No Anfiteatro da Universidade Federal do Amapá foi realizado o evento FALA QUILOMBOLA: Territórialidade Quilombola e conflitos no Amapá, no dia 27 de março de 2015, reunindo as lideranças dos quilombos do Rosa, Ilha Redonda e Curiaú. O objetivo da Fala Quilombola é mobilizar, inserir e produzir no espaço público dessa instituição os debates sobre as lutas dos quilombolas pela garantia de direitos territorias e étnicos no Estado do Amapá. Na mesa participaram Maria Joelma Menezes Ester (Quilombo do Rosa), Sebastião Menezes da Silva (Quilombo do Curiaú) e Marlucio Cabral (Quilombo Ilha Redonda) e Rosa Elizabeth Acevedo Marin (Universidade Federal do Pará- Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia).
A abertura da mesa foi realizada por Irislane Pereira de Moraes (UNIFAP). A primeira intervenção feita por Rosa Acevedo Marin sistematizou e contextualizou as informações sobre o Decreto 4887 de 2003 e as ameaças aos direitos territoriais com a introdução da Ação Direita de Inconstitucionalidade – ADI 3239 ajuizada pelo Partido Democratas – DEM. Precisamente, no dia 25 de março foi retomado o julgamento dessa ADI, que resultou no novo pedido de vista formulado pelo ministro Dias Toffoli. Esse fato retornaria no final da mesa quando se analisou a relação desse ministro com alguns episódios políticos no Estado do Amapá.
Maria Joelma Menezes Ester fez uma exposição sobre a luta pelo território do Quilombo do Rosa, cujo pedido de titulação coletiva se alastra e já passa de dez anos. Ela situou o quadro das comunidades quilombolas do Amapá, cujo número estimado é de 133 e apenas 4 foram tituladas. Insistiu na posição de resistência dos quilombolas às intervenções do Programa Terra Legal e burocracia do INCRA.
Marlucio Cabral – liderança do quilombo Ilha Redonda, é historiador e iniciou sua intervenção comentando as trocas com o professor Vicente Salles que lhe permitem afirmar que o quilombo Ilha Redonda foi um dos primeiros a ser formado. O segundo ponto abordado por Márlucio Cabral foi sobre a trajetoria de luta dos quilombolas e a união que constituiram para impedir transformar suas terras em depósito de arsenio. Nessas lutas obteve convições políticas e foi alvo de perseguições e ameaças, que o obrigaram a sair do estado. O movimento quilombola do Amapá teve um desenvolvimento notavel, mas surgiram os revesses quando é aboncanhado pela política e os governos. Essa análise o levou a pensar a necessidade de uma conversão e o movimento se desfaça dessas amarras. Dirigiu-se diretamente a Universidade como o lugar para a formação dos quilomboas e com isto impedir ser alvo de ações políticas que desrespeitam os quilombolas.
Sebastião Menezes da Silva é reconhecido por seu trabalho como historiador do quilombo do Curiau além de escrever o jornal O Quilombo. Iniciou referindo-se a situações em que o conhecimento dos profissionais saidos das universidades ignora o saber dos quilombolas e apenas age em benefício próprio. Utilizando a palavra “encrenca” e no conflito comentou as situaçoes criticas do quilombo quando ocorrem as interivenções do Estado.
O público universitário se manifestou com várias questões aos expositores. A FALA QUILOMBOLA teve a presença de 30 pessoas. O evento foi assistido pela Professora Helena Simões, Pró-Reitora de Pesquisa da UNIFAP.
As atividades na UNIFAP concluiram, no horário da tarde, com uma reunião de trabalho com a professora Adelma Moraes, Vice-Reitora da UNIFAP para refletir as condições de possibilidade de constituir um Núcleo da Cartografia Social nessa IES. Nessa reunião estiveram presentes Maria Joelma Menezes Ester, Irislane Pereira de Moraes, Helena Simões e Rosa Elizabeth Acevedo Marin. A reunião conseguiu a definição do interesse da administração universitária para essa proposta. A UNIFAP recebeu a doação do Catálogo, livros, boletims e fascículos do Projeto Nova Cartografia, e em especial, as últimas produções do Projeto Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais.