Viajando de barco da cidade de Tucuruí até a sede do município de Baião conferem-se diversas transformações do rio e suas margens, aquelas visíveis do desmatamento, erosão, aparecimento de praias permanentes. Somente quem conhece o rio Tocantins poderá observar detalhes sobre os povoados que experimentaram deslocamentos, a dificuldade de acesso às suas casas, pois alguns destes povoados ficaram em encostas pela redução do volume da água do rio, e pelo alargamento das margens, os castanhais menos frequentes ou mesmo extintos. Também saberá descrever a pesca realizada décadas atrás e comparará com as dificuldades no presente, a perda da qualidade da água e dificuldades da navegação.
O exercício de observação e de anotações sobre as transformações do Vale do Tocantins, no trecho de Tucuruí até o quilombo de Calados foi realizado em companhia do pescador e expropriado Esmael Rodrigues Siqueira. Esta constitui a primeira fase do survey realizado com o objetivo de estudar as transformações sociais, econômicas e ambientais nos nove (9) municípios à jusante do rio Tocantins ocorridas após a construção da hidrelétrica de Tucuruí. Desse trabalho de pesquisa em elaboração resultam fotografias e georreferenciamento de vilas, como Muru, Nossa Senhora de Pádua, comunidade do Félix, Vila Rua do Fogo e os quilombos Joana Peres e Calados.
O objetivo desse trabalho de campo foi realizar reuniões no Quilombo Calados. No trabalho anterior publicado no Caderno Nova Cartografia, Nº 10 “Atingidos pela Hidrelétrica de Tucuruí” tivemos participação de quilombolas que vivem na Resex Ipaú Anilzinho. Com a visita a Calados foi possível referenciar dados sobre os quilombos localizados no município de Baião, que têm em comum terem sido afetados pela hidrelétrica de Tucuruí, atividade do projeto de pesquisa “ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO, MINERAÇÃO E DESIGUALDADES: CARTOGRAFIA SOCIAL DOS CONFLITOS QUE ATINGEM POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DA AMAZÔNIA E DO CERRADO”.
Na Escola Polo de Calados foi realizada uma reunião no dia 20 de junho com a presença de 61 pessoas. As pesquisadoras da Universidade Federal do Pará – Jurandir Santos de Novaes, Thamirys Casiano di Paula Matos, Rosa Elizabeth Acevedo Marin e Maria Fantinato Geo de Siqueira (Universidade Columbia Nova York), convidada pelo Projeto Nova Cartografia Social. Foi feita uma breve exposição de suas experiências de pesquisa e objetivo do trabalho. Na ocasião foram doados materiais para a biblioteca da Escola.
Na segunda parte, já no horário noturno foi organizada uma mesa formada por lideranças de longa trajetória de lutas políticas na região e contra a UHE Tucuruí e por indenizações dos danos sociais e ambientais provocados a jusante, até hoje não reconhecidos pela Eletronorte. Essa mesa foi presidida pela professora Rosaly Ferreira Moreira e Doriani Rodrigues Siqueira, respectivamente, vice-Presidente e Presidente da Associação quilombola de Calados; e ainda, os senhores Raimundo Dias Campelo, Getúlio, Sebastião. Cada um desses expositores descreveu experiências de transformação da vida da comunidade com essa obra, e também se detiveram nos efeitos que virá trazer a Hidrovia do rio Tocantins.
De Calados à cidade de Baião onde ficou hospedada a equipe a distancia é de 15 km por uma estrada não asfaltada. As observações focalizaram a vegetação e os cultivos. Com a introdução da pimenta do reino, principal produto do município, as terras cultivadas com mandioca têm ficado reduzidas.
No dia 21 foram realizados exercícios de autocartografia. A presença de estudantes da Escola Polo de Calados foi canalizada para um trabalho de cartografia social. As duas equipes de estudantes se distribuíram no hall de entrada e na Biblioteca da Escola para desenhar os croquis e legendas.
Os adultos dedicaram horas para suas narrativas e elaboração de croquis nos quais inseririam observações espaço temporais, que marcam o sentido e as formas das transformações sociais e ambientais.
Elaboração: Rosa Acevedo Marin, Jurandir Novaes
Fotografias: Maria Fantinato Geo Siqueira, Rosa Acevedo Marin, Thamirys di Paula Casiano de Matos.