Nova Cartografia Social Da Amazônia

Boletim Informativo 2 Na Lokono Arowaka Kahutshi Shikwa Khona Sainte Rosa de Lima, Kayeninro é lançado no Village Sainte Rose de Lima, Guiana Francesa


O povo Arowaka que vive no Village Sainte Rose de Lima festejou com palavras plenas, músicas, danças e caxiri o lançamento do Boletim Informativo 2 Na Lokono Arowaka Kahutshi Shikwa Khona Sainte Rosa de Lima, Kaheninro (Matoury) no dia 10 de fevereiro de 2018. O grande salão recebeu uma exposição de fotos organizada pelo senhor Willem Visser que realizou o trabalho de recuperação de fotografias, algumas delas bem antigas. O artesão Kenneth Jubitana fez uma exposição de diversas peças fabricadas com folhas de arumã. O grupo musical Wang Da Bothé, as cantantes e as dançarinas tiveram a seu cargo a parte final do lançamento para o qual foram convidadas as autoridades indígenas das 57 aldeias que existem na Guiana Francesa. Igualmente foi estendido o convite para as autoridades da França (Prefeito de Matoury, Vereadores, Conselheiro Territorial). No público contaram-se mais de 60 pessoas.

Abertura da sessão de lançamento do Boletim Informativo 2 Na Lokono Arowaka Kahutshi Shikwa Khona Sainte Rosa de Lima, Kayeninro.

O senhor Hubert Henri Biswana realizou a abertura do ato com palavras de boas-vindas em língua Arowaka, posteriormente, informou sobre a programação. Em seguida, o senhor Willem Visser, atual presidente da Association Kayeno foi convidado para falar e fez um breve discurso explicando as denominações recebidas pelos Arowaka e sua distribuição no Suriname, Republica de Guiana, Venezuela, Colômbia e Bolívia. O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) representado pela pesquisadora Rosa Acevedo Marin fez uso da palavra para manifestar total satisfação pela oportunidade de realizar o lançamento e ressaltou que o Boletim publicado é resultado do Projeto Mapeamento Social de Povos e Comunidades Tradicionais na Pan-Amazônia: uma rede social em consolidação, já concluído e sob coordenação do professor Alfredo Wagner Berno de Almeida. Assinalou ainda que este Boletim 2 Na Lokono Arowaka Kahutshi Shikwa Khona Sainte Rosa de Lima, Kayeninro possui elementos distintivos, pois se trata de um boletim trilíngue: Arowaka, francês e português, em atenção à solicitação dos participantes nas oficinas e respondendo à própria política linguística que apoia a Associação Kayeno, desde sua fundação. Ainda comentou os tempos deste trabalho, pois se bem é lançado depois de quatro anos das oficinas representou denso trabalho de tradução, em especial, para a escrita da língua Arowaka. Trabalho ao qual se dedicaram a senhora Ursula Visser-Biswane, Hubert Biswana, Denny Caboelefodo Gertrude Biswana, Octave Biswana. Os desafios da obra de tradução em Arowaka, francês e português foram objeto da dedicação de Raphaelle Servius- Harmois Hartemann, também pertencente ao povo Arowaka.

Rosa Acevedo intervém para registrar manifestações de agradecimento pelo trabalho integral realizado pelos Arowaka (foto Alice Hartemann)

Às oficinas de tradução, os diversos detalhes da confecção do mapa, levantamento de fotos, consultas sobre as cores, a disposição de fotografias somou-se a um período longo de intenso intercambio entre os pesquisadores, o responsável pela cartografia e pela diagramação, o que explica a espera relativamente longa. Ainda se aguardou pela melhoria da saúde da senhora Ursula Visser Biswana e, meses depois do seu sentido falecimento, o tempo em que os Arowaka de Sainte Rose de Lima sentiram-se fortes para o lançamento do Boletim para o qual a presidente Ursula Biswana tanto se doou. Portanto, a gratidão e a homenagem à senhora Ursula Visser Biswana foram os sentimentos mais fortes. Rosa Acevedo concluiu com sincero agradecimento pelo trabalho realizado durante este período de 2013 a 2015, pela espera dos últimos meses, a confiança no resultado e a nova acolhida para o lançamento do Boletim.

Na mesa foram expostos os Boletins e a foto da senhora Ursula Visser-Biswane (1947-2017) – presidente da Associação Kayeno (1989-2017) e quem conduziu uma política de reconhecimento dos Arowaka internacionalmente. Também foi ela quem acolheu com empenho a realização do projeto da nova cartografia social no village Sainte Rose de Lima. O lançamento constituiu a primeira homenagem do povo Arowaka a sua liderança. (Foto Rosa Acevedo).

A intervenção de Raphaelle Servius-Harmois Hartemann, secretaria da Associação Kayeno, pesquisadora e articuladora direta das atividades realizadas pelo PNCSA junto aos Arowaka dirigiu-se aos presentes para agradecer a presença e situar os pormenores e expectativas de continuação do trabalho pela Associação. Na continuidade, ela conclamou aos que participaram da Oficina a fazer comentários sobre o trabalho realizado, sobre os conteúdos e apresentação estética.

Os presentes tiveram a oportunidade de assistir o vídeo maker “Arowaka Village Amérindien Sainte Rose de Lima” (2015) elaborado pelo PNCSA com registro de mais de 200 fotos do trabalho realizado nas oficinas de cartografia, oficinas de tradução e do espaço da aldeia.

