A política linguística é central para a etnia Arowaka, pois é o meio de transmitir a história, a identidade deste povo, para quem a apropriação da língua representa o futuro. Esta frase sintetiza o argumento central no debate da Sessão Organizada: Processo identitário do Povo Arowaka: Etnolinguistica, Etnomusicologia e Biodiversidade realizado no dia 9 de agosto de 2018, durante o BELÉM + 30 ISE.SBEE-2018.
A língua Arowaka constitui elemento identitário que está em processo de retomada. À língua vincula-se a música, a dança, a literatura oral, o artesanato, a culinária, os conhecimentos tradicionais, as cosmovisões quer dizer representa as relações interétnicas e as culturas de forma dinâmica e criativa.
O processo de retomada centraliza a política linguística, a qual também uma associação representou o pilar das ações da Sra. Ursula Visser-Biswane, ex-presidente da Association Kayeno, homenageada no início da reunião por todos os presentes. Jovens e adultos manifestaram o propósito de continuar, com afinco, os passos da liderança feminina dos Arowaka, da aldeia Santa Rosa de Lima, localizada na cidade de Matoury, na Guiana Francesa.
Desde 2013, o PNCSA contribui com as iniciativas da Associação Kayeno tendo atendido a reivindicação de elaborar a Cartografia do Povo Arowaka. A produção do Boletim Informativo 2 Na Lokono Arowaka Kakhuthi Shikwa Khona Sainte Rosa de Lima, Kayeninro (Matoury) teve seu lançamento em 10 de fevereiro de 2018 na própria aldeia. Para a montagem do boletim trilíngue procedeu-se a organizar oficinas de tradução, com a participação de falantes, a maioria avós e avôs. A senhora Ursula Visser -Biswane foi uma dedicada colaboradora nas oficinas de Cartografia Social e de tradução.
As oficinas na Guiana Francesa (na cidade de Matoury, região de Caiena) foram objeto das mesas e das reflexões compartilhadas entre os Arowaka e pesquisadores do PNCSA.
A senhora Rosita Armaketo participou na sessão apresentando uma narrativa e cantando em língua Arowaka. A primeira narrativa era sobre a Coruja, enquanto metáfora das relações de gênero para o Povo Arowaka.
O senhor Hubert Biswane apresentou as diferentes ações da Associação Kayeno a favor da revitalização do idioma do Povo Arowaka junto com outras associações Arowaka, tal como Hanaba Lokono, a qual já organizou vários seminários linguísticos nas Guianas.
O Chefe da Aldeia Santa Rosa de Lima insistiu sobre as regulamentações francesas constrangedoras, que ainda estão travando o livre uso da biodiversidade pelo Povo Arowaka no seu dia a dia, dificultando assim a transmissão dos conhecimentos e a preservação da língua.
O senhor Tawayakale Kouyouri (povo T+IEWUYU) manifestou reconhecimento pela relevância das informações apresentadas na Sessão Organizada e finalizou recitando versos de grande simbologia sobre o espirito que vive na língua dos povos indígenas.
Entre o público jovem que participou no evento de danças e música Arowaka tomou a palavra a jovem Anne Biswana que conclamou a solidariedade de todos os jovens para continuar a obra de sua tia Ursula, sendo aplaudida com entusiasmo pelo grupo formado por 15 adolescentes.
A participação do Povo Arowaka das Guianas nas diferentes sessões organizadas do Congresso BELÉM+30, bem como nos standes de culinária e do artesanato, resultou de sua vontade e dos seus recursos próprios, por ser consciente da necessidade da visibilidade, da defesa e da valorização de sua própria cultura, na continuidade da obra realizada pela senhora Ursula Wisser Biswane, homenageada durante o evento.
Equipe de Redação: Rosa Acevedo Marin e Raphaelle Servius- Harmois
Tradutoras: Gabby Hartemann e Maiara Ramos
Fotografías: Naiara Silva Farias