Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira autora do livro Sou Filha de Quebradeira de Côco fez do lançamento do seu livro “Sou Filha de Quebradeira de Côco” um momento de forte emoção no III Salão de Literatura e na IV Semana Pan-Amazônica: diálogo intercultural e resistência epistêmica nas Amazonias, na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
No seu discurso de apresentação do livro falou dessa entrada na universidade como autora e se sentir parte, pois seu livro é produzido, reconhecido e será lido nessa instituição. Esse é um discurso de crítica e de vitória, pois ela conseguiu quebrar a “porta” da Universidade sem ter estado dentro como acadêmica para realizar o seu sonho. O segundo discurso foi sobre como aprendeu e prática a Política no cotidiano. Ela entende a Política como palavra plena que mobiliza para produzir atos de transformação da sociedade. Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira frisou pontos da ação organizativa, da experiência no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu e no movimento sindical no sudeste do Pará. Comentou também acerca da elaboração do livro e do fato de permitir situá-la em comparação ao lugar dos poetas que estiveram no III Salão do Livro dialogando sobre suas obras.
A professora Ana Pizarro (IEA /Universidad de Santiago do Chile) foi convidada para participar do lançamento e traçou linhas de reflexões sobre a publicação e seus significados literários, culturais e políticos. Enfatizou a relevância de vozes e da autonomia que expressam trabalhos como o da Cledeneuza Bizerra, pois estes lavram um espaço de compreensão do mundo ao se transformar em autores e interpretes da sociedade.
No lançamento estavam presentes as quebradeiras de coco babaçu na região – Iracema Vieira, Edna Batista Paiva, Luzia Domingas dos Santos, Edna Mayorga (equatoriana, discentes do PDTSA/UNIFESSPA), Clenilde Bizerra Oliveira da Silva (filha de Cledeneuza). Francisca Nascimento Silva coordenadora do MICQCB destacou na sua fala as situações de ameaça das quebradeiras e sua luta pela preservação do Coco Babaçu. Dona Luzia Domingas pediu a todos rezar o Ave Maria das Quebradeiras.
AVE MARIA DAS QUEBRADEIRAS.
Ave palmeira
Que sofre desgraça.
Malditos: derruba,
Queima, devasta.
Bendito é teu fruto
Que serve de alimento
E o leito da terra,
Ainda dá sustento
Santa mãe brasileira,
Mãe de leite verdadeiro.
Em sua hora derradeira,
Rogai por todas as quebradeiras!
(Socorro Teixeira)
Fonte: http://www.miqcb.org.br/imagens/pindova_11.pdf
Como narradora eximia Cledeneuza Bizerra discorre nas páginas do seu livro sobre os acontecimentos da vida, as lutas e as mobilizações sociais nas quais tem participação na sua longa e tenaz militância na região Sudeste do Pará. Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira afirma um percurso de liderança assinalada pela identidade de gênero e de extrativista, com atuações em várias frentes nos diferentes movimentos sociais, em especial, no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).
A publicação do livro não é fato corriqueiro havia explicado a autora do livro que enfatizou sua satisfação de ter suas narrativas organizadas no corpo de pesquisas realizados no sudeste do Pará, para o que contou com o apoio da professora Rita de Cássia Pereira da Costa, do quadro da UNIFESSPA.
O livro compõe a Coleção organizada no âmbito do PNCSA “em que membros de diferentes unidades sociais, designadas como povos e comunidades tradicionais, descrevem eles mesmos suas próprias experiências de luta, situações de conflito social, nas quais reivindicam seus direitos territoriais e suas expressões identitárias” (Almeida, 2017, p. 9).
A professora Rosa E. Acevedo Marin (NAEA/UFPA/NCSA) também ressaltou a proposta da Coleção do PNCSA e as atividades de pesquisa e ações de pesquisadores para o trabalho junto aos agentes sociais.
No salão encontravam-se alunos, professores, literatos de Belém e Marabá e demais participantes do III Salão de Literatura que contribuíram nas reflexões. Alguns deles marcaram sua própria experiência de vida de ser filho, neto de quebradeira de coco e o ato de lançamento significou trazer a memória experiencial de forma viva e comovente.
O livro e a atividade de lançamento estiveram organizados pelo grupo de pesquisa do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA e do Laboratório e Grupo de Pesquisa/ Núcleo de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA.
Rita de Cássia Pereira da Costa.
Pesquisadora do PNCSA; Laboratório e Grupo de Pesquisa Núcleo de Cartografia Social do Sul e Sudeste do Pará e; Professora da FECAMPO/ICH/UNIFESSPA.
Fotografias de Aline Miranda (FAHIS/UNIFESSPA)