No dia 24 de setembro de 2018, no Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Miguel Alves, estiveram reunidas quebradeiras de coco babaçu de diversos municípios do Piauí (Esperantina, Joca Marques, Lagoa Alegre, Madeiro, Miguel Alves, Moro do Chapéu, Palmeirais, São Joao do Arraial, Teresina e União), para comemorar o Dia da Quebradeira de Coco Babaçu. O evento foi organizado pelo Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), em parceria com a Comissão da Pastoral da Terra (CPT). A programação contou com a animação da Banda Peleja e foi constituída de momento de espiritualidade, caminhada pelas ruas da cidade, apresentações culturais, Tribuna das Mulheres e discussão sobre a Lei do Babaçu Livre. Os produtos do babaçu foram expostos, vendidos e degustados durante o dia.
Nós estamos aqui em Miguel Alves porque as quebradeiras estão aqui. Esse dia é porque foi o dia em que aconteceu o primeiro encontrão das quebradeiras de coco babaçu, no dia 24 de setembro, por isso é o Dia da Quebradeira de Coco Babaçu. Mas não foi fácil não esse dia ir pra legislação. O primeiro foi no Maranhão e o segundo no Piauí… A gente vive do babaçu. É a mossa luta. Nós estamos aqui dizendo para o Brasil e para o Piauí que as quebradeiras estão em Miguel Alves, estão em Esperantina, no Sul do Piauí, nós estamos em todos os lugares. Nós estamos nos quilombos, estamos dentro das aldeias indígenas (Francisca – Coordenadora Geral do MIQCB)
No início das atividades houve muita emoção quando evocaram a memória de Dona Dijé, liderança do MIQCB falecida em 14 de setembro de 2018. Ela foi homenageada com a apresentação de um vídeo e, em seguida, foram lembradas outras mulheres também falecidas, que pelas ações que praticaram motivam para a luta em defesa dos babaçuais e das quebradeiras de coco babaçu.
Dijé não morreu, Dijé está com a gente. Viva Dijé que está aqui presente. Viva Dijé, viva Dijé que está aqui presente! (Música cantada pela Banda Peleja)
A gente fala assim pra se fortalecer umas com as outras…Faz poucos dias que perdemos a nossa coordenadora…Ela (Dijé) era uma pessoa tão querida que a gente chora sempre que fala dela (Helena – Coordenadora do MIQC – Regional Piauí)
A floresta de babaçu e os problemas enfrentados forma evidenciados nas falas durante a caminhada pelas ruas cidade. Durante as paradas realizadas na Câmara de Vereadores, Prefeitura e Mercado foram apresentadas as demandas do movimento. Os pronunciamentos tiveram continuidade no momento denominado de Tribuna das Mulheres, na sede do sindicato.
Nós da Associação das Mulheres Quebradeiras de Coco somos esquecidas pelo poder público. Até o produto da nossa associação que está aí pra ser comprada pra merenda escolar, que é um direito nosso, até agora nós não temos nenhum resultado da compra da nossa massa, do nosso biscoito pra merenda escolar… Os vereadores até agora não olharam pra nós (Rita de Cássia – Associação das Mulheres Quebradeiras de Coco de Miguel Alves)
Carmen Lima, professora da UFPI e pesquisadora do PNCSA, refletiu sobre as situações presentes no mapa Nova Cartografia Social dos Babaçuais, produzido pelo Projeto Nova Cartografia Social em parceria com o MIQCB. Apresentou o mapa Povos do Cerrado em defesa de seus territórios e contra a devastação do agronegócio no Piauí, que é decorrente de trabalho de campo realizado nos anos de 2016 a 2018 na região sul e sudoeste do Piauí e que está em fase final de correções.
O projeto de Lei do Babaçu Livre foi intensamente discutido. Após a aprovação do texto, assumiram o compromisso com a coleta de assinaturas em Miguel Alves, em favor da implementação da lei neste município.
Quando as quebradeiras de coco se reúnem pra discutir o Projeto de Lei do Babaçu Livre, agente entende que está discutindo não é só o projeto de lei que vai ser apresentado, está discutindo o que elas já fazem nas comunidades. Eu entendo que a lei do Babaçu Livre é uma forma de colocar no papel o que elas já fazem historicamente em relação ao babaçu… O que está botando no papel é o reconhecimento das autoridades do que elas fazem no dia a dia, o cuidado com os babaçuais, o cuidado de consorciar o babaçu com as roças, de não queimar, não devastar… o que elas querem é o território livre (Carolina – Assessora do MIQCB)
Entre os convidados, estiveram presentes Benoni Moreira – Defensor Público Federal, Igor Sampaio – Defensor Público Estadual e Robério Lobão – Comissão de Direitos Humanos da OAB /PI. Além de apresentar a problemática dos babaçuais, o MIQCB deseja construir uma agenda de ações de defesa dos direitos das quebradeiras de coco babaçu e a inclusão desta questão no universo de atuação dos órgãos por eles representados.