Nós do povo Kokama estamos situados principalmente no Brasil, no Peru e na Colômbia, onde nossas famílias foram divididas pela fronteira da separação por invasores brancos que hoje mandam nestas nações que foram nossos territórios sagrados. Mas como povos da floresta ainda temos contatos e experiências conjunta através da Medicina tradicional Kokama e do ritual da Ayahuasca entre os Kokama dos três países.
Nossa estrutura tradicional de governo são:
- Cacique de Comunidade: governante dos moradores locais. Preside a Comunidade local.
- Cacique Geral de Município: Assessora os caciques locais de Comunidade de seu território. Presidente o Cacicado Geral do Povo Kokama de Município – CGMK.
- Patriarca Cacique Geral do Povo Kokama: Assessora os Caciques gerais de Municípios. Um líder tradicional superior. Sendo que não decide nada sozinho. Os kokama decidem tudo no coletivo pelo consenso da maioria. Sendo que o patriarca é o guardião dos conhecimentos milenares. Preside o Movimento do Cacicado Geral do Povo Indígena Kokama – MPKK.
A estrutura tradicional se baseia na também na harmonia com os poderes tradicionais dos Médicos Tradicionais (Benzedores, Parteiras, Curadores, Rezadores, Sábios, Pajés e Taitas). Sendo o Taita último nível dos Médicos Tradicional.
Também em harmonia de poder com o Mestre-artesão que mantêm a cerâmica tradicional viva, danças, artesanatos e grafismos. Com os guerreiros e construtores que protegem e constroem a comunidade. Com os falantes maternos Professores tradicionais da língua masculina e da língua feminina. Juntos mantemos vivo o jeito de ser Kokama no mundo atual.
Em poder administrativo-jurídico temos dois grandes órgãos Kokama:
OGCCIPK – ORGANIZAÇÃO GERAL DOS CACIQUES DAS COMUNIDADES INDÍGENAS DO POVO KOKAMA, inscrito no CNPJ (MF): 04.603.779/0001-90, sede e foro Tabatinga-AM. Presidente: ELADIO RAMIRES CURICO.
TWRK – FEDERAÇÃO INDÍGENA DO POVO KUKAMƗ-KUKAMIRIA DO BRASIL, PERU E COLOMBIA – Tapɨya Weteratsun Ritamakuara Kukamɨ-Kukamiria Pray+iuka, Peruka riai Kurumpiaka, inscrito no CNPJ (MF): 16.862.108/0001-23. Presidente: GLADES RODRIGUES RAMIRES.
Para a Federação Indígena do Povo Kukami-Kukamiria do Brasil, Peru e Colômbia, neste ano de 2020 Tabatinga tem 5.538 indígenas residente na área urbana e sem contar com aqueles que são nossos parentes que não querem se reconhecer, que tem vergonha se identificar e aqueles que não sabem mais a origem familiar.
Dados oficiais não são iguais aos nossos:
- No Brasil constam 14.314 indígena Kokama (Siasi/Sesai, 2014), esse dados só os indígenas residentes em aldeias. Para nossas contagens somos mais 25 mil indígenas Kokama que se identificam no Brasil.
- Na Colômbia constam 236 indígenas Kokama (CONIC, 1988) , faltam contar aquele Kokama que residente na área urbana de Letícia. Pois este ano recebemos noticia de 5200 indígenas Kokama colombiano.
- No Peru constam 11.370 (INEI, 2007), sem contar os residentes em áreas urbanas no Peru. Informaram-nos que são mais de 38 mil kokama peruanos residentes na Amazônia peruana.
No site do IBGE atual pesquisa em 19/05/2020, às 10 horas da manhã, constam somente 11.274, totalmente diferente de nossa realidade e menos que a contagem da SESAI dos que moram nas aldeias.
A SESAI atende as 237 aldeias no Alto Solimões, que somam mais de 68 mil indígenas registrados no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena – SIASI/SUS.
A SESAI em Tabatinga, por exemplo, não atende os 5.583 indígenas Kokama residentes na área urbana de Tabatinga.
No Peru, o povo Kokama é muito maior, somando cerca de 19 mil no ano de 2003 (RAMOS, 2003), totalmente diferente dos dados apresentados pela FORMABIAP-Peru. Já na Colômbia somavam 792 Kokama em 2003 (UNESCO, 2004). O governo brasileiro vem tentando exterminar a etnia Kokama nos registrando em todos os cantos como “pardo” até mesmo na Declaração de Óbito dos hospitais.
Nós indígenas Kokama temos a pele morena, negra e branca, cabelos lisos e encaracolados e olhos de todas as cores, pois já tivemos varias mistura e pouco são puros filhos de Kokama com Kokama. Sabemos quem são nossos Kokama com os sobrenomes que vieram dos clã e algumas famílias tiveram sobrenomes adaptados aos dos não indígenas Kokama.
