O Sudeste do Pará identifica-se como uma região com seus recursos naturais depredados, profundamente degradada, não desenvolvida, apesar dos discursos da racionalidade dos planos e programas de desenvolvimento anunciados desde o Polo Carajás e inserida nos Planos de Desenvolvimento da Amazônia, desde a década de setenta. A degradação ambiental do Sudeste do Para é produto de estratégias governamentais articuladas com interesses empresariais, e principalmente, ligadas ao mineralnegocio e ao agronegócio. Indígenas, quebradeiras de coco babaçu, extrativistas, assentados, acampados, agricultores familiares estão reunidos com pesquisadores do projeto “Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais” para debater realidades localizadas e formas de oposição às intervenções que ameaçam suas formas de existência social e cultural.
Como compreender o que seria desenvolvimento sustentável nesta região do Sudeste do Pará? Se todas as Terras Indígenas estivessem demarcadas, ratificadas na sua demarcação, conforme assinalava o primeiro Acordo CVRD e FUNAI. Se o povo indígena Akrãtikatejê não vivessem hoje sob a ameaça de ter a Reserva Indígena Mãe Maria inundada pela Hidrelétrica de Marabá. Se madeireiros, pecuaristas, mineradoras não dessem continuidade às práticas de apropriação e desmatamento dos territórios, com isto reduzindo recursos e negando a própria continuidade de existência dos diversos grupos. Se assentados tivessem garantia de acompanhamento e assistência integral para os seus projetos diversificados de agroecologia. Se acampados, filhos de agricultores, vislumbrassem um futuro de acesso à terra e os recursos naturais. Se os extrativistas pudessem livremente acessar os recursos, sem constrangimentos, sem ameaças de morte por parte de madeireiros, fazendeiros, tudo isto diante da indiferença do Estado de proteger suas vidas.
As mineroagroestrategias na Região estão conduzidas de uma forma acelerada para manter e elevar os índices de exportação dos recursos, de exploração intensiva da natureza, de implementação agressiva de uma matriz energética que vai do carvão, dos biocombustíveis, do monocultivo do dendê até o grande negocio de produção de energia elétrica. As terras agriculturáveis e de produção extrativa estão sendo tomadas pela abertura de áreas de exploração mineral (ferro, cobre, níquel, ouro, bauxita), pela expansão dos cultivos homogêneos de eucalipto para produção de carvão para abastecer o parque industrial da siderurgia e papel celulose. O carvão, como matriz energética da produção de ferro gusa para as siderúrgicas invade os assentamentos, através de carvoeiras que, em muitos casos, se utilizam do trabalho escravo e se furtam às leis ambientais e trabalhistas. Não distante destas estratégias ainda se registra a expansão de fazendas e de produção de gado de corte, muitas vezes arrendando as terras de pequenos e médios agricultores e direcionando o gado para os diversos frigoríficos instalados na região. Por outro lado, também se observa a expansão de uma pecuária seletiva, através de melhoramentos genéticos. Este o discurso da modernidade econômica do Sudeste do Pará, mas que reforça um padrão de desenvolvimentismo que além de continuar desmatando e depredando os recursos nega aos agentes sociais a sua permanência nos territórios e a liberdade de projetos autônomos.
Cledeneuza Maria Bezerra de Oliveira, quebradeira de coco babaçu e coordenadora da Cooperativa do MIQCB no município de São Domingos do Araguaia refletiu no “Café com Ciência”, no dia 4 de setembro, sobre o desmatamento na região: “Este começou com as castanheiras, depois a derrubada das madeiras nobres e agora com os babaçuais… Antes, a gente vivia por conta própria, mas hoje somente vivemos pelo ‘sistema'”. Ainda manifestou profunda duvida sobre o que significa a entrada no mercado para vender os seus produtos, e sobre os resultados das políticas assistencialistas do governo para os povos e comunidades tradicionais. A jovem Sara Ramos do Coletivo da Juventude e do Coletivo de Mulheres do Movimento Sem Terra no Acampamento Frei Henri questiona o sentido da terra, pois quando acampados iniciam o plantio da nova terra começam a viver os conflitos.
Sara Ramos, Coletivo da Juventude e Coletivo de Mulheres do Acampamento Frei Henri, município de Parauapebas.
A Reunião Preparatória ao Encontro Regional do Projeto continua suas atividades na Fundação Cabanagem nos dias 5 a 6 de setembro de 2012, na cidade de Marabá.
Participantes do Café com Ciências, reunidos no Auditório da Universidade Federal do Pará- Campus de Marabá. (4 de setembro de 2012)