No dia 19 de setembro de 2013, equipe do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, núcleo Mato Grosso, deslocou-se para o município de Luciara (MT) com o objetivo de realizar Oficina de Cartografia Social com os Retireiros do Araguaia. Aproximadamente às 9:00 horas, a equipe deparou com o bloqueio da estrada (MT 100), impedindo o acesso à sede do município.
A equipe foi abordada por dois homens que estavam à frente do bloqueio. Após inquirirem sobre os motivos da viagem, afirmaram que a presença dos pesquisadores já estava sendo esperada e que não iriam permitir a entrada no município para a realização dos trabalhos. Recomendaram, sob ameaças, a volta da equipe, e que seria melhor para a preservação das nossas vidas não mais retornar ao município. O carro utilizado pela equipe foi seguido, a certa distância, por uma caminhonete, até a localidade denominada Alto da Boa Vista.
Os indícios sugerem que um dos objetivos do bloqueio da estrada (MT 100) era impedir o acesso da equipe de pesquisa ao município e, consequentemente, a realização da Oficina de Mapas. Na quarta-feira, por volta do meio dia, recebemos a informação, por telefone, que estrada seria fechada na sexta-feira (20/09), dia do início da Oficina. No final da tarde, da quarta, um novo telefonema informava que o fechamento seria antecipado para quinta-feira (19/09), coincidindo com a chegada da equipe do Projeto Nova Cartografia em Luciara. A mudança de data do bloqueio da estrada estava associada à estratégia de impedir a realização da Oficina. Mas o alvo principal foi e está sendo a desmobilização da organização dos retireiros no processo de luta e reivindicação dos seus direitos territoriais. Como estratégia, os chamados “produtores rurais de Luciara”, na sua maioria grileiros de terras das áreas de retiro, vêm praticando atos de intimidação, de coerção e de ameaça contra o Sr. Rubem Taverny Sales, liderança e presidente da Associação do Retireiros do Araguaia. Na quarta-feira à noite (18/09) a sua casa do retiro foi incendiada, local da realização da oficina. As estradas continuam bloqueadas, inclusive a que dá acesso ao retiro, o aeroporto interditado e o comércio local fechado. No sábado pela manhã novos atos de intimidação e ameaça foram praticados contra o Sr. Rubem e família, ateando fogo em pneus na frente da sua residência.
Esses atos de violência vêm sendo praticados desde o dia 19 de setembro (quinta-feira) e até o momento (21 de setembro) o Estado não tem se manifestado no sentido de proteger a integridade física e moral das pessoas que estão sendo ameaçadas, a despeito dos comunicados e denúncias realizadas por diversas organizações e movimentos sociais, inclusive dos próprios retireiros.
A equipe do Projeto Nova Cartografia Social, núcleo Mato Grosso, compreende que o impedimento de realização da Oficina de Mapas é uma forma de fazer calar os protagonistas de conhecimentos tradicionais, neste caso, os Retireiros do Araguaia. Se toda relação de conhecimento é uma relação social, ela se estendeu ao limite e emudeceu os seus atores.
Equipe do Projeto Nova Cartografia Social – Núcleo Mato Grosso