O auditório do Campus Marechal Rondon da Universidade do Oeste do Pará – UFOPA recebeu um público de 107 pessoas que participaram da abertura do Encontro Regional do Projeto Mapeamento Social como instrumento de gestão social contra o desmatamento e a devastação: processos de formação e capacitação de povos e comunidades tradicionais. Indígenas, quilombolas, pescadores, artesãs, agricultores, estudantes, técnicos, professores universitários compartilharam três horas continuas de debates sobre o tema, de maneira a refletir interpretações que convergem para compreender as concepções sobre identidades coletivas e territorialidade especificas na região do Oeste do Pará.
A abertura oficial teve a presença do professor Aldo Queiroz, em representação do Reitor da UFOPA que agradeceu o convite do Instituto Nova Cartografia Social e manifestou a posição dessa instituição pública de “fortalecer os movimentos sociais e tradicionais na nossa região”. Na mesma linha o argumento da professora Francisca Haddad do papel da universidade de “ajudar as populações a se manifestar nesses debates”.
O primeiro conferencista da Mesa foi João Tapajós – Vice-Presidente do CITA – Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns e acadêmico da UFOPA relatou o assassinato de três indígenas em Munduruku em Teles Pires no enfrentamento com tropa da policia federal e solicitou um minuto de silencio no auditório pelas vitimas deste ato. Na reflexão sobre “Territorialidade e identidades coletivas” frisou: “Hoje ninguém se surpreender quando se fala de povos indígenas na região do Baixo Amazonas, mas enquanto não há uma mobilização os grupos estão em anonimato” e acrescentou o “território como força e defesa para que esse território não seja depredado e por isto se vive, se luta. Sem território não temos uma cultura, nossas costumes e tradições”.
O senhor Benedito Mota – Representante de comunidades Quilombolas de Santarém e Baixo Amazonas e coordenador Regional da MALUNGU apresentou o quadro das comunidades e associações quilombolas, enfatizando que até o presente não houve nenhuma titulação coletiva dos territórios. No relato das lutas informou os vários companheiros que experimentam ameaças, pois “nós somos ameaçados em tudo: na vida, na madeira, na pesca”.
Concretizou citando as sete comunidades da região banhada pelo rio Maica que estão ameaçados pela pesca predatória, o “lixão de Perema” que está poluindo esse rio e concluiu: “Ai de nós que acabem com nosso peixe. O povo come arroz, feijão e peixe e ele nasceu comendo esse peixe que esta acabando no rio Maica”.
As narrativas de ameaças aos agentes sociais são recorrentes. Esses diversos eventos se relacionam com a antagonização das identidades coletivas, politicas indenitárias e mobilizações sociais desses grupos que desafiam o Estado, as politicas e os agentes econômico que entram na disputa dos recursos naturais (ictiofauna, hídricos, minerais, florestais) que se encontram nos territórios desses povos.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município Mojui dos Campos foi representada pelo senhor Luis Gonzaga que referindo-se as formas de existir, viver e trabalhar dos agricultores indicou as incertezas com a construção de hidrelétricas, a de Curua Una e a anunciada Hidrelétrica de São Luiz sobre o rio Tapajós. O sr. Gonzaga finalizou dizendo é um novo momento de ameaças; estão em pauta nossas vidas e o meio ambiente.
A reflexão sobre identidades coletivas retomada pelo professor Florêncio Vaz, professor da UFOPA fez a “historização das últimas décadas no relativo aos povos indígenas nesta região”. Não foram suficientes as pesquisas antropológicas e arqueológicas para desmontar a frase repetida “aqui não tem índio e não tem porque ela casou com cearense, deixou de ser índia” e pontuou “marcos dessas mobilizações com base na identidade coletiva”.
O Pará detém o maior número de pescadores artesanais do Brasil segundo dados do recém criado Ministério da Pesca e Aquicultura. Pescadores constituem uma identidade coletiva que não se reduz a categoria profissional, não coincide com a forma organizativa determinada em lei nas Colônias de Pescadores. A reflexão sobre a mobilização dos pescadores, que organizaram as greves em contestação as obras de hidrelétricas do rio Madeira e Belo Monte que impedem a continuidade da pesca artesanal nos rios barrados vem mostrando o significado da identidade coletiva de pescador. O exame das implicações da lei 11.959 de junho de 2009 que cria o Ministério da Pesca e Aquicultura e a Lei de Pesca sobre esta categoria social e os territórios de pesca foram centrais na exposição de Rosa Acevedo.
Alfredo Wagner Berno de Almeida fez a proposição de contribuir na reconceituação de território, como exercício de interlocução com os expositores dos movimentos sociais que antecederam na mesa e de categorias de interpretação das ciências sociais. A exposição frisou em um primeiro ponto, as categorias tempo e espaço. Esta última torna-se proeminente enquanto o tempo parece encurtado. Explicou que essas categorias são fundamentais para mostrar “o drama que vivemos na Amazônia que se desencadeia pela transferência do estoque de terras publicas para os particulares” e esta é fundamental nas denominadas politicas de ordenamento, regularização, de politicas nas quais o território é objeto da dimensão burocrática. O segundo ponto de reflexão foi a emergência de novas identidades. Convidava a pensar contextualmente. Em 1973 não haveria espaço para esse discurso como do CITA. Hoje esse discurso é arqueologicamente datado, de como surgem os povos. Situou o Reconhecimento das Identidades que não são fixas, o que desacredita as leituras essencialistas, primordialistas, e ela assim como território não é fixa, não é o mapa. Desta maneira, a atenção está nas politicas de reconhecimento e politicas de identidade. Entender estas proposições orienta para uma quarta proposição de ruptura com o eurocentrismo, inclusive na concepção do mapa, de suas concepções de centralidade (por exemplo, outro meridiano para indicar os fusos horários). A luta contra o eurocentrismo e o etnocentrismo é muito interessante e passa pelas crises da Europa, dos Estados Unidos, portanto, pode-se dizer com base em Eric Hobsbawm que o eixo da terra muda. Essas reflexões e síntese no tema de tempo e espaço é desafio que convidou a discutir.
Diversas manifestações dos presentes reabriram novas interpretações – algumas das quais se desdobrariam no Encontro Regional nos dias 13 e 14 de novembro de 2012.
No Campus foi aberta a Exposição: Amazônia: Povos e Comunidades Tradicionais do Projeto Nova Cartografia Social/Instituto Nova Cartografia Social que representa o trabalho de pesquisa realizado entre 2005 e 2011. Essa Exposição mostrava os 45 banners em corredores de acesso ao auditório já citado.
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