“Esse é um mapa para os novos tempos de luta pelos babaçuais”.
O evento de lançamento do mapa NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DOS BABAÇUAIS: Mapeamento Social da Região Ecológica do Babaçu (disponível para download em www.novacartografiasocial.com) no auditório da UNIFESSPA, Marabá, PA (08/ maio/ 2018) foi conduzido pelas quebradeiras de coco babaçu de Piauí, Tocantins, Maranhão e Pará se levarmos em consideração sua presença numerosa no auditório, nas mesas, nos tempos de fala, nas mensagens e discursos que estiveram todos referidos às suas ações.. Notadamente, na ação política de registrar nesse mapa, junto com pesquisadoras e pesquisadores, suas diversas lutas, seus inúmeros conhecimentos, suas mobilizações, suas memorias, seus projetos e vontade de transformação. Trata-se de um mapa situacional, pois este, como outros mapas feitos ou por fazer conteriam parcialmente a diversidade de situações sociais de conflitos, ameaças e lutas em aberto contra os antagonistas históricos- fazendeiros, empresas e o Estado, com os denominados “projetos de desenvolvimento”, a exemplo do Matopiba, o mais recente.
Certamente, uma expressão marcante foi pronunciada por D. Francisca Vieira (quebradeira de coco no povoado Bento do Tocantins, região do Bico do Papagaio). Ela apresentou todas as quebradeiras com a frase: “nós somos professoras de nosso babaçu, somos professoras de nossas palmeiras” e argumentou sobre a força de sua existência e a mobilização por décadas, assim sobre a capacidade de organização política (no MIQCB, cooperativas, associações, clubes de mães, escolas, festas) pelos domínios amplos dos seus conhecimentos tradicionais e territórios. Naquela tarde, essas mensagens foram compartilhadas, de forma entusiasmada, com o público formado por estudantes e professores. As palavras de Dona Eunice da Conceição destacaram os seus domínios e posicionamentos sobre a política, sobre as leis do país, não respeitadas, o que denominou a “conjuntura ordinária diante desse golpe”. E afirmou categórica: “A união é que transformará nosso país!”. Situou as diversas ameaças que pairam sobre as quebradeiras nos quatro estados. Diante esses fatos ressaltou a importância de uma política dentro do MIQCB, movimento que explicou tem uma longa trajetória de mobilização e precisa manter clareza sobre suas lutas e projetos.
Com anterioridades a estas duas falas a intervenção da Sra. Francisca da Silva Nascimento Coordenadora Geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB – e quebradeira de coco no Piauí, destacou a necessidade de garantir terra e território, de lutar contra aqueles que opinam que não existe floresta de babaçu, que não existe quebradeira de coco babaçu e insistiu na luta pelas terras e os territórios como meio e espaço para garantir a identidade das quebradeiras. Se a expressão território domina vasta literatura acadêmica, a expositora explicou sinteticamente sua concepção: “território é algo para além, que não é governo que define”.
Todavia, por que o lançamento deste Mapa na UNIFESSPA? Rita de Cássia Pereira da Costa fez breve memoria do desenvolvimento da pesquisa com as quebradeiras de coco na região Sudeste do Pará, cuja identidade política de quebradeira de coco se desenvolve no embate com o longo e profundo processo de devastação na região com ameaça à reprodução física e cultural das mulheres quebradeiras de coco.
Qual a relação de pesquisa do projeto nova cartografia social com as quebradeiras de coco Babaçu e seus resultados? Resumidamente, a fala de Rosa Acevedo frisou as práticas de pesquisa com e para as “professoras de babaçu”. Os trabalhos iniciam na década de noventa com os estudos sobre a região do Carajás, (1994) coordenados pelo prof. Alfredo Wagner, com diversas formas de continuidade teve outro marcador com o livro Guerra Ecológica nos Babaçuais acompanhado do mapa. Entre ambos um intervalo de 13 anos. De 2005 até o presente diversas iniciativas de mapeamento no Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí que resultaram em fascículos, Cadernos de Cartografia Social, de Boletins, de livros autobiográficos; esses contatos se retomam em projetos de pesquisa como os Centros de Ciência e Saberes que convocam reiteradamente as articulações com as quebradeiras de coco e os interesses de trabalhos conjuntos. Experiencia continua e refletida que convergiu para novos projetos de pesquisa nos quais são concebidos novos mapas para expor situações sociais e realidades específicas das quebradeiras de coco babaçu.
