Nova Cartografia Social Da Amazônia

II Encontro da Juventude Indígena do Sudeste do Paraense na aldeia Akrãtikatêjê, T.I Mãe Maria


O II Encontro da Juventude Indígena do Sudeste do Paraense foi realizado, no período de 27 a 30 de julho de 2019, na Aldeia Akrãtikatêjê, Terra Indígena Mãe Maria no município de Bom Jesus do Tocantins, estado do Pará.

Kupepramre Valdenilson membro do povo Gavião e discente do curso de Educação do Campo (UNIFESSPA) conta que a iniciativa da organização dos jovens e que resulta Encontro, vem desde 2012. Primeiramente em decorrência da proposição do cacique Payaré e, seguidamente dos jovens, com foco na reflexão e incentivo à formação de jovens, lideranças. Para ele o falecido cacique, seu avô foi um grande incentivador de que os jovens deveriam participar e começar a assumir papéis na atuação como lideranças. E que esse interesse ganhou reforço com as preocupações e questionamentos da atual cacique Kátia Silene Valdenilson, sua mãe, acerca da continuidade na atuação frente às questões do povo gavião.

Kupepramre Valdenilson destaca que o interesse é que os jovens, da T. I Mãe Maria, tenha conhecimento e possam tomar frente diante das problemáticas e nos debates acerca das questões que lhes afetam. Assim, num primeiro momento a mobilização dos jovens foi concebida a fim de propiciar espaços de debate entre as aldeias locais. Mas em conversa com Conselho Indigenista Missionário – CIMI em Marabá foi possível ampliar a proposta, buscando articular diferentes povos indígena da região. O Encontro de Jovens foi articulado com a proposta de realizar a celebração do aniversário da aldeia, e como oportunidade de falar da luta, da história do povo e em memória do cacique Payaré. Neste sentido, este último encontro, contou com filmes, painel fotográfico do grupo Akrãtikatêjê em diferentes momentos. E com um grafite em papel cartão em aporte de madeira, com o rosto do cacique Payaré, exposto no tapiri onde ocorreram as atividades.

Pepkrakte J. Ronore Konxarti (Zeca Gavião) cacique do povo gavião Kyikatêjê foi convidado a participar da roda de debate entre os jovens em processo de formação acadêmica. O interesse de trazer sua experiência e dialogar na perspectiva de reforço a iniciativa de organização dos jovens. Em sua fala destacou os dispositivos legais como o Estatuto do Índio e o Artigo 69 do OIT e no final de sua fala ressaltou o ataque aos direitos dos povos indígena através da exibição de um vídeo sobre o tema.

Para o cacique Zeca Gavião, o momento constitui-se como “inicio de uma comunicação” que se faz mais que necessária “porque se não acontecer esse ato vai ser difícil para o povo gavião conquistar os seus direitos” ou mesmo “garantir os direitos que foram conquistados” como se tem notado mediante as ameaças aos territórios indígenas. Além disso, ressaltou a importância da atividade na organização dos jovens e expectativa de que “vai acontecer”. Posto que em um contexto de mudanças com a obtenção de recursos financeiros, a entrada de tecnologias, assim como em âmbito alimentar, assinala a importância “retomar a essência do jovem gavião” e, de maneira a interagir mudanças e modo de vida das aldeias, no intuito de cultivar, plantar garantindo sua própria identidade e os direitos do povo indígena.

Concita Guaxipiguara Sompré destacou que, por vezes, a atuação dos jovens passa despercebida por que na cultura gavião os mais velhos costumam falar. Nesse sentido, a política parece uma novidade, mas o contato com as problemáticas da aldeia, assim como a entrada na universidade tem ampliado e fortalecido a iniciativa de organização dos jovens. E nessa conjuntura tem tudo para avançar num interesse coletivo e das questões da T.I Mãe Maria. Qual vive um importante momento político no sentido que a luta pelo território, como uma questão que interessa “a todos nós”.

