Entre os dias 24 a 26 de abril de 2019, em Brasília, aconteceu o XV Acampamento Terra Livre (ATL) que reuniu mais de 4 mil lideranças e organizações indígenas de etnias de todas as regiões do Brasil. Na ocasião as diversas lideranças presentes aproveitaram a oportunidade para dialogar e debater sobre as ameaças sofridas pelos povos indígenas ao longo dos anos. Com o tema “SANGUE INDÍGENA NAS VEIAS A LUTA PELA TERRA”, “SANGUE INDÍGENA NENHUMA GOTA A MAIS”, “DEMARCAÇÃO JÁ”, “DIREITOS INDÍGENAS”, “PELA FUNAI INTEIRA E NÃO PELA METADE”, “NOSSAS TERRAS SÃO SAGRADAS, NÃO A MINERAÇÃO EM TERRAS INDÍGENAS” e “RESISTIMOS POR 519 ANOS E SEGUIREMOS RESISTINDO” as vozes dos povos indígenas ecoaram em Brasília e ganharam amplitude em todas as regiões da unidade federativa:
- “G1 Distrito Federal” com a chamada “Acampamento Terra Livre: mães indígenas contam ao G1 sonhos e lutas pelo futuro das crianças”. 27 abr 2019.
- “HUFFPOST BRASIL” com a chamada “As imagens da luta dos indígenas no Acampamento Terra Livre, em Brasília”. 24 abr 2019.
- “G1 Distrito Federal” com a chamada “Indígenas fecham parte da Esplanada dos Ministérios em protesto do Acampamento Terra Livre”. 26 abr 2019.
- “DW Brasil” com a chamada “A luta dos indígenas para não serem esquecidos em Brasília”. 25 abr 2019.
- “SBT Jornalismo” com a chamada “4 mil indígenas chegam a Brasília para três dias de reivindicações”. 25 abr 2019.
- “Terra” com a chamada “Greenpeace faz ato contra governo Bolsonaro em Berlim”. 24 abr 2019.
- “METROPOLES” com a chamada “Índios fazem vigília no STF contra MP que tira demarcações da Funai”. 25 abr 2019.
- “EL PAÍS-Brasil” com a chamada “Indígenas em Brasília: “Desta vez, não trouxemos nem as crianças e nem idosos”. 25 abr 2019.
- “EL PAÍS-Brasil” com a chamada “Acampamento Terra Livre 2019. “Dizer que nós mulheres indígenas não enfrentamos violência de gênero é mentira””. 28 abr 2019.
- “EL PAÍS-Brasil” com a chamada “Indígenas se reúnem em Brasília sob forte tensão com o Governo Bolsonaro”. 23 abr 2019.
- “JAMILCHADE” com a chamada “Xavantes denunciam governo Bolsonaro na ONU por “desmonte” da Funai”. 24 abr 2019.
- “G1 Rondônia” com a chamada “Mulheres indígenas de RO participam do Acampamento Terra Livre em Brasília”. 30 abr 2019.
- “SENADO Notícias” com a chamada “Milhares de índios apresentaram reivindicações em Brasília durante o Acampamento Terra Livre de 2019”. 29 abr 2019.
- “G1 Distrito Federal” com a chamada “Acampamento Terra Livre: após encontro em Brasília, indígenas pedem fim da violência”. 28 abr 2019.
- “BRASIL DE FATO” com a chamada “Acampamento Terra Livre reúne 4 mil indígenas em Brasília por direito a território”. 24 abr 2019.
- “CRP-PR” com a chamada “Políticas públicas para os povos indígenas é tema de debate no Acampamento Terra Livre 2019”. 29 abr 2019.
- “AMAZÔNIA NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES” com a chamada “Acampamento Terra Livre”. 30 abr 2019.
- “DOM TOTAL” com a chamada “Indígenas iniciam ‘Acampamento Terra Livre’ contra políticas de Bolsonaro”. 24 abr 2019.
- “MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra” com a chamada “Em Brasília, acampamento Terra Livre denuncia governo”. 25 abr 2019.
- “PODER 360” com a chamada “Com críticas a Bolsonaro, indígenas fazem ato em Brasília”. 23 abr 2019.
- “ADUFS” com a chamada “Acampamento Terra Livre reúne povos indígenas em Brasília” 22 abr 2019.
