A Associação de Remanescentes de Quilombos, Comunitários e Extrativistas do Rio Mutuacá e seus afluentes – ARQUIRMA confirmou as datas para novas atividades do “Projeto Mapeamento Social como de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação: Processos de Capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais” para o período de 14 a 19 de agosto de 2013. Na programação foram inseridas: oficina de complementação de mapas, dois Cursos de Noções Básicas de GPS, georreferenciamento do território, entrevistas gravadas e filmadas.
A revisão e complementação de mapas antecedeu às oficinas de GPS, observando-se tanto o aspecto de situacionalidade do mapa como o processo de construção. Essa leitura foi possível mediante a exposição aos participantes do primeiro mapa oficial exibido, os vários croquis de três oficinas anteriores: Portel, (setembro 2012, Três Bocas e São Jose da Povoação (abril 2013), e a penúltima em Curralinho (1 -5 de junho 2013). O novo mapa é uma aproximação que deverá ser completada com os “pontos de GPS”.
Professores, Estudantes e quilombolas reúnem-se para assistir a exposição do Projeto de Pesquisa. Na sala ficaram exibidos os mapas e o croqui já produzido pelos quilombolas e extrativistas do rio Mutuacá.
Seguido ao momento de apresentação da pesquisa, os estudantes foram convidados a elaborar redações, croquis ou outra forma de representação das questões em estudo no projeto, dentre os quais se destacasse o tema e os problemas advindos do “desmatamento”. Os trabalhos seriam objeto de premiação e se fez a proposta de impressão.
No planejamento de atividades ministraram-se dois Cursos de Noções Básicas de GPS. O processo de organização do primeiro curso de GPS contou com a colaboração dos professores Salomão Ferreira Assunção e Morisalbert de Carvalho – diretor e vice-diretor, respectivamente, da E.M.E Fundamental Remanescente de Quilombo São Jose da Povoação. Na escola foi disponibilizada uma sala para as atividades dos dias 15 a 18 de agosto.
Na seção prática do curso, o instrutor José Ferreira Rocha dá orientação aos participantes.
Entre os professores, estudantes e membros da ARQUIRMA formou-se um grupo de 36 alunos do Curso de Noções Básicas ministrado por José Ferreira da Rocha, Geógrafo, Mestrando do Programa de Pós Graduação do NUMA-UFPA e Técnico do IDESP e por Eliana Teles Rodrigues – PNCSA, PPGA, SEDUC. Os participantes tiveram aproveitamento notável e avaliaram o resultado de forma muito positiva, relacionando-o com as próximas etapas em que a ARQUIRMA procederá a definir o território reivindicado no rio Mutuacá e seus afluentes.
O segundo Curso de GPS foi ditado no povoado Três Bocas na Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora da Conceição. O professor Leonel Pantoja – diretor da Escola – convidou três professores para realizar o curso e disponibilizou as instalações – sala e cozinha. A profa. Justa Pantoja convidou os quilombolas do Alto rio Mutuacá para esta formação que esteve sob a responsabilidade de Eliana Teles Rodrigues.
Participantes da oficina no povoado de Três Bocas.
O professor Leonel Pantoja realiza a leitura do “ponto” em frente à igreja enquanto o grupo faz o registro.
Registros de GPS na lousa e leitura de mapas
Em Três Bocas foi feita a gravação de uma “viagem histórica” dos quilombolas desde seu povoado até Santa Maria, “comunidade” localizada nas cabeceiras do rio Mapuá, após caminhar oito horas dentro da mata. Eles elaboraram descrições emocionadas de suas observações e experiências na floresta e sobre os costumes do grupo que conheceram e com os quais compartilharam um torneio de futebol.
Quilombolas do rio Mutuacá destacam nos seus relatos os igarapés onde viveram na infância e com objetivo de sistematizar o conhecimento sobre os recursos, usos, limitações e, inclusive as perdas, foram feitas oficinas para comunicar estes eventos. O último concentrou 11 pessoas no Trapiche da Escola entre as 18 e 20:30hs que de forma emocionada trocaram e comparam suas vivencias. O Sr. Manoel Bahia afirmou que no rio Mutuacá durante 10 anos cortaram palmito e deixaram praticamente de apanhar e consumir açaí. O palmito era vendido por dez centavos para os donos de fábrica, entretanto, eles nunca comeram um palmito e a fome havia se instalado com a morte das palmeiras. Todos estavam indignados com o problema que havia sido criado e a reação de um grupo de cinco pessoas (Justa Pantoja, Manoel Teles, Manoel Baia, Nazaré Jesus e Maria de Fátima Jesus) foi fazer uma “campanha” para impedir o corte dos açaizais. Agora desfrutam com alegria os açaizais recuperados na várzea do rio Mutuacá.
O fato desta equipe de pesquisa ter ficado hospedada na E.M.E Fundamental Remanescente de Quilombo São José da Povoação permitiu observar e compreender situações criticas. A Escola possui 439 alunos inscritos que assistem aulas em dois turnos. A maioria dos egressos não tem condições de continuar os estudos de ensino médio e, apesar de ter feito solicitações à SEDUC, essa reivindicação não foi atendida, sequer são respondidos os oficios enviados pela ARQUIRMA. Mais grave ainda são as dificuldades da merenda escolar, quando não há falta de alimentos industrializados e de péssima qualidade, falta o gás, ambos administrados pela prefeitura. O predio da Escola mostra necessidades de manutenção geral (pintura, conserto de piso, teto, revisão de instalações sanitarias).
Estudantes e professores se mobilizaram para atender o convite dos pesquisadores já mencionado e nas fotos a seguir estão os autores1 do exercício de reflexão sobre “Os problemas ambientais do Rio Mutuacá e seus afluentes”, no qual revelaram observações cuidadosas.
1 Relação dos alunos que apresentaram trabalhos e constam das fotos: Edilene, Sintra, Jonaias, Jéssica, Maria, Naiara, Fabiola, Ana Paula, Rita, Dinailson, Manoel, Alex, Edivan, Luis Henrique, Milena, Kamaiane, Andreza, Helen, Raimundo Elinaldo, Ana Mouse, Duizilena, Keila, Rafaela, Cibeli, Maria de Jesus, Lucilena, Ivanildo.
A escola de São José da Povoação organiza uma atividade artística com o grupo de dança quilombola Makulelê