As realidades localizadas dos assentamentos da denominada Reforma Agrária e dos acampamentos no Pará exigem análises atentas, de maneira a compreender as lutas pela conquista da terra e as estratégias de reprodução social dessas categorias. Observações de caráter técnico ou de natureza mais acadêmica têm frisado a pecuarização, a venda e concentração de lotes, o desmatamento, o carvoejamento, e mais, recentemente, a entrada da soja na região do sudeste do Pará.
Nos diversos depoimentos de assentados e acampados que participaram na oficina de cartografia social, realizada na igreja católica do Assentamento Nova Vitória, no dia 29 de junho de 2013, revelam as trajetórias dessas unidades de intervenção fundiária, mostrando, de um lado, as situações sociais complexas e de outro os profundos vínculos de pertencimento e projetos individuais e coletivos de assentados e acampados.
Sr. João Passarinho e Sr. José Souza participam ativamente na oficina de cartografia social.
O assentamento Nova Vitória, que se originou da ocupação e formação de um acampamento em 2001, atualmente, possui 124 famílias assentadas. Três senhores, com mais de setenta anos, que participaram da ocupação de 2001, presentes na oficina, examinaram as mudanças ocorridas e conferiram o peso que as instituições como o IBAMA, o INCRA e a EMATER têm no processo de desmatamento, no acirramento das tensões internas. Ainda, eles insistem que os setores técnicos falham na sua atividade de orientação para a elaboração de projetos e financiamento de atividades produtivas. Observam que as tensões na forma de conceber a resolução de conflito entre agricultores e pecuaristas, entre agricultores e madeireiros e entre agricultores e autoridades municipais continuam existindo.
Na oficina de mapa se procedeu à descrição dos assentamentos (Nova Vitória e José Dutra) e acampamento (Deus te Ama), passando a uma segunda etapa de descrição pormenorizada de alguns lotes. O senhor Otacílio de Souza relatou as dificuldades agroecológicas encontradas no assentamento Nova Vitória, e as práticas que tem lhe permitido em curto espaço de tempo recuperar a vegetação e a qualidade do terreno. Ele também comentou sobre a necessidade dos assentados se unirem em uma mobilização coletiva em favor do assentamento.
Adultos e crianças do assentamento José Dutra elaboram os seus croquis.
Assentados do Nova Vitória em momento de elaboração do croqui.
O assentamento José Dutra compreende uma área de “terras altas” e “chapadão”, identificando dificuldade de falta de água. Destaca-se pela intensificação da pecuária leiteira; mais da metade dos assentados possuem gado, para isso contribuiu o crédito do pronaf, também, orientado para o plantio do paricá. O plantio de soja está “beirando a gente”, diz um assentado.
Senhor Francisco Chagas expõe a representação do acampamento Deus Te Ama
O acampamento Deus te Ama, com nove anos de formação, situado na altura do km 125, da BR-222, organizou a distribuição dos recursos entre 59 famílias, das quais somente 9 delas estão distantes das fontes de água. Os acampados usufruem e protegem a área de mata e madeiras, enquanto lutam pela regularização do acampamento.
Participantes da Oficina de Cartografia Social no Assentamento Nova Vitória.
Os comentários sobre a escola feitos pelos assentados e acampados convergem para a precariedade dos prédios escolares, bem como, do ensino ofertado. A escola é uma instituição decisiva na vida e permanência dos assentamentos e acampamento.
A oficina de cartografia social, segundo os participantes, veio renovar a aspiração pela retomada da mobilização interna dos assentados e acampados.
Nesta atividade contamos com a colaboração dos professores Maria Jane Brito Amaral e Josivan Pereira dos Santos, vinculados à Secretária Municipal de Ensino de Rondon do Pará e do Sr. Valdivio Amaral.