Para Kátia Silene Valdenilson – Cacique cujo nome na língua é Tonkire Akrãtikatêjê – o Encontro de jovens se voltou ao fortalecimento das lutas. E estes debates ocorrerem mediante a inquietação com a conjuntura vivida no Brasil e no mundo. E, desse modo, com grande preocupação com o território, a cultura dos povos indígenas em situação de ameaças.

De acordo com a Cacique Akrãtikatêjê a preocupação se estende a própria Constituição Federal, uma vez “que parece que não está valendo pra nós, e agente tá como antes, da ditadura. E é uma ditatura, hoje em dia, silenciosa que quando a gente pensa que não, ela já aconteceu”. E esse encontro tem o propósito de reflexão e no intuito que jovens se organizem e recebam esse incentivo para mobilização em forma de rede ou outra configuração.

O fato de o encontro ter acontecido na aldeia foi destacado pela possibilidade de reunir as diferentes gerações, a presença de lideranças e as pessoas mais velhas. Ressaltando a valiosa interlocução com estes, enquanto experiência de troca e contribuição no processo de aprendizagem dos jovens em formação. Ronore Kàprere Temejakrekatê, a Mamãe Grande, fez uma longa fala acerca da história, luta, cosmologia e costumes do povo Akrãtikatêjê e apontando para o jovens e a escuta das história do povo.

Irmã Zélia Batista e Gilmar de Oliveira do Conselho Missionário Indigenista – CIMI em Marabá que têm atuado no apoio as ações dos indígenas, como a formação de liderança, destacaram sobre o Encontro de Jovens. A irmã frisou acerca da importância de “que os jovens assumam esse protagonismo frente às questões de ameaças e quanto às demandas pelo território e seus direitos”. Para Gilmar Oliveira contrariando atos do passado as ações como estas não se fundam na construção de uma igreja na comunidade, mas no fato que os povos indígenas tenham suas lutas reforçadas frente às situações que os afetam. Nesse sentido, entende que a juventude tem papel importante e deve tomar parte no processo político interno e externo as aldeias. E, sendo iniciativa e demanda da juventude o CIMI toma parte como apoio contribuindo para que os jovens venham assumir um importante papel como lideranças.

No dia 29 de julho após a mesa de debate com jovens em formação universitária e integrantes das aldeias da T.I Mãe Maria foi indicado um grupo de jovens, a fim de dá em encaminhamento ao processo de mobilização. E com intuito de fazer um levantamento e articulação com demais aldeias e grupos indígenas da região.

Vários dos participantes argumentaram ter saído satisfeito com a qualidade do debate ali estabelecido. Sendo ressaltada a importância da composição de uma equipe dos jovens da T.I Mãe Maria com interesse de levar adiante a organização. A que se propõe definir melhor seja como uma rede ou um movimento, que faça frente às questões e direitos dos povos indígenas.

Além dos grupos indígenas participaram do encontro, as professoras da comunidade entre quais as professoras Loide Souza e Eliz Sampaio. Participaram a professora Vanalda Gomes Araújo da equipe de formação do CIMI – Marabá, professores e discente da UNIFESSPA, IFPA, a antropóloga Edna Mayorga egressa do PDTSA/UNIFESSPA. E Rita de Cássia (UNIFESSPA) pelo laboratório e Grupo de Pesquisa Núcleo de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará e pesquisadora Nova Cartografia Social. Que ressaltou as questões de impactos de projetos mineração e infraestruturas com riscos ambientais e ameaças aos territórios dos povos tradicionais no sudeste do Pará. Questões que estão sendo acompanhado através ds atividades do “Projeto Estratégias de Desenvolvimento, Mineração e Desigualdades: Cartografia Social dos Conflitos que atingem Povos e Comunidades Tradicionais na Amazônia e no Cerrado” com a “Cartografia Social do Sul e Sudeste do Paraense – Povos Comunidades Tradicionais: Impactos da mineração e projetos de infraestrutura no sul e sudeste do Pará”. Com isso ressaltou o indicativo da agenda oficina de Mapa junto ao grupo indígena, como parte das ações em andamento.

Texto e fotografias: Rita de Cássia Pereira da Costa

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