Lideranças indígenas apresentam o croqui das suas relações com os recursos naturais e as ameaças de desmatamentos e devastação. Oficina de mapas, no Rio Cuieiras, 23 de junho de 2013.
A oficina de mapas situacionais foi realizada nos dia 21, 22 e 23 de junho, na escola de Educação Indígena Kambeba, na comunidade Três Unidos, com participação de 36 pessoas, representantes das comunidades Terra Preta, São Thomé, Três Unidos, aldeia Kuana/Nova Canaã, Nova Esperança. No primeiro dia, as atividades aconteceram durante a tarde, inicialmente com apresentação dos representantes das comunidades e com a apresentação da equipe de pesquisadores, Glademir Sales dos Santos, Elieyd Sousa de Menezes, Carolina Pinto da Silva e Helen Catarina.
A equipe propôs uma programação, que, antes, foi criada com a participação de Raimundo Cruz, liderança Kambeba. A proposta de atividade foi discutida e ponderada, especificamente na questão do horário da noite de sexta-feira, visto que há participante que estudam à noite, de forma que as atividades foram até o final da tarde. Os pesquisadores apresentaram os aspectos importantes de uma oficina de mapas, a estrutura e a elaboração do fascículo, o treinamento do uso do aparelho de GPS e a construção coletiva do mapa situacional.
O acompanhamento das atividades entre os pesquisadores ficou organizado da seguinte forma: as antropólogas Elieyd e Helen ficaram com a atividade de registro dos depoimentos, o pesquisador Glademir ficou com a parte de acompanhamento dos trabalhos em grupo, a geógrafa Carolina ficou com o treinamento do uso do aparelho de GPS. Essa ordem foi flexível durante o transcorrer das atividades, com ajuda mútua dentro do processo de discussão e de ações dos agentes sociais.
Os aspectos integrantes da oficina de mapas foram os depoimentos de lideranças, as instruções cartográficas com a parte prática do uso do GPS, a confecção dos croquis, o registro fotográfico, relacionados fundamentalmente com os assuntos escolhidos pelos agentes sociais, que são: demarcação de terras tradicionais pelas sete comunidades, história de vida, comercialização ilegal, caça, pesca, desmatamento, extração de areia, conservação; este item foi subdividido em saúde, educação, cultura, lazer. Este conjunto de temas forma a base de discussão, que foi realizada durante toda a oficina, que comporá a estrutura do fascículo.
As discussões e os depoimentos dão conta de um perfil da vida das comunidades indígenas, ameaçadas pela extração de areia, pesca predatória e caça de quelônio, no Alto rio Cuieiras. Adicionam-se a esses problemas relatos que mostram alguns sinais de uso de drogas por pessoas não indígenas, colocando em risco a vida dos adolescentes e jovens. Estas pessoas entram no leito do rio Cuieiras, nos igarapés e lagos, adjacentes às comunidades, para praticar comercialização ilegal de pesca em grande quantidade de peixes. Os sujeitos dessa prática estão associados a outras pessoas, que representam as madeireiras, instituições governamentais e até mesmo àquelas ligadas a práticas de turismo. A prática de extração de madeira, de areia e a entrada de drogas e bebidas constituem ameaça à vida das comunidades indígenas e à vida desses grandes e pequenos corredores de água, de forma que tais atitudes foram caracterizadas pelos participantes da oficina como desrespeito às culturas dos povos indígenas.
Nos igarapés e lagos, vizinhas às comunidades indígenas São Thomé e Terra Preta, as lideranças afirmaram que há captura e ou morte de aves, como arara, papagaio, pato, maguari, marreco e outras espécies, além de caça aos animais, sobretudo na região de Anavilhana, da qual essas comunidades fazem parte, junto com a Três Unidos, lugar em que também, há extração de madeira.
Por outro lado, as comunidades acentuaram suas relações com os recursos naturais. Descreveram as sementes, fibras, cipós e madeiras, lugares onde coletam e extraem, bem como a época do ano. Na descrição apenas de uma das comunidades indígenas, sobressaem conjuntos de recursos naturais, com os quais dão significados às relações com as territorialidades especificas. Sementes: tento, tento de rama, semente de seringa, fruta do arapari, olho de boto, caroço de tucumã, caroço de açaí verde/Pará, olho e curupira, caroço da bacaba, caroço de patoá, paxiuba, jarina, jauari, lágrima de nossa senhora, miçanguinha, jatobá, ingarana, açaí preto do Pará, açaí chumbinho, açaí comum, tucumaí, tucumã arara, semente da tulía, castanha nonegrense, inajá; fibras de tucum, tucumã, inajá, casca de tururi; cipó ambé, cipó titica, cipó arumã. Madeiras para artesanato: molongó, azimbre, âmago de abiuarana, pau-brasil, roxinho, taboca, taboquinha, bambu. Tintas do urucum, jenipapo, caju, carvão, casca do murici.
Um dos assuntos discutidos por todos participantes foi a demarcação das terras da área do Rio Cuieiras. Os depoimentos apresentam os motivos pelos quais as comunidades querem a demarcação de terra contínua, uma área que corresponde à extensão que vai das comunidades São Thomé e Terra Preta até a comunidade de Barreirinha.
No dia 24 de junho, na segunda-feira, após a oficina, tivemos a grata satisfação de receber no Projeto Mapeamento Social como instrumento de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação/PNCAA-UEA, no sexto andar do edifício Samuel Benchimol, na Escola de Arte e Turismo, o professor bilíngue e acadêmico da Universidade do Estado do Amazonas, Raimundo Cruz, do povo Kambeba, liderança da Comunidade Três Unidos, do Rio Cuieiras. Seu objetivo foi conhecer o do referido Projeto, com as equipes de acompanhamento das oficinas de mapas.
Raimundo Cruz, do povo Kambeba, Comunidade Três Unidos, Rio Cuieiras, Baixo Rio Negro, Manaus-AM, 24 de junho de 2013.