No ano de 2014, a equipe do Professor Dr. Pery participaram do Censo e na área urbana foram cerceados 4.325 indígenas kokama (FAPEAM, 2014). Sendo 71,9% dos indígenas residentes na área urbana.
Então, chegamos a Pandemia do Novo Coronavírus e o Brasil não se preparou e teve tempo, mas não se interessou defender os povos indígenas que são mais vulneráveis. Todos os planos de genocídio vieram numa boa para o Presidente da República que odeia indígenas desde a época de campanha.
O governo do Estado do Amazonas não se preparou para defender os povos indígenas e até hoje não fizeram um Plano Emergencial para os povos Indígenas. E ainda contratou uma branca que não conhece a realidade dos povos da floresta e ainda envolvida em varias polemica de corrupção de seu estado de origem, tudo orquestrado para destruir todos os conhecimentos milenares que foram levados pelos anciãos indígenas vitimas de Covid-19.
Os únicos a se preocupar no inicio da Pandemia foi a Prefeitura Municipal de Tabatinga através da Secretaria Municipal de Saúde que criou as barreiras sanitárias com os funcionários da Saúde mesmo antes de conformar o Gabinete de Gestão Integrada de Fronteira – GGIFRON com todos os órgãos instalado em Tabatinga-AM das três esferas de governo, numa tentativa de proteger os tabatinguense em confronto com o Governo do Estado e Federal que insistiam em não fazer estratégia de Isolamento Social que o mundo todo estavam fazendo.
O Brasil veio de confronto com tudo e hoje passa ser um pais não mais agradável de visitar o conhecer. Países de fronteira seca estão fazendo valão aberto para não deixar o povo passar, ficamos em maus lençóis para o mundo. Um país disposto a matar indígenas em nome do ouro, de outros minérios, do desmatamento e do agronegócio (monocultura). Somos um país onde o povo não é riqueza e são levados a sofrer mais e mais por uma pressão de extermínio institucionalizado.
Onde percebemos funcionários tanto na SESAI e na FUNAI disposto a ganhar seus salários calados, vendo um novo massacre oficial. Os órgãos indigenistas sendo instalados a presença de ex-militares envolvidos com ilícitos, milícias e perigosos para os lideres tradicionais e comunidades. Onde já até andam com uniformes dos órgãos sem mesmo seus nomes estarem no DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO como contratados ou voluntários. De forma a constranger as lideranças tradicionais, suas lutas coletivas e proteção ambientais.
Os hospitais sem estratégia para atender os povos da floresta e sem respeitar a presença dos médicos tradicionais das florestas em suas instalações de poder dos invasores que mandam e governam esse país. No hospital Militar de Tabatinga o Diretor do Hospital falou ao líder supremo dos Kokama que não recebe recursos para atender civis e indígenas, que deveria fazer igual fez o hospital militar de Marabá-PA que fechou as portas para civis e só atende militares. Que a única coisa que mandaram foi alguns funcionários civis e só. Onde tratam sem humanização pacientes indígenas e familiares. Onde até momento nenhum nativo saiu curado do Hospital Militar.
Vemos com muita preocupação a Militarização da Saúde, pois será mais difícil a saúde ter um olhar técnico e avanços na saúde e na tecnologia de saúde,pois não teremos analises técnicas e de conhecimento de causa, será o caos a saúde e futuro fim do SUS.
Muito triste ainda é por força de lei federal os povos indígenas serem separados como aldeados e urbanizados, os que moram na aldeia são atendidos pelo Subsistema de Saúde e os moram na cidade tentando lutar por espaço de atendimento com os não indígenas que também sofrem. Para nós não tem diferença, pois nossos Médicos Tradicionais atendem a todos os indígenas Kokama sem distinção, todos nós indígenas somos iguais, falamos a mesma língua, comemos a mesma comida e vivenciamos a mesma ayahuasca na cidade e na aldeia.
No dia 09 de abril de 2020 chegou em Tabatinga o primeiro caso Confirmado de COVID-19, onde uma enfermeira funcionaria da SESAI veio para a cidade de Tabatinga infectada. Depois no dia 13 de abril um barco que vinha de Manaus largou um suspeito de COVID-19 as margens do Rio Solimões, no Município de São Paulo de Olivença, era o indígena Kokama Cassin Alinca (Curado) que chegando a Tabatinga foi direto para UPA e daí os Kokama foram sendo vitimas do COVID-19 descontroladamente. Os meios de contagio eram devido as vindas para a cidade para resolver problemas bancários e logo o recebimento do AUXILIO DA MORTE e voltavam para a Comunidade levando o vírus.
Depois em todo o Estado do Amazonas o Covid-19 foi tomando conta dos Municípios e chegando às Aldeias e o povo foi o povo que mais sofreu perdas e contaminação.
JÁ PERDEMOS 45 KOKAMA ATÉ A DATA DE HOJE (19/05/2020) PARA O COVID-19:
- LINDALVA DE SOUZA MOURA, aposentada.
