Nova Cartografia Social Da Amazônia

NOTA DE PESAR – VALMIR ARI BRITO, O MESTRE JIMMY WALL, DE FLORIANÓPOLIS (SC)


O mestre Jimmy Wall, professor, educador, capoeirista, liderança do movimento negro, uma das pessoas mais carismáticas da cultura afro de Santa Catarina, nos deixou hoje, 22 de julho de 2021. Conheci Jimmy na UFSC, no início dos anos 2000, nos debates promovidos pelo NUER sobre quilombos. Desde então nos aproximamos pelos interesses acadêmicos e pelas coisas boas que a vida pode nos dar uma vez ou outra. No batizado do meu filho Pedro na capoeira, no terreiro da mãe Lourdes, no café do CFH e outras tantas vezes nas rodas de sábado do Mercado Público, na Praça XV, na Lagoa da Conceição. Em cada encontro, Jimmy oferecia um abraço apertado, um sorriso largo e conversas deliciosamente intermináveis. Com ele aprendi muito, especialmente sobre a capoeira. Parte destes ensinamentos estão eternizados no Fascículo 18, “Capoeira da Ilha, Florianópolis”, do Projeto Nova cartografia social. Durante o Projeto, Jimmy nos concedeu várias entrevistas, participou de oficinas e contribuiu ativamente dos debates que deram forma ao material. Ele também era mestre pela Universidade, e muito de sua dissertação em Educação “A (in)visibilidade da contribuição negra dos grupos de capoeira em Florianópolis” foi incorporado ao trabalho. Para ele, a roda de capoeira o centro e o sentido da vida, possibilidade de inclusão social, educação e afirmação da negritude, conforme um inesquecível depoimento:

“A minha causa na capoeira, qual o meu primeiro compromisso: o primeiro é com o processo de inclusão educacional(…) E o segundo objetivo meu, que faz com que eu permaneça mesmo na capoeira, é a identidade afro-brasileira que ela traz, que eu identifiquei muito mais com a cultura africana através da capoeira, através da músicas, coisas que eu não tinha conhecimento fui apreender com a capoeira”.

Em 2017 o Jimmy entrou na galeria dos Mestres, pelas mãos do mestre Nô, amigo de mais de 30 anos, recebendo o tão merecido reconhecimento como um dos guardadores e divulgadores dos saberes ancestrais da capoeiragem.

Mestre Jimmy, seu legado não será esquecido. Ao contrário: viverá aonde houver um berimbau, um tambor, um chamado, uma roda. Como você mesmo disse, “a capoeira é uma luta constante. Você apreende a jogar na roda para lutar na vida”. Nós lutaremos por este legado, lembrando sempre do sorriso, da sabedoria e da amável malandragem do seu gingado.

Muito obrigado por ter nos ensinado tanto. Bora lá, capoeirar!

Os nossos sentimentos e de solidariedade aos seus queridos familiares e amigos.

Salve a roda de Capoeira! Salve o Berimbau! Salve Mestre Jimmy!

Roda do Mercado Público

Roda da Figueira

Fotos: Erika Matsuno Nakazono

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