Nova Cartografia Social Da Amazônia

Maria de Jesus Bringelo (Dona Dijé), o poder da palavra


A dor que nós, do PNCSA sentimos pela ausência de Dona Dijé, Maria de Jesus Bringelo não é descritível. A presença que sentimos está em todos os lugares, em todos seus gestos, em todas suas determinações, em todas as suas realizações, em todas as suas falas.

Guardamos algumas falas, e para compartilhar a grande admiração que lhe manifestamos  apresentamos fotos e transcrevemos suas falas. São para ser lidas e refletidas; são palavras com poder, porque é também o poder de sua palavra que nos inspirará e fará que permaneça entre nós.

D. Dije, ao centro, por ocasião da sua posse na Coordenação do MIQCB, durante o VI Encontrão das Quebradeiras de Coco Babaçu, realizado em junho de 2009, em São Luís – MA.

D. Dijé, por ocasião da sua posse na Coordenação do MIQCB, durante o VI Encontrão das Quebradeiras de Coco Babaçu, realizado em junho de 2009, em São Luís, MA.

D. Dijé em participação no Seminário “Populações tradicionais e questões de terra na Pan-Amazônia”, realizado por ocasião do Fórum Social Pan-Amazônico, Manaus – AM, janeiro de 2005.

“Boa tarde para todos. Eu sou Maria de Jesus, conhecida como Dijé. Eu vim de uma terrinha, lá no município de São Luiz Gonzaga do Estado do Maranhão. Eu sou, eu moro em uma área de assentamento. E em 1870 ainda tinha fazenda de escravos no Brasil, quando ainda eram trazidos aqui pro o Brasil, os negros. A comunidade que eu moro foi fundada como comunidade de fazenda de escravos. Era uma fazenda. E até então o povo vivia bem, quando passou, quando chegou a liberdade, eles adquiriram a posse da terra, tanto por compra, como uma parte por doação.

Aí vieram anos, décadas e décadas se passaram. O pessoal mais sabido foi tomando conta da terra, e chegou o momento que alguém disse: – Eu sou o dono e agora vocês vão ter que pagar foro pra mim! E aí o povo – eles foram vivendo e foram morrendo alguns, e foram nascendo, outros morrendo e a história foi sendo passada de geração para geração. Só que chegou o momento que não dava mais, porque ai na década de 60 e 70 as terras do Maranhão foram entregues à pecuária, então o homem do campo passou ser trocado pelo capim, pelo boi.
Ai quando venderam a terra que a gente soube, nós começamos: – Nós não vamos sair, nós somos donos! E a nossa luta, nossa resistência, por nossa vida (p 25).

“Como participante de seminários e oficinas para ouvir as exposições das pessoas e seus conhecimentos, para mim um fórum como este se torna uma universidade com boas qualidades, onde se aprende e ensina o que se aprende na escola da vida, onde se mistura saberes a cadêmicos e cientista, cultural e tradicionais e sociais sobre as raças e etnias na luta pela construção de um grande projeto construído com a participação para que possa atravessar fronteiras, por mais que estejamos em diversos lugares por mais longe um dos outros, será uma luta justa pela nossa igualdade, e pela soberania de um povo por direito a uma identidade, a uma política adequada para cada tipo de povo, direito, direito a vivermos com dignidade dentro da nossa querida Amazônia” (p. 94)

(Maria de Jesus Bringelo, Dona Dijé, em trabalho publicado no livro intitulado “Populações Tradicionais Questões de Terra na Pan-Amazônia. Organizado por Alfredo Wagner Berno de Almeida e Rosa Elizabeth Acevedo Marín, como resultado dos trabalhos produzidos no âmbito do IV Fórum Social Pan-Amazônico, realizado em Manaus, em janeiro de 2005).

D. Dijé em participação no Seminário Internacional “Megaempreendimentos,
Atos de Estado e Povos e Comunidades Tradicionais”, realizado em outubro de 2016, em São Luís – MA.

“O nosso processo de luta é processo de resistência, nós somos resistentes, nós não vamos desanimar no primeiro tropeço. Não é porque tropecei, vamos dizer, vamos recuar. Se eu tropecei eu vou dar um pulo pra frente. Quando a gente topa numa pedra a gente não volta pra trás, a gente vai pra frente, e aí essa é a nossa luta, a luta das quebradeiras que combate assim” (p.50).

A outra coisa que a gente descobriu, e isso a gente descobriu junto, foi a questão da nossa identidade de povos e comunidades tradicionais, porque nós somos detentores da nossa cultura, detentores dos nossos conhecimentos, detentores dos nossos saberes, porque o saber de uma quebradeira de coco que está no Maranhão, lá no Pará, ela sabe o mesmo, lá no Tocantins ela sabe o mesmo. Em qualquer lugar que tiver quebradeira, no Piauí são detentoras do mesmo conhecimento, e que é o conhecimento que não tá escrito em livro nenhum, mas tem na memória de um povo, tá escrito naquilo que os nossos antepassados deixou pra nós, e que a gente deve cultuar, a gente aprendeu a fazer movimento” (p.51)

(Maria de Jesus Bringelo, Dona Dijé, em trabalho publicado nos Anais do Seminário Internacional “Megaempreendimentos, Atos de Estado e Povos e Comunidades Tradicionais”, realizado pelo Programa da Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia – PPGCSPA/UEMA, em outubro de 2016, em São Luís – MA).

D. Dijé juntamente com Rosenilde Gregória Costa (Rosa) em participação no Curso “Cartografia Social dos Babaçuais: Economia Política do Babaçu”, realizado em São Luís, MA, janeiro de 2016, na UEMA. D. Dijé discute situações mapeadas no “Mapa Nova Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento da Região Ecológica do Babaçu”. Atividades realizadas no âmbito do Projeto “Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento da Região Ecológica do Babaçu”

D. Dijé e Francisca Nascimento se abraçam por ocasião da posse como Vice-Coordenadora e Coordenadora do MIQCB, eleitas durante o VII Encontrão das Quebradeiras de Coco Babaçu, realizado em setembro de 2014, em São Luis – MA.

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