecedendo a Viagem de Pesquisa de Campo, no tema “Dinâmicas Territoriais na Fronteira”, os discentes das duas turmas 2017 do curso de Educação do Campo realizaram atividade partilhando leituras e debates nos temas e questões apontadas para os roteiros da viagem. E, aspectos teórico-metodológicos que contribuíssem na reflexão e levantamento de dados da pesquisa. A atividade de pesquisa contemplou os seguintes roteiros: 1) Marabá-Xambioá e; 2) Marabá-Canaã dos Carajás.

Na pesquisa de campo realizada no percurso Marabá-Canaã dos Carajás participaram 26 discentes do curso de Educação do Campo, oriundos de vilas, assentamentos, acampamentos e comunidades rurais da região sudeste do Pará. E integraram a equipe, por parte da UNIFESSPA para articulação dessa atividade, o professor Rogerio Rêgo Miranda da Faculdade de geografia e a professora Rita de Cássia Pereira da Costa e Marcelo Melo e Cristiane Vieira da Cunha e, as atividades em campo, Marcos Guilherme Moura Silva e Carlos Alberto Gaia Assunção, da Faculdade de Educação do Campo – FECAMPO. Por esta faculdade participaram ainda da organização do Seminário os professores Amintas Júnior, Margarida Negreiros Alves e Rodrigo Muniz. Estes últimos também executando o roteiro de pesquisa que realizado entre Marabá–Xambioá, no Tocantins. A equipe de viagem Marabá-Canaã dos Carajás foi composta ainda pelos professores do PPGCSPA-UEMA, Emmanuel de Almeida Farias Júnior e Sheila Borges Dourado, ambos desenvolvendo projetos de pesquisa sobre impactos dos grandes projetos. E por Anna Carolinna da Silveira Frazão, aluna de Ciências Sociais e bolsista de iniciação científica (UEMA).

Grupo de estudantes, professores e garimpeiro em atividade de campo em Serra Pelada

A pesquisa realizada entre os dias 7 e 12 de agosto de 2017 incluiu visita ao Distrito Industrial de Marabá; ao Instituto Federal do Pará – Campus Rural de Marabá, situado no Assentamento 26 de Março e; outras instituições de ensino de diferentes níveis e modalidades. Igualmente, Serra Pelada; Acampamentos de trabalhadores rurais; Assentamentos da reforma agrária; sedes de sindicatos e cooperativas de trabalhadores rurais e garimpeiros. Além de locais de instalação da empresa transnacional Vale no Pará e; a Serra de Carajás, incluindo área de operação mineral e áreas de unidades de conservação do mosaico de Carajás, como a APA do Igarapé Gelado.

Cava da mina de ferro, Serra dos Carajás.

Área de campos e de transição, Serra dos Carajás

A Viagem de Campo entre Marabá- Canaã dos Carajás foi orientada entender a dinâmica das relações: Estado, experiências sociais e a mineração no Sudeste do Pará. Com o itinerário pelos municípios de Marabá, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Parauapebas e Canaã dos Carajás. O que permitiu estabelecer um olhar para as atividades e ações de garimpeiros, pequenos agricultores, acampados e assentados da reforma agrária. Conhecer experiências formativas e concepções pedagógicas que norteiam práticas educacionais e agroecológicas na região. Bem como, para as relações destes mediante a atuação do Estado e, conjugadamente, de grandes empresas multinacionais da mineração. E também a respeito das lutas e formas de organização social, como observado ao longo dos seis dias de viagem em um trecho do chamado Corredor Carajás.

Equipe de pesquisa e representantes de escolas e do Assentamento Palmares II

Na Curva S, lugar da memória e de ações de resistência de trabalhadores rurais, o grupo fez uma visita ao monumento, erguido de castanheiras, em homenagem aos 19 mortos em 17 de Abril de 1996, em Eldorado dos Carajás. E pode conhecer a Casa de Memória construída coletivamente para abrigar painéis, objetos de místicas e fotografias que retratam massacres a trabalhadores rurais e assassinatos de lideranças e ativistas da reforma agrária. Os relatos e informações sobre o massacre de Eldorado são marcados por discordância e denuncia em contestação do número oficial de 19 vítimas, informando sobre mais desaparecimentos por essa ocasião do dito massacre.

Curva do S, monumento em memória dos 19 mortos de Eldorado dos Carajás

Curva do S, painel na Casa da memória de vítimas da violência no campo

Entre outros lugares, na Serra Pelada – município de Curionópolis – foi possível conhecer sobre a descoberta do garimpo nos anos 1980, bem como, as atividades e questões políticas em torno do controle de lavra e, da existência de processos organizativos atuais por parte dos garimpeiros. O relato de Etevaldo é marcado por narrativa da vida pessoal e coletiva que informa acerca de processos políticos e de resistência frente à interesses políticos e empresarias em torno de Serra Pelada. Luta marcada por violência e silêncio, como conta a respeito do denominado “massacre da ponte do rio Tocantins”, quando nos anos 1980 garimpeiros que foram a Marabá reivindicar a abertura do garimpo.

Garimpeiro Etevaldo, em apresentação em campo das situações e espaços de Serra Pelada

O garimpeiro Mirailton Rodrigues Dias, conhecido por Mirim, narrou sobre a história e situações vivenciadas em Serra Pelada. E assinalou que os alunos e pesquisadores têm um papel e competência de influir no futuro, de maneira a instalo a contribuir para o conhecimento da história do lugar. Para Mirim a história de Serra Pelada precisa ser contada, precisa ser conhecida de maneira que ainda não foi contada e incluída nos livros escolares. Sua narrativa de fato se mostra singular, entre outras, nesse contar da história de Serra Pelada.

Entrevista com Mirim, garimpeiro de Serra Pelada, na pesquisa de campo

As situações observadas entre os Acampados, de Canaã dos Carajás, entre outras foram bastante significativas para compreender os processos sociais e experiências no contexto da região, em face das questões socioambientais, conflitos e questões políticas nessa região do corredor da mineração no Pará.

Roda de conversa e apresentação dos Acampados de Canaã dos Carajás

No conjunto das situações observadas em campo a Viagem de Pesquisa de Campo propiciou a realização de observações, entrevistas e roda de conversas realizadas com diferentes interlocutores e agentes sociais, com os quais foi iniciada a construção de relações de pesquisa para a execução de atividades de cartografia social no Corredor Carajás.
Contribuíram e agradecemos o apoio à atividade em campo aos membros do CEPASP de Marabá, Sindicato de Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás, IALA, entidades, professores e lideranças dos lacais visitados no percurso da viagem.

Rita de Cássia Pereira da Costa (FECAMPO/UNIFESSPA/PNCSA)
Sheila Borges Dourado (PPGCSPA/UEMA)

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