Nova Cartografia Social Da Amazônia

Entre a Grande Mineradora e o Garimpo Ilegal – Os agricultores Acampados do Eduardo Galeano (MST) em Canaã dos Carajás: “Só quer produzir, criar seus bichos, e não garimpo!”


Cultivo de roças de milho no Acampamento Eduardo Galeano

Em Canaã dos Carajás as diversas comunidades locais de assentamento, acampamentos e vilas convivem com a pressão e os impactos da grande mineração. Não obstante a essas situações, e na contramão das preocupações ambientais, mas em consonância com a alarmante expansão das ações de garimpo ilegais na Amazônia e Brasil – com respaldos e incentivo do governo federal, nos últimos anos – o Acampamento Eduardo Galeano sofre ações clandestinas de mineração e ameaças. E ocorridas, nesse caso, para a retirada de minério de cobre.

Ameaça e intimidação diante da atuação do garimpo ilegal

Agricultores Acampados do Eduardo Galeano, em Canaã dos Carajás, denunciam a presença de garimpo ilegal, com a ocorrência de ameaças e, incluso, disparo de tiro contra agricultores da comunidade, durante o final de semana de 24 de outubro de 2021. A ação de garimpagem tem impactado a comunidade e a ameaça ocorreu frente a resistência e tentativa de interdito da mineração, quando a comunidade, em assembleia, decidiu se manifestar através do fechamento da estrada para impedir o acesso e atuação de garimpo ilegal na área do Acampamento.

Nessa ocorrência, Rivelino Torres, agricultor e liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no Acampamento Eduardo Galeano, relata que recebeu um disparo que se projetou na direção dos pés. Este disparo foi desferido por parte de “suposto dono de garimpo clandestino, identificado por Clesio Goiano, ao atuar com ameaça e intimidação para extrair minério de cobre dentro da área da comunidade.

Nessa ocasião, um dos agricultores registrou imagens do local em que se encontravam em resistência e, em face disso, indicou a presença dos garimpeiros nas cercanias de um morro, apontado na área de abrangência do Acampamento Eduardo Galeano. E de dada ameaça com tiros para permanência no local e garantir a ação garimpeira, contrariando a decisão dos agricultores acampados os quais, em decisão coletiva, propuseram não permitir a continuidade da atividade, isto é, enquanto comunidade e integrantes do MST e, dessa maneira, denunciam o ocorrido no último dia 24 de outubro.

Ações anteriores do garimpo ilegal no Acampamento

As lideranças agricultores e a agricultoras do Eduardo Galeano informam que o garimpo clandestino liderado por Clesio Goiano passou a atuar na área e, durante o ano de 2020, com severas implicações de ameaças e impactos socioambientais para a comunidade. Entre as situações, a realização de explosões e utilização de dinamites em quantidades acima das comumente aplicadas, demonstrando falta de conhecimentos técnicos e provocando acidentes, prejuízos, como o abordo em animais e mulheres, afetações de lençóis freáticos, perdas dos poços amazonas. Situações que se tornaram impossíveis para a comunidade admitir, tendo decidido e conseguido paralisar as atividades.

De acordo com relatos de membros da comunidade, o garimpeiro que lidera a atividade clandestina de mineração já foi candidato a vereador em Canaã dos Carajás. E constituiu uma associação da qual participa como tesoureiro, onde atua com influência a que busca para intervir no acampamento, que passou a ser alvo das ações de mineração por ele impetradas.

Rivelino Torres ressalta que a contraposição não se faz contra os pequenos garimpeiros de modo geral, mas frente à atuação de garimpos ilegais como têm ocorrido em Canaã dos Carajás. E, por se marcar pelos impactos ambientais e ameaças, inclusive com uso de escolta armadas para garantia da entrada de caçambas e outros equipamentos, e assim inibir a contestação da comunidade.

“Cultivar a terra, plantar: somos agricultores!”

Os agricultores Acampados de Canaã dos Carajás e do Eduardo Galeano ressaltam o interesse de assegurar a terra e nela se encontrarem estabelecidos para cultivar e plantar, reconhecidos como agricultores. Desse modo, se nota que a mobilização social na região, e a partir dos acampamentos se marcam com destaque para a produção agrícola como forma de manejo da terra, garantia do sustento familiar e abastecimento local. Em que tem-se em questão o fato do município de Canaã dos Carajás ser um foco de fluxos migratórios na última década atraídos com expectativa de trabalho, sobretudo, na mineração.

Em resistência frente ameaças do garimpo ilegal, a partir do registro de vídeo, um dos agricultores afirmou que o Movimento dos Agricultores Sem-Terra e a comunidade não aceitam a ação garimpeira e suas ameaças. E argumenta que: “O povo vai enfrentar o garimpeiro, porque o povo, os trabalhadores do Eduardo Galeano estão aqui para trabalhar e produzir para se alimentar”

Cultivo de roças de milho no Acampamento Eduardo Galeano

Liliane Guimarães também afirma que a comunidade e o MST “Só quer produzir, criar seus bichos, e não garimpo!”

Criação de porcos no Acampamento Eduardo Galeano

Os agricultores acampados que participaram do processo de autocartografia através da Nova Cartografia Social da Amazônia entre 2017 e 2020 com a realização do Boletim Informativo e Mapa situacional indicam que a região e os antigos assentamentos de colonos estabelecidos através dos projetos de desenvolvimento da Amazônia se destacavam pelas práticas e produção agrícola. Estas foram decrescendo frente a expansão da pecuária e dos incentivos e a implantação dos grandes projetos de mineração.

A luta pela terra em Canaã dos Carajás e nos acampamentos que reivindicam a reforma agrária, tomam por força e fator político organizativo a produção agrícola diversificada, combinada de pequenas criações. Com essas expressões de luta se posicionam frente aos grandes empreendimentos e as ameaças a que se defrontam, a fim de assegurar a terra, na constituição de suas vivências e para produzir, criar e plantar, enquanto agricultores.

O Laboratório e Núcleo de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará manifesta apoio e faz registro do ocorrido da situação de ameaça no Acampamento Eduardo Galeano.

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