Nova Cartografia Social Da Amazônia

Reunião de pesquisadores do GESEA e do PNCSA no Maranhão


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No dia 20 de fevereiro, dezoito pesquisadores, vinculados ao Grupo de Estudos Socioeconômicos da Amazônia/Universidade Estadual do Maranhão e ao Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, estiveram em reunião de trabalho, na UEMA, para examinar e trocar ideias sobre o conjunto das investigações em execução e, de forma especial, conduziram debates sobre as categorias e noções que orientam as práticas de pesquisa.

Atualmente, o GESEA integra os projetos: 1. Mapeamento Social como instrumento de Gestão Territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais, aprovado pelo Fundo Amazônia e que articula um grupo de profissionais de diversas áreas de conhecimento que realizam pesquisas sobre a Pré-Amazônia Maranhense; 2. Narrativas Orais e Transmissão de Saberes de Povos e Comunidades Tradicionais, financiamento pelo IPHAN; 3. Territórios e recursos de povos e comunidades tradicionais em colisão com obras de infraestrutura e estratégias empresariais na Amazônia, contemplado em Edital do CNPq e que reúne pesquisadores da UEMA e da Universidade Federal do Pará; 4. Arqueologia dos Engenhos da Baixada Maranhense, desenvolvido com apoio da FAPEMA.

Professores vinculados ao GESEA/UEMA estão em fase de estruturação do Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia que iniciará suas atividades em agosto de 2013, como resultado de uma cooperação envolvendo professores da UEMA, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

No relato sobre o trabalho de campo, em 2012, foram referidas as experiências de cursos de geoprocessamento compartilhados por pesquisadores e agentes sociais e os Cursos sobre a Convenção 169 da OIT e sobre o uso do GPS, ministrados em Monção, Santa Inês, Imperatriz, Viana, Penalva e Pindoba. O Projeto Mapeamento Social como instrumento de Gestão Territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de Povos e Comunidades Tradicionais montou minilaboratórios em Santa Inês, Imperatriz e Caxias. Nos Cursos de geoprocessamento, busca-se uma ação integrada entre a pesquisa de campo e a montagem de mapas.

Os cursos citados têm sido o espaço de debates sobre a perda de recursos naturais com os avanços do desmatamento. Ante este fato, um quilombola da região de Penalva elaborou a ideia de uma “lei de desmatamento”, corpo jurídico que formularia a visão do grupo sobre a ação política e instrumentos legais contra o desmatamento.

Neste projeto de pesquisa, argumenta-se que os esforços atuais para garantir a maior floresta tropical em pé não se restringem às políticas governamentais1 e aos atos para reprimir os desmatamentos, mas concernem, também, ao fortalecimento de associações e formas organizativas comunitárias e aos meios de consolidação dos conhecimentos e saberes práticos dos povos e comunidades tradicionais que mais conservam os recursos florestais e hídricos.

1Observa-se que instrumentos de “controle” e “punição” continuam a ser ditados pelo Estado, com resultados inócuos. O Jornal O Liberal do dia 23 de fevereiro de 2013 (Belém-Pará) trazia a manchete de que a Força Nacional iria atuar no combate ao desmatamento na Amazônia, uma decisão que se soma a centenas de programas, planos assim como instituições e uma escala de recursos que parecem inócuos para impedir o desmatamento e a devastação

Em seus comentários sobre as categorias tempo e espaço, o Prof. Alfredo Wagner polemizou algumas proposições sobre a dimensão territorial do desenvolvimento que insistem na ideia de “encurtamento do tempo” e, simultaneamente, nelas a categoria espaço torna-se mais expressiva. O planejamento elaborado pelo Estado brasileiro “encurta o tempo” e dispõe sobre o controle das informações georeferenciadas. Entretanto, a ideia da cartografia não é somente a espacialização. A realização da leitura do tempo e do espaço é inseparável. E a questão é como refletir a dimensão categoria tempo para o território. Nessa linha, o Prof. Alfredo Wagner formulou, com base nas observações do debate, três questões para os pesquisadores: a) O que significa a “espontaneidade do GPS” para a maior cientificidade, sem cair no cientificismo. Ou como não cair no tecnicismo? b) qual a relação das categorias tempo e espaço no processo de produção da cartografia social? c) O que o georeferenciamento significa ou traduz para o Projeto Nova Cartografia Social?

O que está em jogo é a critica na crença da geoinformação como fundamental à estratégia de desenvolvimento, pois nela confunde-se o rigor com a rigidez.

O trabalho do PNCSA se realiza entre o “novo cartógrafo” e o “novo arquivista”. As relações sociais de pesquisa estão atentas à categoria tempo da comunidade. Este tempo não é linear na tradição, nem no território. Na continuação, o debate foi orientado para a categoria território e as experiências diferenciadas de lutas por território, que não se separam de lutas identitárias e econômicas. A reunião concluiu retomando a reflexividade como condição de execução da pesquisa e foram apresentadas propostas de Seminários no semestre.

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