Notícias do Acampamento Terra Livre também foram publicizadas internacionalmente:
- “BBC NEWS” com a chamada “Brazil’s indigenous people: ‘We fight for the right to exist”. 25 Apr 2019
- “BBC NEWS” com a chamada “‘We live in terror’”. 25 abr 2019
- “REUTERS” com a chamada “Brazil’s Indigenous Tribes Protest Bolsonaro Assimilation Plan”. 26 Apr 2019
- “ALJAZEERA” com a chamada “‘Now belongs to us’: Women take lead in Brazil’s indigenous fight”. 25 Apr 2019
- “TELESUR TV” com a chamada “Indígenas llegan a Brasilia para reivindicar su derecho a la tierra”. 24 apr 2019
- “EGYPT INDEPENDENT” com a chamada “Indigenous protesters march on Brazil Congress over land rights”. 25 apr 2019
- “EURO NEWS” com a chamada “Acampada de indígenas en Brasilia para protestar contra Bolsonaro”. 25 abr 2019
Segundo relato de Altaci Correa Rubim Kokama, professora do Departamento de Linguística do Instituto de Letras da UnB e pesquisadora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia-PNCSA/UEA, que esteve presente no Acampamento Terra Livre 2019:
A mobilização dos povos e organizações indígenas levaram para Brasília mais de quatro mil lideranças e organizações indígenas no período de 24 a 26 de abril de 2019. Diante do panorama político vigente que destrói e ameaça a vida e o território indígena, o Acampamento Terra Livre repudiou veementemente a política de extermínio do governo brasileiro. Nesse sentido, realizaram vigília em frente ao STF com cantos, danças e rituais; audiência na Câmara Legislativa Distrital; realizaram a Plenária das mulheres indígenas onde foi articulada a marcha das mulheres indígenas para agosto em Brasília com o Tema: Território meu corpo meu espírito juntamente com a Marcha das Margaridas (marcha realizada por mulheres trabalhadoras rurais do Brasil). Realizaram a Plenária da Juventude Indígena, além de elaborar o documento final da ATL, 2019. Neste documento, as lideranças repudiam os ataques às terras indígenas, os ataques à Constituição Federal, os ataques ao meio ambiente, à cultura, à saúde entre outros. Os indígenas falaram e falam ao Brasil e ao mundo que estão vivos e vão continuar a resistir, lutando local, regional e nacional.”
O cacique Chaguim Arara em entrevista publicada pela Articulação dos Povos Indígenas (APIB), registrou em fala a luta dos povos indígenas e a importância do ATL:
Lutamos pelo direito de existir. Nossa luta vai além da questão da demarcação de nossas terras. Lutamos por nossas vidas, a vida de nossos filhos e familiares. Pela nossa cultura e tradição. Não queremos fazer mal ao branco. Não queremos mudar a cultura do povo branco. Não queremos tirar as terras do povo branco. Queremos apenas poder viver em contato com a mãe terra. E iremos lutar por isso”. (Cacique Chaguim Arara – Rondônia)
Também foi destaque durante o ATL a importância da mulher nas lutas do Movimento indígena, violência contra as mulheres, além das mudanças e perspectivas de novos espaços que elas têm ocupado nos últimos anos.
Além de depoimentos de lideranças indígenas presente no ATL 2019, algumas declarações videografadas repercutiram nacionalmente o levante indígena, segue um trecho da fala de Alessandra Munduruku:
“[…] os garimpeiros estão invadindo as terras, os madeireiros estão invadindo as nossas terras, é pra grilagem, eles estão comprando terra, estão invadindo terra e as nossas terras não é demarcada, por que não é demarcada as nossas terras? Por que as terras indígenas não são demarcadas? […] Saiu que a FUNAI não existe mais, tão colocando ruralista, tão colocando a FUNAI para a agricultura […] A Damares, que mulher é aquela? Aquela mulher não representa nós indígenas. […] Os evangélicos estão entrando sim na nossa terra para dividir o nosso povo, tirando a nossa cultura […] querem tirar a nossa alma. […] respeita o nosso território, respeita o nosso direito, respeita os nossos antepassados porque desde 519 anos nós estamos resistindo e dizer que mesmo que tirem a nossa raiz, ela está lá infiltrada e ela vai crescendo, ela vai criar mais frutas e as flores vão se espalhar” (Alessandra Munduruku, ATL, 2019)
Vídeo na íntegra Alessandra Munduruku:
Alessandra Munduruku pic.twitter.com/ba7K75KWXq
— NaySanttana (@NaySant71568936) April 25, 2019
O Assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas (APIB) Eloy Terena também registrou em fala a importância do Acampamento no ano de 2019 “ […] este ano, com a posse do presidente Jair Bolsonaro, o seu primeiro ato foi assinar a Medida Provisória n. 870, que impactou diretamente os territórios indígenas, colocando sob as asas do agronegócio a atribuição para demarcar terra indígena; ao tempo que os ataques e invasões aos territórios se intensificaram, especialmente na região amazônica. […] O Acampamento Terra Livre (ATL 2019), é um claro exemplo de participação política ativa, exercício da cidadania e defesa do direito de existir dos povos. Num país marcado pelo conservadorismo autoritário e pelo racismo, aos povos indígenas resta apenas continuar a resistência qualificada exercida pelos povos originários desde o início da implantação do projeto colonial”. Não há o que comemorar! (Eloy Terena – MS).
