O Boletim Povos do Cerrado em defesa de seus territórios e contra a devastação causada pelo agronegócio no Piauí foi lançado no dia 15/02/2019, durante o II Seminário MATOPIBA – perspectivas populares, realizado no Campus da UFPI de Bom Jesus. O evento, que foi realizado pela Articulação dos Povos Impactados pelo MATOPIBA (APIM), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC/UFPI), contou com a participação de 283 pessoas dos diversos municípios do Piauí, principalmente os localizados na área de atuação do MATOPIBA.
Esta publicação do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA) é resultado de pesquisa realizada ao longo dos anos de 2015 a 2018. O trabalho de campo realizado pela equipe de pesquisadores foi constituído de visitas às comunidades, reuniões, entrevistas, oficinas de produção de mapas e georreferenciamento das situações vivenciadas pelos povos do Cerrado. Bom Jesus, Baixa Grande do Ribeiro, Cristino Castro, Currais, Palmeira do Piauí e Santa Filomena foram os municípios onde a investigação foi realizada de forma mais intensa.
A situação dos babaçuais e das quebradeiras de coco babaçu é abordada e registrada em locais que até então eram desconhecidos até mesmo pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB, que esteve presente no lançamento do boletim. Desta forma, a floresta de coco babaçu vai além do Território Cocais e Entre Rios e se estende até o sul do Piauí.
Além das quebradeiras de coco babaçu, outros povos e comunidades foram contemplados na pesquisa, tais como indígenas Gamela, ribeirinhos, pescadores, brejeiros, trabalhadores/as rurais, assentados e agroextrativistas que se ocupam da extração do buriti e muitos outros frutos nativos. No momento, todas estas coletividades assumem a denominação de Povos do Cerrado, que é uma categoria identitária que serve de unidade de mobilização social e política. Por meio dela empreendem a luta contra o agronegócio que vem devastando a floresta nativa e se apropriando de seus territórios.
Inúmeros conflitos socioambientais foram etnografados, assim com a grilagem de terra e as ações do poder público que favorecem a agricultura empresarial. Verificou-se que um mercado de terra altamente lucrativo se constituiu, produzindo graves problemas ambientais, mazelas sociais, expropriação territorial e embates com episódios de violência e ameaças.
O mapa produzido traz uma síntese das situações dos povos e comunidades tradicionais; mostra as atividades produtivas, os espaços de convivência, as riquezas do Cerrado e o processo de territorialização das populações nativas, que compreende a ocupação dos baixões e das serras. Ele registra, ainda, os problemas ocasionados pelo agronegócio e a invasão das fazendas no território dos indígenas gamelas.
Durante o lançamento do boletim, houve a apreciação do trabalho realizado e diversas manifestações de gratidão e da importância da nova cartografia social para a luta dos povos do Cerrado.
Eu quero agradecer essa parceria que deu certo com a cartografia. Dizer para vocês que a gente deve muito ao professor Alfredo Wagner que é o maior parceiro do movimento das quebradeiras de coco. Eu acredito que foi ele que fez tudo isso acontecer. Eu digo para vocês, que as quebradeiras de coco com esse trabalho cresceu três vezes mais no Piauí. A gente está muito bem divulgada com esse trabalho (cartografia). Esse trabalho vem dizer pra nós que babaçu é sim uma floresta. Então a gente pode dizer com toda a clareza, com o documento na mão, que a gente existe e o babaçu existe. Essa é uma parceria que tem que continuar. O MIQCB descobriu que nessa região tem quebradeira de coco e muitas pessoas descobriram que o MIQCB existe (Helena MIQCB – Coordenadora do MIQCB /Regional Piauí).
Eu quero manifestar a minha satisfação. Quero destacar três pontos. Primeiro, a importância do registro. A gente tem muitas coisas boas que se a gente não registrar apaga da nossa memória. Depois, a questão da publicidade da luta dos trabalhadores e trabalhadoras que vivem em constante ameaça e conflito, a luta das comunidades dessa região. É importante que o povo do mundo tome conhecimento dessa realidade e agora a gente tem um instrumento para isso. Uma terceira questão, este (boletim) é um instrumento de luta e isso é real. A partir daqui agente tem elementos para fazer muitas denuncias, por que está aqui registrado. Esse trabalho é muito relevante e tem que ser valorizado (Paulo Henrique – Comissão Pastoral da Terra).
Foi muito importante, até por que até então tinha uma realidade que não existia o coco babaçu na região do Vale Gurgueia, não existia quebradeira de coco. E aqui nesse boletim é apenas o começo de nós dizermos que além das quebradeiras de coco, tem comunidades tradicionais que precisam ser vistas. A mídia só coloca a soja, o agronegócio. Quem mantem mesmo as famílias é o feijão, é o arroz da agricultura familiar (Claúdia – Assentamento Taboca).
O momento agora é só de agradecer, por que antes nós lá na nossa região não era reconhecido, não sabiam que a gente existia. Hoje nós temos como provar que nós existimos. Isso aqui é um documento de muito valor. Hoje nós temos um documento na mão que pode servir para muitos temas (Juvercino – Comunidade Chupé).
Antes na nossa região nós não tínhamos noção dessa questão das quebradeiras de coco. Era um povo que viva no anonimato e a partir dessa pesquisa a gente pode ver que existia, como no Sítio, a organização de quebradeira no sul do Piau; que existe produtoras, mulheres quebradeiras de coco e comunidades tradicionais. Eu acredito que esse trabalho vai muito contribuir por que trouxe muitas comunidades para dentro dele (Laésio – Comunidade São Francisco).
As quebradeiras de coco babaçu do sul do Piauí nunca foram reconhecidas. Por isso que os invasores tem facilidade de invadir terras, sem o consentimento dos moradores da localidade. E quando surgiu a oportunidade de falar sobre a comunidade Sítio, eu fiquei muito feliz com isso. Eu participei das coletas de pontos de gps onde tem os cocais da minha localidade e está no mapa aí. Eu juntamente com um primo. Eu fiquei feliz, muito, bastante mesmo (Maria do Espírito Santo – Comunidade Sítio).