A abertura de uma horta era o sonho da comunidade quilombola de Pau Furado. Seria uma horta diferente aberta com a cooperação e trabalho de várias pessoas. Assim ocorreu nessa semana e os trabalhos mobilizaram umas 15 pessoas durante três dias. O grupo iniciou com a limpeza do terreno que se situa nos fundos do Centro de Ciência e Saberes Raimunda Carneiro e Theodoro Lalor de Lima. Este espaço que ganhou o nome do Museu Quilombola de Marajó, foi inaugurado em 2018 e reúne as iniciativas de trabalho comunitário para transformar a antiga Escola de Pau Furado, em estado de arruinamento, em um espaço para múltiplas atividades, acolhendo iniciativas de cursos (fabricação de sabonete, artesanato feitos com materiais locais, ensino musical, reuniões). O Centro de Ciência e Saberes ainda completou de elaboração de Fichas dos objetos doados. As visitas têm aumentado, com admiração pela iniciativa.
Maria José Alcântara Carneiro, egressa em 2014 do Curso de Etnodesenvolvimento – Faculdade de Etnodiversidade do Campus de Altamira articulou e geriu a reforma do prédio da Escola, que possui sete salas, copa e banheiros. Com a abertura da roça, Maria José Alcântara concretiza os debates realizados no seu Trabalho de Conclusão de Curso com o título: Práticas alimentares no Quilombo de Pau Furado: base para elaboração de Hortas e Plantas Frutíferas, o qual foi defendido na própria comunidade.
A colaboração institucional dos quilombolas de Pau Furado foi recebida foi de parte do SENAI. Os quilombolas confiam que a horta tenha vida longa e sonham com ver e provar os frutos. O sonho está em caminho de ser realizado. O pleito maior é a titulação do território coletivo cujo processo encontra-se no INCRA. Esse órgão foi sentenciado pela Justiça Federal do Pará a regularizar as terras quilombolas no Arquipélago de Marajó e estabeleceu prazo de dois anos para concluir o processo de regularização. Os processos de regularização tiveram início entre 2003 e 2007. No município de Salvaterra listam-se as comunidades Campina, Santa Luzia, Caldeirão, Deus Ajude, Pau Furado, São Benedito, Paixão, Salvar, São João, Bacabal, Rosário, Boa Vista), uma em Cachoeira do Arari (Gurupá), e uma em Curralinho (São José de Mutuacá)1. A total paralisação do INCRA. passando de mão em mão de militares, constitui um ataque aos direitos conquistados pelos quilombolas. Enquanto isso o cultivo de arroz e a pecuária degradante expandem-se e reforçam os cercamentos dos territórios tradicionais.
Fotografia: Maria José Alcântara Carneiro.
Texto: Rosa Acevedo
1. Em http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/justica-obriga-incra-a-regularizar-terras-quilombolas-no-arquipelago-do-marajo-pa. Acesso em 22/10/2019.