Nota na íntegra: https://www.facebook.com/eloyterena/posts/834476353597234
“Liderança indígena na região nordeste, Marcos Xukuru fala da luta dos povos originários do Brasil por justiça e pela manutenção dos seus direitos conquistados a duras penas na constituição de 1988.” (APIB, disponível em: https://www.facebook.com/apiboficial/videos/2437317446292703/)
APRIL 23: SOLIDARITY RALLY FOR BRAZIL’S INDIGENOUS PEOPLES THREATENED BY BOLSONARO
Durante o ATL os povos indígenas reunidos reivindicaram seus direitos frente às ameaças políticas do atual governo, e como documento final registraram suas reivindicações em nota pública:
- Demarcação de todas as terras indígenas;
- Mudanças na MP 870/19 para retirar as competências de demarcação das terras indígenas e de licenciamento ambiental do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e que essas competências sejam devolvidas ao Ministério da Justiça (MJ) e à Fundação Nacional do Índio (Funai);
- Que a Funai e todas as suas atribuições sejam vinculadas ao Ministério da Justiça, com a dotação orçamentária e corpo de servidores necessários para o cumprimento de sua missão institucional de demarcar e proteger as terras indígenas e assegurar a promoção dos nossos direitos;
- Que o direito de decisão dos povos isolados de se manterem nessa condição seja respeitado;
- Revogação do Parecer 001/2017 da Advocacia Geral da União (AGU);
- Manutenção do Subsistema de Saúde Indígena do SUS;
- Fortalecimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai);
- Efetivação da política de educação escolar indígena diferenciada e com qualidade;
- Implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI);
- Restituição e funcionamento regular do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e demais espaços de participação indígena, extintos juntamente com outras instâncias de participação popular e controle social, pelo Decreto 9.759/19;
- Fim da violência, da criminalização e discriminação contra os nossos povos e lideranças;
- Arquivamento de todas as iniciativas legislativas anti-indígenas, tais como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/00 e os Projetos de Lei (PL) 1610/96, PL 6818/13 e PL 490/17;
- Aplicabilidade dos tratados internacionais assinados pelo Brasil, que inclui, entre outros, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as Convenções da Diversidade Cultural, Biológica e do Clima, a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a Declaração Americana dos Direitos dos Povos Indígenas.
- Cumprimento das recomendações da Relatoria Especial da ONU voltadas a evitar retrocessos e garantir a defesa e promoção dos direitos dos povos indígenas do Brasil;
- Reivindicamos ao Supremo Tribunal Federal (STF), não permitir e legitimar nenhuma reinterpretação retrógrada e restritiva do direito originário às nossas terras tradicionais;
- Ainda, esperamos que, no julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.365, relacionado ao caso da Terra Indígena Ibirama Laklanõ, do povo Xokleng, considerado de Repercussão Geral, o STF reafirme a interpretação da Constituição brasileira de acordo com a tese do Indigenato (Direito Originário) e que exclua, em definitivo, qualquer possibilidade de acolhida da tese do Fato Indígena (Marco Temporal).
Brasília – DF, 24 a 26 de abril 2019
ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL - APIB
MOBILIZAÇÃO NACIONAL INDÍGENA (MNI)
Nota na íntegra: http://apib.info/2019/04/27/resistimos-ha-519-anos-e-continuaremos-resistindo/
Para maiores detalhes consulte APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil:
Vozes do Acampamento Terra Livre: https://soundcloud.com/user-618715233
http://apib.info/
https://www.facebook.com/apiboficial/
http://twitter.com/ ApibOficial
https://mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com/