Jurandir Novaes, coordenadora do novo projeto Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento Social da Região Ecológica do Babaçu” e do “Projeto Cartografia Social como estratégia de fortalecimento do ensino e da pesquisa acadêmica”, projeto realizado no âmbito do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. A pesquisadora iniciou ressaltando a formulação da noção de “região ecológica do babaçu”, que teve início em 2005 no âmbito de pesquisa anterior e o seu significado político para a afirmação da identidade de quebradeira de coco e da preservação do que a pesquisa identificou como florestas de babaçu em termos de discussão da preservação dos babaçuais.
Desde a primeira oficina realizada em junho de 2014, em Imperatriz, os encontros de pesquisadores e movimentos sociais, reuniões, e sobretudo o trabalho de campo e o georeferenciamento das informações cartográficas e construção de bases cartográficas no Laboratório de Cartografia ousaram coligir centenas de informações institucionais e de campo.
Sobre o mapa elaborado entre 2014 e 2016 explicou os procedimentos de pesquisa para sua construção e a abrangência para áreas não pesquisadas anteriormente e os debates para caracterização sociológica da região dos babaçuais nos Estados do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins – com participação direta de 40 mulheres e pesquisadores de sete universidades e a entidade de assessoria aos movimentos.
Quanto ao título atribuído ao mapa é coerente a uma concepção de pesquisa apoiada na autocartografia e, nesse sentido, que os movimentos sociais não são fonte de informações, mas agentes no processo de pesquisa, e que conferem legitimidade e pertencimento dos movimentos à pesquisa, em uma combinação com trabalho acadêmico.
Explicou, complementarmente, que o mapa é constituído de situações sociais, de práticas, saberes e lutas forjadas no embate com os agentes econômicos e políticos a partir das quais a denominada “região ecológica” ganha existência. Portanto, ressaltou que a área de babaçuais estimada em 27 milhões, antes somente haviam sido mapeados 18 milhões. A pesquisadora sublinhou que não se trata de um polígono, mas da presença de ação política dos movimentos e de ocorrência e incidência do babaçu. A ocorrência e áreas de incidência de babaçuais inscrevem-se na dinâmica de devastação dos castanhais, formação de pastagens e apropriação de terras.
A UNIFESSPA através do seu “Núcleo” coordenado por Rita Pereira da Costa participa ativamente dos projetos Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento Social da Região Ecológica do Babaçu” e do segundo, “Projeto Cartografia Social como estratégia de fortalecimento do ensino e da pesquisa acadêmica” ambos institucionalizados partir do Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia – PNCSA/UEMA. Essas atividades foram viabilizadas a partir do Laboratório e Grupo de Pesquisa Núcleo de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará e da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA)
Os projetos desenvolvidos na UNIFESSPA e nas universidades (UEMA, UFPI, UFPA, UNIFESSPA, UFT, UFMA) envolvidas no projeto, assim como de organizações não governamentais, como a APA-TO) estiveram centralizados na pesquisa para elaboração do Mapa, e resultou em diversificada produção a partir de etapas de trabalho de campo, georreferenciamento, encontros, reuniões, oficinas realizados por pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA juntamente com o Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu na chamada “região ecológica do babaçu”.
No plano da organização e desenvolvimento do Seminário destaca-se a mesa de abertura que foi composta por Francisca da Silva Nascimento, Coordenadora Geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB; Jucilene Rodrigues Souza, Coordenadora do MICQCB – Regional Pará; Eunice da Conceição Costa, Coordenadora do MICQCB – Regional Imperatriz., Francisca Vieira, Coordenadora do MIQCB na Regional Tocantins, Ana Carolina Magalhães Mendes, assessora do MIQCB; a professora Rosa Elizabeth Acevedo Marin – coordenadora do PNCSA (UFPA); a professora Jurandir Santos Novaes, coordenadora de Projeto (UFPA/NAEA); a professora Idelma Santiago da Silva, vice-reitora da UNIFESSPA; Francisco Ribeiro Costa – Diretor de Pesquisa – PROPIT; Emmanuel Wamberge (Mano, como é conhecido) agrônomo (CODETER), Amxyti Valdenilson Topramre, indígena Akrãtikatêjê e Alice Margarida Alves, professora da Faculdade de Educação do Campo/UNIFESSPA.
Finalizadas as mesas, apresentações e comentários dos presentes, as quebradeiras de coco Babaçu e as pesquisadoras Rosa Acevedo Marin, Rita Pereira da Costa, Jurandir Novaes e o pesquisador Cristiano Bento da Silva se reuniram para realizar um breve balanço das situações enfrentadas pelas quebradeiras e definir estratégias de trabalho.
Texto: Rosa Acevedo Marin, Jurandir Novaes e Rita Pereira da Costa
Fotografias: Jurandir Novaes, Rita Pereira da Costa, Valéria, Cristiano Bento da Silva e Keyse Mikaelli Santos de Souza.