Nova Cartografia Social Da Amazônia

Nova Cartografia Social e PINEB convidam pesquisadores engajados a apresentar seus trabalhos no VI Seminário da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRB


Convidamos pesquisadorxs a apresentar seus trabalhos de pesquisas no GT 08 – “Novos pesquisadores na universidade e as condições de engajamento na produção científica“, proposto pelas pesquisadoras Maria Rosário Carvalho, Jurema Machado e pelo pesquisador Franklin Carvalho. Este GT faz parte das atividades do VI Seminário da Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

O seminário será realizado entre os dias 9 a 11 de novembro de 2016, na cidade de Cachoeira. A data final para envio dos resumos dos trabalhos é 2 de outubro de 2016.

Segue a proposta do GT

Nos últimos anos o acesso à universidade pública se expandiu. Além da criação de novas universidades e institutos federais, os programas de cotas e os cursos especiais fomentados por uma diversidade de programas – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA); Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND); Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO) – propiciaram o acesso ao ensino superior de grupos sociais antes excluídos. A entrada de novos “sujeitos” na vida universitária tem sido fruto de uma luta coletiva e intensa, na qual os movimentos sociais, como o movimento indígena, o movimento negro e o movimento por reforma agrária, se destacam.

Mas, vale indagar como a entrada de agentes sociais ligados aos movimentos sociais está contribuindo para a transformação da própria universidade. Quais são os temas de pesquisa e como são abordados? Quais modalidades de engajamento estão sendo realizadas? Estão contribuindo para a descolonização do conhecimento mediante, inclusive, a inserção de conhecimentos contra hegemônicos? Objetivam transformar as desigualdades sociais? Preocupam-se em construir novas possibilidades de desenvolvimento e bem estar social? Quais as condições sob as quais as pesquisas estão sendo realizadas? Tem havido resistências? De quais ordens?

Na literatura encontramos algumas referências que inspiraram grandes debates sobre o papel dos intelectuais e suas formas de engajamento. A posição de “intelectual específico”, no sentido conferido por Foucault e enfatizado por Bourdieu, percebe o intelectual integrado a um coletivo de pesquisadores, capaz de definir autonomamente os objetos e os fins de sua reflexão e ação. Um intelectual preocupado em disseminar instrumentos de defesa contra a dominação simbólica, submetendo o discurso dominante a uma crítica lógica, ao mesmo tempo preocupada em criar condições de possibilidade para novas descrições do contexto social. (BOURDIEU, 2001, p. 37-44)

Outra perspectiva, a de intelectual orgânico construída por Gramsci, pensa o pesquisador organicamente ligado a determinada classe social, combatendo ideologias da classe dominante a fim de revelar o seu caráter arbitrário. Nessa perspectiva, o desafio seria elaborar o bom senso a partir do senso prático da classe trabalhadora a fim de transformar esse bom senso em um conhecimento teórico do mundo. (BURAWOY, 2010, p. 60)

Mais uma perspectiva de engajamento, conhecida como “intelectual total” e atribuída a Sartre e Fanon, percebe o pesquisador voltado para a análise de uma situação concreta em que ele se engaja, tornando-se solidário aos acontecimentos políticos do seu tempo. O engajamento vai além da formulação teórica, e se materializa no comprometimento com a execução de uma ação militante “radical” e “violenta”. Esse engajamento consiste em uma urgência histórica, requerendo vigilância e lucidez na luta constante contra o pensamento e a ação coloniais. (ALMEIDA, 2010, p. 193)

A figura do pesquisador militante ganha força na América Latina. Autores como Borda e Marini destacam a necessidade do intelectual ir além da fala, escrevendo e pensando criticamente, resaltando que os pesquisadores devem ser participantes ativos na mudança social. A crítica deve ser acompanhada por ações políticas revolucionárias. As reflexões críticas e as ações transformadoras são conjugadas, criando espaços de sinergia criativa entre pesquisadores, intelectuais, comunidades organizadas, movimentos sociais e organizações políticas, em espaços formais ou informais de ensino, de pesquisa e extensão. (JAUMONT e VARELLA, 2016, p. 431-432)

Este GT objetiva ser um espaço para apresentação e reflexão de pesquisas que se relacionem a um conhecimento engajado a políticas de intervenção no mundo social. Está aberto a diferentes temas ligados a distintos grupos sociais. A sua proposta está voltada para a identificação de objetos de pesquisa preocupados em debater como a posição e a condição social, o engajamento e o rigor científico intervêm em cada pesquisa e qual a relação que se estabelece com os grupos de referência.

Referências Citadas
ALMEIDA, R. D. As posições políticas de Jean-Paul Sartre e o terceiro mundo (1947-1979). Assis: UNESP, 2010.

BOURDIEU, P. Por um conhecimento engajado. In: ______ Contrafogos 2. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 36-45.

BURAWOY, M. Tornando a dominação durável: Gramsci encontra Bourdieu. In: ______ O Marxismo encontra Bourdieu. Campinas: UNICAMP, 2010. p. 49-79.

JAUMONT, J.; VARELLA, R. V. S. A Pesquisa Militante na América Latina: trajetória, caminhos e possibilidades. Direito & Praxis, Rio de Janeiro, v. 07, p. 414-464, 2016.

 

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