Foi lançado em primeira mão, durante a 66a SBPC, ocorrida entre os últimos dias 22 e 27 de julho, em Rio Branco, na Universidade Federal do Acre, o Fascículo 16 da série “Projeto Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial Contra o Desmatamento e a Devastação: processo de capacitação de povos e comunidades tradicionais”, fruto do trabalho da equipe do Núcleo Acre no Alto Juruá acreano. O lançamento ocorreu durante uma atividade do evento intitulada “CIÊNCIAS DA FLORESTA, PRODUÇÃO DO SABER E A POLÍTICAS DE CONHECIMENTO – ENCONTRO COM SABEDORES”, e reuniu cerca de 25 pessoas.
No evento, além da pesquisadora do Projeto e professora da UFAC, Mariana Ciavatta Pantoja, participaram como palestrantes Antonio Teixeira da Costa (liderança comunitária e agroflorestal na Reserva Extrativista do Alto Juruá), Marcos de Almeida Mattos e Valquíria Garrote (ambos também professores da UFAC). Mariana e Antonio Teixeira da Costa (o “Caxixa”, como é conhecido) falaram sobre a realidade do Alto Juruá e a parceria que resultou no Fascículo; Marcos tratou da experiência de patrimonialização dos grafismos Huni Kuin conhecidos como “kene” e as diferentes perspectivas e des-entendimentos envolvidos no processo; e Valquíria compartilhou suas reflexões sobre a produção de conhecimentos no Curso de Formação Docente para Indígenas, mantido pela UFAC no Campus Floresta, em Cruzeiro do Sul.
O Fascículo, batizado: “Grupo Vida e Esperança – Rede de Conhecimentos Tradicionais do Alto Juruá”, foi concebido e elaborado tendo como aposta a ideia de que os conhecimentos dos grupos locais do Alto Juruá e a rede que constituem por meio das interações que realizam, e que por sua vez também os constitui, são uma
alternativa ao desmatamento, entendido como processos de desenvolvimento dissociados da natureza, dos ciclos ecológicos, e portanto altamente impactantes (agropecuarização, extrativismo predatório, urbanização acelerada etc). A aposta é que a agricultura florestal, tal como praticada pelo Grupo Vida e Esperança, e outros coletivos na região, indígenas em particular, oferece alternativas para o desenvolvimento regional, tanto social quanto política e economicamente. O Fascículo, neste sentido, pode ser pensando como a materialização da uma parceria política e epistemological entre pesquisadores da universidade e agentes ou cientistas locais.
A rede de conhecimentos e conhecedores locais, ou tradicionais, de que fala o Fascículo não é propriamente uma novidade, e sim talvez o seu se dar a conhecer. Esta rede, na verdade, já existe: se constitui no dia a dia das relações e das trocas, de sementes, mudas e frutas, de saberes e práticas, nas visitas e viagens. Localmente, inclusive, a ideia de rede foi aproximada da de “consórcio” e expandida para associações não só entre humanos: consórcios podem envolver plantas, ou plantas e animais e insetos (quando estes, por exemplo, polinizam aquelas), ou de homens e animais (quando estes comem parte da macaxeira plantada por aqueles, e acabam se expondo aos predadores humanos, que os comem), e assim por diante.
O Fascículo, enfim, visa fortalecer um conjunto de experiências e sua associação em rede, visa dar a ver e conhecer talvez a coisa mais preciosa que o Alto Juruá pode estar a nos oferecer em termos de alternativas de desenvolvimento social e econômico, de conservação da agro e da biodiversidade. A promoção do conhecimento tradicional e sua associação com aquele produzido nas universidades pode nos beneficiar estas últimas e seus pesquisadores pelo contato com constructos intelectuais e sensoriais que operem segundo outras lógicas, e que com um pouco de sorte podem nos afetar positivamente.
O próximo passo agora é divulgar o Fascículo na Reserva Extrativista do Alto Juruá e nas Terras Indígenas vizinhas, recobrindo os parceiros em rede, além de distribuir entre pesquisadores e parceiros institucionais que atuam na região e que possam entrar neste consórcio!