Nova Cartografia Social Da Amazônia

MUSA E PNCSA REUNEM-SE PARA CRIAR REDE DE MUSEUS EM MANAUS-AM


No dia 30 de maio de 2019, o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia-PNCSA recebeu lideranças indígenas, quilombolas, pesquisadores, professores e alunos para discutir sobre a possibilidade de criar uma rede de cooperação entre o Museu da Amazônia-MUSA e os Centros de Ciências e Saberes, Museus Vivos, consolidados a partir de trabalho de pesquisa do PNCSA, Manaus, Amazonas. Na oportunidade estiveram presentes o Diretor do MUSA Ennio Candotti, o coordenador do PNCSA Alfredo Wagner, lideranças indígenas responsáveis pelo Centro de Ciências e Saberes Karapãna, Maria Alice Karapãna e Marilda Karapãna, Rafaela Fonseca membro da Associação das Crioulas do Barranco de São Benedito, Hamilton Salgado fotógrafo e morador do bairro Praça 14 de Janeiro, Edgar Soares mestre em Geografia e morador do bairro Praça 14 de Janeiro, professor Eckhard Ernst Kupfer Diretor do Instituto Martius-Staden, Professor Stefan Wilhelm Bolle docente do Departamento de Letras Modernas-USP, Alvatir Carolino da Silva, professor do IFAM, além dos pesquisadores do PNCSA Murana Arenillas Oliveira, Vinicius Alves e Itala Nepomuceno. Janderline Kokama, responsável pelo CCS Antonio Samias, justificou ausência, mas manifestou-se solidária com a iniciativa.

Reunião Rede de Museus no PNCSA. Da esquerda para direita: Alfredo Wagner (PNCSA), Ennio Candotti (MUSA), Edgar Soares professor e morador da Praça 14 de Janeiro, Vinicius Alves (PNCSA), Hamilton Salgado fotógrafo, Rafaela Fonseca (membro da Associação das Crioulas do Barranco de São Benedito), Wilhelm Bolle (Letras Modernas-USP), Eckhard Ernst Kupfer (Instituto Martius-Staden), Itala Nepomuceno (PPGAS), Murana Arenillas (PNCSA), Maria Alice Karapãna (CCS Karapãna), Alvatir Carolino (IFAM/PNCSA). Foto autoria Rosiane Pereira Lima.

Durante a reunião foi exposto pelos coordenadores o objetivo da rede, que consiste em estabelecer uma relação de roteiros de museus na cidade, parcerias e trocas de conhecimento, valorizando a história e a memória na afirmação de saberes e fazeres representativos dos povos e comunidades tradicionais. O professor Ennio Candotti em sua fala ressaltou a importância do reconhecimento do território, do uso da terra e a luta pela demarcação, e como a rede de Museus, a partir da troca de saberes, pode ser significativa nessa luta.

Após a exposição do objetivo da reunião, cada liderança presente externou sua opinião sobre a possibilidade de integrar a rede de Museus.

Maria Alice Karapãna em sua fala destacou:

“Os povos Karapãna são um povo tímido, nós queremos trazer a memória do meu pai, a importância do território, da cultura, agricultura, da língua indígena. Nossa especialidade é a palha, o teçume, o contato com a natureza […] vivemos em uma área ribeirinha e queremos mostrar nossa autonomia. Não dependemos do governo! Queremos criar uma memória nossa, criar nosso museu da nossa forma, da nossa maneira, do jeito que a gente sente melhor […] Queremos fazer um memorial da agricultura, mostrando o roçado da família, como fazíamos o beiju, o mingau, a farinha, a mandioca, um fazendo e um plantando […] Que é a fonte de vida para o povo Karapãna, nosso sustento de vida.”

O coordenado do PNCSA Alfredo Wagner sublinhou também sobre a relevância de se refletir sobre a política nacional dos museus e como pode afetar a autonomia dos Centros de Ciências e Saberes (CCS). Em contrapartida os CCS’s, que não são cadastrados no IBRAM, constituem iniciativas que reforçam o funcionamento dos CC’s fundado na autosustentabilidade dos museus indígenas, quilombolas, ribeirinhos e de quebradeiras de coco babaçu entre outros. Cabe sublinhar que eles são construídos, gestionados e mantidos pelos membros das próprias comunidades.

A reunião também discutiu a possibilidade de criação de um CCS na Comunidade do Barranco de São Benedito localizada na Praça 14 de Janeiro, Manaus. Rafaela Fonseca membro da Associação das Crioulas do Barranco de São Benedito manifestou-se positivamente à criação do Centro e a possibilidade da Rede de Museus, destacou também que a Comunidade realiza oficinas aos sábados para mostrar os trabalhos realizados pelas mulheres do Quilombo, desde a produção de artesanato até a culinária. Hamilton Salgado, fotógrafo, morador do bairro Praça 14, detentor de um acervo extenso de fotografias e documentos jornalísticos da cidade de Manaus, salientou que muitas famílias do Bairro possuem materiais que registram a história e a memória do Quilombo, e que os entes que já morreram são matéria-prima para os que estão agora na Comunidade. Na ocasião, também foi debatida a questão do espaço para funcionamento do Centro e levantadas algumas possibilidades. As questões pautadas na reunião foram levadas para a Comunidade para discussão e aprovação de seus membros.

O professor Alvatir Carolino em nome do Instituto Federal do Amazonas se colocou à disposição para estreitar relações entre o IFAM e a rede de Museus. Também acrescentou a importância do debate sobre saneamento básico, tratamento de água e desmatamento, entre outros, que diretamente desencadeiam problemas de saúde e impactos ambientais aos territórios de inúmeras comunidades. O professor destacou o seguinte:

“Ajudei a criar o campus de agricultura do IFAM, podemos auxiliar na agricultura tradicional e as antigas formas de agricultura e juntos pensar em perspectivas de produção alimentar que estão ameaçadas pelo atual governo, possibilitar um banco de sementes também.”

Marilda Karapãna sublinhou, por sua vez, o seguinte:

“Minha família não pode mais pescar e comer peixe do rio, as crianças também não tomam mais banho no rio, tem muito lixo, muita garrafa PET, não sabemos quais as consequências disso para nossa saúde […] as crianças estavam ficando com doenças de pele, frieira, diarreia […].”

Logo, a rede de Museus também vai possibilitar essa troca no âmbito da saúde e o meio ambiente. Revigorar a troca de saberes e conhecimentos voltados também para questões da atualidade, valorizando o ambiente, com a qualidade da água, a preocupação com a produção e plantação e demais questões ligadas ao território das comunidades onde estão inseridos os Museus Vivos.

Por fim, Ennio Candotti, deixou em aberto a possibilidade de usar a infraestrutura do MUSA, localizada no Ramal do Brasileirinho para realização de testes e técnicas de plantação, valorizando as especificidades locais. Finalmente, o movimento de redes visa a valorização de saberes, da memória e a afirmação de identidades coletivas através de uma ação conjunta e articulada.


Informação técnica elaborada pela pesquisadora do PNCSA e mediadora da reunião, Ma. Murana Arenillas Oliveira

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