Projeto Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais – Fundo Amazônia.
A comunidade Quilombola da Ilha São Vicente situada no rio Araguaia, município de Araguaina, Estado do Tocantins, destaca a luta pelo território, a história e a dinâmica sociocultural da comunidade frente à expulsão da terra e à ameaça de projetos hidrelétricos. Em fevereiro de 2013, pesquisadores da Cartografia Social da Amazônia, Núcleo Pará e Tocantins, integrantes da APA-TO, (Alternativas para a Pequena Agricultura do Tocantins), e os alunos do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e um do Mestrado interdisciplinar em Ciências Sociais (UFPA), sob a coordenação da professora Rita de Cássia Pereira da Costa, realizaram oficina de cartografia e mapeamento social junto à comunidade quilombola da Ilha.
A oficina de cartografia na Ilha São Vicente ocorreu dentro das atividades programadas para o período de 01 a 05 de fevereiro. Momento em que a comunidade recebia um grande grupo de jovens quilombolas dos estados do Pará, Tocantins e Maranhão para uma formação. Além dos jovens reuniu representantes de movimentos sociais, professores, pesquisadores, estudantes e técnicos, convidados. E, ainda representante público da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPIR. O que possibilitou aos participantes de diferentes lugares apresentarem à Secretaria questões relativas às dificuldades de acesso e implementação de políticas públicas para as comunidades quilombolas.
A oficina de cartografia como atividade e ação de pesquisa do Projeto Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial contra o desmatamento e a devastação: Processo de Capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais – Fundo Amazônia se propôs acompanhar e registrar situações expressas pela comunidade quilombola da Ilha de São Vicente.
Na oficina e entrevistas os quilombolas deram ênfase à pressão sobre o território, aos conflitos e também às formas de uso dos recursos. Por um lado, aquelas que degradam o meio ambiente e que expropriam as comunidades. Por outro, aquelas que constituem aproveitamento dos recursos e iniciativas de cultivos agroecológicos e próprios de suas práticas ou como estratégias de maximizar as pequenas áreas que podem utilizar na Ilha.
A comunidade quilombola da Ilha São Vicente encontra em comum com outros agentes sociais, ribeirinhos, pescadores e agricultores familiares o fato de muitos deles se encontrarem em condições em que a relação com o território e as práticas socioculturais se veem confrontadas a processos de expropriações face as diferentes estratégias de empreendimentos pecuários e hidroelétricos. Além disso, a recorrente e histórica ausência de políticas públicas propiciadores do movimento das Terras Tradicionalmente Ocupadas. Há fatores que interferem na relação com o território e o modo de vida. A comunidade busca assegurar o território frente a ameaça de fazendeiros, cuja a ofensiva nos últimos anos resultou na expulsão de famílias da Ilha e na queima de suas casas.
A autocartografia como foco da oficina entre os quilombolas da Ilha São Vicente objetivou registrar a mobilização política, a resistência ao desmatamento e os saberes e práticas socioculturais. Isso com foco na relação com o território e modos de vida que se configuram em ações contra o desmatamento e a devastação. Na atividade realizada na comunidade ficou destacada a resistência e a luta pelo território. Igualmente, as relações de sociabilidade e para o trabalho. E, as representações simbólicas e culturais, que assinalam a relação com o território no passado e no presente.