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CLEDENEUZA MARIA BIZERRA OLIVEIRA, ELEITA PRESIDENTA DO SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES DO MUNICIPIO DE SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA


Na semana passada foi realizada a votação da chapa que conduzirá o Sindicato de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares – STTR do município de São Domingos do Araguaia no Estado do Pará nos próximos quatro anos. A nova diretoria tem como presidenta Dona Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira, trabalhadora rural, quebradeira de coco babaçu e sindicalista.

Dona Cledeneuza dirige-se aos presentes no ato de posse a frente do STTR de São Domingos do Araguaia. Foto de Simone Correia Carvalho, 29 de agosto de 2021.

Em sua fala de posse Dona Cledeneuza traz elementos importantes que indicam o caminho que pretende percorrer durante seu mandato à frente do Sindicato, como o trabalho coletivo e o fortalecimento da luta, representatividade e reconhecimento das mulheres. O Sindicato de São Domingos do Araguaia foi fundado no ano de 1992 e Dona Cledeneuza fez parte do processo de organização e fundação. 29 anos mais tarde é a primeira vez que o STTR terá uma mulher como Presidenta.

“Eu quero nesse momento mais uma vez agradecer primeiro a Deus e o compromisso que eu tenho com o povo e com o Sindicato de Trabalhadores Rurais, quero dizer para vocês muito obrigada pela presença, a compreensão e a paciência de todos vocês, dizer que a diretoria não é eu, somos nós, esse Sindicato não vai falar eu, vai falar nós, que cada um de vocês se sintam à vontade para ocupar o espaço de vocês com muita responsabilidade porque já foi dito, nós estamos tentando ser diferente, não ser melhor do que ninguém, mas, ser diferente e para ser diferente só tem uma coisa, é a gente confiar, respeitar e compreender o processo, então vamos juntos. Eu termino minha fala passando aos companheiros que queiram dá suas palavras para dizer dos seus sentimentos, o meu é alegria de missão cumprida, se não fosse está aqui nesse lugar, mas estaria em qualquer outro lugar desse aí cumprindo a minha missão de sócia do sindicato, trabalhadora rural, colaboradora de todos os movimentos, eu posso dizer sou trabalhadora rural, sou mulher do movimento onde naquela época se houve obrigado a criar um movimento pra gente participar e chegou hoje o dia de dizer que só vai se tiver 50% de mulher, a contagem tem que ser igual porque nós somos iguais em direitos e deveres, nós somos iguais, mulheres e homens, e foi o sindicato que lutou por isso e eu estava junto na construção e criou-se o movimento “que só é mulher” hoje a gente olha assim…mas na época era necessário para dar esse grito para chegar essa posição. Então eu sou também coordenadora do Movimento de Mulheres Quebradeira de Coco e pretendo também levar junto com o sindicato esse trabalho que incentive a mulher sair dessa situação que ela se encontra que não é capaz, que não se sente capaz de assumir as coisas, que ela se sinta capaz pelo conhecimento, pela compreensão, pela participação, então eu convido todas as companheiras que estão na chapa e as que não estão na chapa para que a gente possa cada dia se reconhecer melhor nessa sociedade, muito obrigada e que Deus ilumine cada um de nós e que a gente cumpra o dever no qual a gente está sendo confiado. Muito obrigada! ”.

Fala de posse de Dona Cledeneuza em 29 de agosto de 2021.

Filha de Quebradeira de Coco Babaçu chegou com idade de um ano a São Domingos do do Araguaia, vindo por Apinagés. O livro de Dona Cledeneuza intitulado “Sou filha de Quebradeira de Coco” segue-se a trajetória familiar, as transformações e as lutas sociais que marcam as unidades familiares; comenta neste livro que a sua família era formada por mulheres que se deslocaram por povoados em tempos diferentes. Na década de setenta elas viveram a Guerrilha do Araguaia e as memórias são ardentes; segue o tempo dos acirrados conflitos por terra e de formação de organizações que deram apoio, entre elas as Comunidades Eclesiais de Base – CEBS e as alternativas que surgiram com os projetos de assentamento. Ao longo de décadas a resistência foi feita no movimento sindical e no Movimento Interestadual das Quebradeiras de Côco Babaçu – MICQCB.

Dona Cledeneuza tem sido a educadora dos pesquisadores do PNCSA e nesta oportunidade nos congratulamos com sua escolha para conduzir o STTR de São Domingos do Araguaia, desejamos força e oferecemos apoio.

Dona Cledeneuza e membros da Diretoria durante o ato de posse. Foto Simone Correia Carvalho.

Redação: Caira Alves e Rosa Acevedo

Livro “Sou filha de Quebradeira de Coco” de Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira foi publicado em 2017.

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