Hubert Biswana comunicou seu contentamento com o Boletim e a importância para o povo Arowaka, pois afirma a relevância da língua para a identidade. Christina Biswana comentou que o Boletim é uma afirmação enquanto Arowaka é dizer: A frase WEI TO AROWAKANON ! (Nós somos Arowaka!) exprime o significado de pertencimento e identidade do povo Arowaka. A jovem Marcella Biswana comentou estar “surpreendida, pois depois de 4 anos pensava que não haveria o Boletim e estou feliz por ter dado certo para nós Arowaka”.

A senhora Christina Biswana fez uso da palavra para comentar o Boletim Informativo do povo Arowaka

Raphaelle Servius-Harmois Hartemann dirigiu-se aos convidados para fazer uso da palavra e passou o microfone para o senhor Tawayakale Kouyouri (povo T+IEWUYU) (povo Kouyouri) amigo de Ursula Visser Biswane e a quem acompanhou de perto na sua luta pelos direitos e reivindicações dos Arowaka. Na sua opinião “Esse é o trabalho que cada um de nossos povos deve fazer e devemos fazer para que os nossos povos não esqueçam sua história, o que foi feito e o que devemos fazer de concreto. Eu sou escritor e tradutor da minha língua, ou seja, situou-me no trabalho que deve ser feito de apropriação da língua em toda a Amazônia que nos pertence, pois nós somos o futuro. Se nos esquecemos de nossa língua corremos perigo. Nos vemos que nossas línguas estão se perdendo e elas estão guardadas em nossa alma. É muito trabalho a fazer. Vejam que os linguistas não fazem o mesmo trabalho, que nós deveríamos fazer e como começaram Ursula Biswana e Raphaelle. Eu me emociono de falar de Ursula Biswana porque acompanhei todo o que ela fez para deixar às gerações futuras. O primeiro mostrar que nós os povos indígenas estamos aqui. Mas, é necessário conhecer o que nós somos. Esse trabalho para fazer não é qualquer coisa, é traduzir nossa língua. Nossas línguas em primeiro lugar, e depois as línguas que nos dominam. Finalizou, dirigindo aos Arowaka uma pergunta: será que existe uma forma de reunir todos os povos que falam a língua, por exemplo, o Arowaka? Essa seria uma ação para reunir todos os tradutores.

O senhor Hubert Biswana comentou em resposta sua experiência: “Já fizemos um pouco dessa ação. Tivemos uma reunião de todos os tradutores. Nós estivemos em Guiana e falamos com os Arowaka de lá. Eu aprendo todo dia minha língua. É necessário continuar e nós vamos isso que nos permita a todos falar a língua”.

A sessão final ficou a cargo do grupo Musical Wang da Bothé, cantoras e jovens dançarinas do village Sainte Rose de Lima, ato que foi anunciado pelo senhor Hubert Biswana após agradecimento à Associação Kayeno, Projeto Nova Cartografia Social, convidados externos e participantes do village Sainte Rose de Lima.

No início do evento as crianças folharam com grande interesse o boletim. No fundo do lado esquerdo os senhores Willem Visser e Tawayakale Kouyouri (povo T+IEWUYU) (foto Rosa Acevedo)

As jovens Arowaka durante os preparativos para a dança no salão da aldeia (foto Rosa Acevedo)

Exposição de artesanato montada pelo senhor Kenneth Jubitana na sala de reunião do Village Arowaka de Saint Rose de Lima.

Apresentação de danças por crianças e jovens Arowaka

A foto do avô do senhor Wabarhosin Charles Wingarde (foto recuperada por Willem Visser)

Wabarhosin Charles Wingarde, capitão do Village Sainte Rose de Lima, (centro), Raphaelle Servius-Harmois Hartemann (direita) e Rosa Acevedo (esquerda) (Foto Alice Hartemann).

Os últimos momentos do lançamento foram acompanhados pelo capitão Wabarhosin Charles Wingarde que havia manifestado sua indisponibilidade de horário por ter sido convocado a participar da reunião do Grande Conseil Coutumier, convocado pela Prefeitura de Caiena e o Conselho Territorial cujo debate é de extrema importância para os povos tradicionais na Guiana Francesa. Na reunião preparatória dos povos indígenas realizada no dia 09 de fevereiro no mesma sala do village Sainte Rose de Lima houve uma rápida troca de palavras com o senhor Jean Aubéris Charles, liderança da Federação das Organizações Indígenas da Guiana (FOAG) convidado em eventos anteriores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.

O capitão Wabarhosin Charles Wingarde durante sua presença na reunião preparatória do lançamento no dia 7 de fevereiro realizou comentários sobre o conteúdo do Boletim 2 ressaltando os documentos de sua própria história quando apontava as fotos de sua mãe e avó, e também, a relevância de debates atuais na Guiana sobre as autoridades tradicionais, as questões de terra, o relativo aos direitos indígenas contemplados na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

Raphaelle Servius-Harmois Hartemann e Hubert Henri Biswana no momento da confraternização (foto Alice Hartemann)

 

Rosa Acevedo Marin (elaboração), Raphaelle Servius-Harmois Hartemann (revisão).

 

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