Por meio de contato telefônico, recebemos notícias instantâneas sobre o que está acontecendo na ocupação indígena, no município de Iranduba. Há dois meses, famílias indígenas de varias designações étnicas ocupam uma área à margem da estrada AM-070, conhecida como “Manuel Urbano”, no município de Iranduba, cerca de 4 km da ponte sobre o Rio Negro. Indígenas relatam que a polícia tem impedido a entrada e a saída deles. Pessoas que saíram para trabalhar ou em busca de alimentação, ao retornar à área ocupada, que tem como nome “Deus é por Nós”, não conseguiram mais entrar, deixando seus familiares em situação de fome e sede, além de ficarem em estado de saúde debilitado.
As lideranças relatam que estão sendo ameaçadas de morte, sobretudo as principais lideranças. Para agravar a situação, já há casos de violência física por parte de policiais, sofrida por um indígena. Esta situação faz parte de um planejamento das autoridades com fim de liberar a área, uma vez que os ocupantes são vistos como obstáculo ao suposto crescimento da especulação imobiliária. As lideranças indígenas asseveraram que a FUNAI deixou de acompanhar a situação, principalmente deixou de fazer o levantamento das famílias indígenas na ocupação, e a imprensa periódica informa que a FUNAI não reconhece a existência de indígenas na área. O contexto de ocupação provoca uma reflexão sobre a construção de uma relação entre Estado e povos indígenas na cidade. Nesta conjuntura, a imagem que está sendo reproduzida sobre estes indígenas já é previsível, classificando-os como “invasores” possivelmente “violentos”, de acordo com velhos conceitos históricos, já instalados no pensamento da sociedade nacional, como “índios selvagens”. O problema pertinente, nesta circunstância, aponta para a necessidade de uma política diferenciada de moradia e acesso a políticas publicas para milhares de indígenas na cidade, cujas respostas resultariam de uma conversa aberta entre representantes indígenas e representantes do Estado.
Por Glademir Sales dos Santos e Helen Catalina.