- AUGUSTINHO RODRIGUES SAMIAS, aposentado
- IDELFONSO TANANTA DE SOUZA, aposentado
- ANSELMO RODRIGUES SAMIAS, Professor e Agricultor
- ALBERTO GUERRA SAMIAS, aposentado
- MARIA VARGAS CASTELO BRANCO, Agricultora
- GUILHERME CAVALCANTE PEREIRA, aposentado
- ENA PINTO
- JOSÉ DA CONCEIÇÃO CAJUEIRO
- ANTONIO VELAS SAMMP, aposentado. Segundo Cacique de Sapotal.
- ANTONIO CASTILHO, Agricultor
- MARINO FERREIRA
- ANTONIO FRAZÃO ALVES
- SEBASTIÃO FERREIRA
- FRANCISCO PERES CALDAS
- VALMIR MORAES
- ELCI VARGAS
- VICTOR CURICO
- ZIZA MOREIRA KARAQUIA
- ROMUALDO RAMOS DOS SANTOS
- ANTONIO GASTAO DOS SANTOS
- JOSÉ LIMA DOS SANTOS
- ENEDINA ALVES DE CARVALHO
- JOSÉ CAJUEIRO CORDEIRO
- SEBASTIAO FERREIRA DOS SANTOS
- WALTER ALVES DE CARVALHO
- JONAS SENA ALVES
- LUCILDO PEDROSA DA COSTA
- ANTONIO BRANDAO AMARANTES
- ANASTACIA DA SILVA MARINHO
- ABRAAO MARINHO DE ALMEIDA
- ALTAMIRO PERES CALDAS (Teve infarto e não foi testado)
- GETULIO MARINHO
- ALZINEIEIDE DE CARVALHO DE ALMEIDA
- MARILENE DA CRUZ SOARES, cozinheira e agricultora
- MESSIAS MARTINS MOREIRA, Cacique e Agricultor
- CARLOS VILCHER DE ASSIS, aposentado.
- MARILENE RENGIFO SAMIA
- SEVERINO CHAUCHARI SAMIA, aposentado
- GUILHERME PADILHA SAMIAS, agricultor
- MARIA BANDEIRA DE SOUZA, aposentada
- MARIA PEREIRA MORAES
- TIA PRETA (TIA DO CACIQUE EDMILSON – GUADALUPE)
- JOÃO KOKAMA (TIO DO CACIQUE EDIMILSON – GUADALUPE)
- MARIA MACEDO
Uma das mais doloridas e comovente morte por Covid-19, foi do líder GUILHERME PADILHA SAMIAS, Comandante Superior dos Guerreiros e de Construção Tradicional da Federação Kokama TWRK, do povo Kokama, que ocorreu no dia 14/05/2020, por volta das 07h14min, no Hospital de Guarnição de Tabatinga – HGUT, Tabatinga-AM. A família aguardava todos os dias sua transferência para Manaus. O filho Edney Samias, havia pedido liberação de seu trabalho para ir como acompanhante de paciente para Manaus, todos os dias era a mesma coisa, desde o dia 03/05/2020 quando falaram que precisavam dos documentos para ir Manaus pois lá tinha mais tratamento para o paciente Guilherme Samias, que apresentava paralisação dos rins, mas esse avião nunca chegou. E o líder Guilherme faleceu esperando sobreviver, um fato marcante que não foi contado a família é que ele se levantou do leito onde estava e foi ao banheiro sozinho e não comunicaram a família. No dia do falecimento o HGUT queriam colocar na Declaração de Óbito como “pardo”, exigiam o RANI, nós Kokama não temos RANI, por mais de cinco horas para que fosse resolvido isso, o Hospital não tinha ciência do Documento recomendado pelo MPF para não exigir RANI. Enquanto o corpo foi levado para câmara frigorífica do Hospital e foi retirado pela Condução da Prefeitura responsável para levar o corpo para o Cemitério, onde não ouve velório e somente o enterro com caixão lacrado, sem o direito da despedida, toda a família suspeita de Covid-19 doente no enterro, cena muito triste para uma realidade. No local reservado para enterros de indígenas, Guilherme Samias foi sepultado às 16h35 na cova próxima a cova de seu pai Augustinho Rodrigues Samias (falecido em 30/04/2020) e demais familiares, onde são enterrados os indígenas. O Sr. Edney Samias sonhou levar seu pai para Manaus e tudo foi destruído porque SUSAM dizia que era Tabatinga que escolhia paciente e HGUT dizia que era a SUSAM que escolhia o paciente para ir de avião UTI, o maior empurra-empurra.
Queremos justiça para todas as famílias Kokama que ficaram desamparados. GOSTARÍAMOS de convidar alguns advogados que queiram nos ajudar para processar o HGUT, processar o Estado e processar os Médicos do HGUT de Tabatinga-AM, principalmente processar todos os hospitais onde morreram nossos membros Kokama e o Estado por aqueles que morreram nas residências.
Não somos só um número, somos pessoas indígenas, tivemos historia e clamamos justiça!!