Confira a notícia que saiu no website da Rádio Web UFPA sobre o seminário Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil que aconteceu em Belém do Pará.
Seminário discute direitos dos povos e comunidades tradicionais
Com o tema “Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil: campos de luta e posições”, a iniciativa do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia reuniu lideranças e militantes das causas dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e trabalhadores do campo. Com o objetivo de trazer essa questão de ordem atual do campo cultural e político que são as pautas reivindicatórias desses povos e comunidades, cujos direitos são reconhecidos em lei, mas na prática são desrespeitados.
Na mesa de abertura do seminário as lideranças puderam expor as entidades representativas das quais fazem parte, além de tratar de suas demandas e as ações de mobilização. A indígena Luana Kumaruara, estudante de Antropologia da UFOPA e integrante do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), da região de Santarém foi uma das expositoras.
Ela relatou a falta de reconhecimento como povos indígenas e dos territórios indígenas por parte do governo e em alguns casos da justiça, bem como as consequências dessas ações para o modo de vida da comunidade, que convive com conflitos e ameaças sofridas por causa da exploração do meio ambiente e desrespeito as terras indígenas por empreendimentos hidrelétricos, garimpo, madeireiros, entre outros.
“Essa resistência desses povos originários, não só indígena como quilombola, e dos povos tradicionais que vem acontecendo, a luta por sobrevivência, do bem viver, que não precisamos de hidrelétricas como vai ser colocado aqui e é uma das brigas que nós também temos lá no baixo Tapajós. Porque querem tentar construção de hidrelétricas e barragens” explicou Luana, que também ressaltou desafios em outros campos, como educação, falta de atenção a saúde e destruição cultural.
Representando a Associação da Comunidade Quilombola Indígena Sitio São Joao de Barcarena, a líder Sandra Georgete dos Santos Amorim contou que a cidade está tomada por empresas e os indígenas e quilombolas estão sendo ameaçados pelo crescimento desses empreendimentos. “Lá eles não respeitam a gente nem como índios, como quilombolas, nem como tradicionais daquela terra, eles não aceitam a gente lá não. Eles querem que a gente saia. Dizem que desde a década de 80 Barcarena foi vendida pros estrangeiros, mas eu acho que essa venda foi muito mais antes” afirmou. Dentre os muitos problemas estão a criminalização dos povos tradicionais, tidos como invasores, e a falta do reconhecimento étnico e territorial.
Representantes de associações também trataram sobre a reforma agrária, desmatamento e queimadas e outras pautas importantes no contexto amazônico. Dentre os palestrantes estiveram
líderes da Associação dos Remanescentes de Quilombo do Rio Gurupá do município de Cachoeira do Arari na Ilha de Marajó, da Associação das Populações Organizadas Vítimas das Obras no Rio Tocantins e Adjacências e da Associação Dos Trabalhadores Rurais Joao Canuto de Tucuruí.
O reconhecimento das perspectivas históricas, culturais e territoriais dos povos tradicionais é uma das diretrizes do Nova Cartografia Social da Amazônia, que há 12 anos contribui com o reconhecimento e valorização dos povos tradicionais da região. Para o coordenador da iniciativa, o professor doutor em Antropologia Social, Alfredo Wagner Berno de Almeida, eventos como esse seminário são “uma oportunidade para que as associações de ribeirinhos, quilombolas, indígenas e outros povos e comunidades tradicionais apresentem seus pontos de vista e possam interagir dentro da vida universitária com pesquisadores e outros acadêmicos que tem interesse nessas questões. Eu acho que isso representa uma forma de ligação da universidade com a sociedade e representa também uma luta pelos direitos territoriais, pelos direitos básicos desses povos” disse.
Para a professora Rosa Elizabeth Acevedo Marin, também integrante da equipe do projeto e coordenadora do evento, o encontro permite mobilizar essas populações para continuarem a luta por seus direitos. “É uma situação extremamente difícil no plano político e a melhor construção que pode ser feita é a unidade desses movimentos, é a forma de podermos unir ações de manutenção de direitos conquistados” destacou.
Reportagem: Wallace Sousa.
Fotos: Wallace Sousa.