Nova Cartografia Social Da Amazônia

As formas organizativas do Médio Mearim Maranhese perdem Raimundo Vital dos Santos (03 de junho/2020)


É com profundo pesar que informamos o falecimento no dia 03 de junho de 2020 do senhor Raimundo Vital dos Santos, um trabalhador/agricultor familiar ou agroextrativista, como também costumava se auto apresentar, com uma história de luta em defesa dos direitos de diferentes grupos sociais na região do Médio Mearim Maranhese. Dentre essas lutas destacam-se: a luta em defesa da regularização fundiária; a luta pelo livre acesso aos babaçuais e pela aprovação das leis municipais Babaçu Livre, assim como das leis estaduais; por uma educação coadunada com os interesses dos jovens agricultores, sendo um dos protagonistas no processo de criação das escolas famílias agrícolas e na inserção do Ensino Médio na região, além de ser um dos grandes incentivadores à organização política dos jovens rurais.

  

Na região, conhecida como Médio Mearim Maranhense, eclodiram fortes conflitos de terra nos anos de 1980, decorrentes das políticas governamentais desenvolvimentistas que priorizaram a agropecuária. A resistência dos trabalhadores rurais e das mulheres quebradeiras de coco babaçu resultaram em desapropriações de fazendas e criação de projetos de assentamento do INCRA e do Instituto de Terras do Maranhão (ITERMA). Os grupos contemplados com essas políticas de reforma agrária, de posse de suas terras, inventaram formas organizativas econômicas e políticas, com pleitos distintos, envolvendo a luta das mulheres quebradeiras de coco babaçu, quilombolas, agricultores familiares e jovens. Hoje a região é uma referência em experiências de cooperativismo e associativismo com a conciliação das dimensões social, política e econômica e nos debates sobre propostas sustentáveis de produção integrada, que conjugue agricultura, pecuária e extrativismo do babaçu. Tais experiências, em seus múltiplos espaços e eventos, têm denunciado, ao longo das últimas três décadas, os efeitos dos modelos de desenvolvimento econômico que privilegiam o agronegócio e o uso indiscriminado de agrotóxicos, produzindo, de forma silenciosa, as pandemias denunciadas pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Raimundo Vital dos Santos, nascido no dia 15 de agosto de 1957, era casado há 38 anos, com D. Ivete Ramos dos Santos, 57 anos, uma das fundadoras da Associação de Mulheres Trabalhadores Rurais (AMTR). Deixou sete filhos e nove netos. Atuou em diferentes formas organizativas. Foi fundador e coordenou, em vários momentos, a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), a Cooperativa de Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ), Centro Educacional Manoel Monteiro (CEFA); Associação Comunitária de Educação em Saúde e agricultura do Médio Mearim (ACESA) e atualmente estava como Presidente da União das Associações das Escolas Familiares Agrícolas do Maranhão (UAEFAMA).

Faleceu em decorrência de um câncer no pulmão, em plena pandemia de COVID 19, deixando muitos dos seus companheiros duplamente tristes, por não poder estar presente em sua despedida, devido ao isolamento social. Mas, como disse D. Ivete, “Nós temos que ficar com a lembrança das coisas boas que vivemos com ele”. As fotos são uma homenagem da família ao eterno companheiro Vital. Nunca esqueceremos seu sorriso, mesmo nos momentos mais difíceis.

Por: Helciane de Fátima Abreu Araujo e Cynthia Martins

 

Artigo anteriorPNCSA na Marcha Virtual pela Vida contra os gestores do território da morte - 09/06/2020 Próximo artigoAjude as Comunidades Indígenas de Manaus