No dia primeiro de novembro de 2014, o PNCSA recebeu a visita da delegação da Noruega, para avaliar como está sendo executado o uso dos recursos doado por este país ao PROJETO FUNDO AMAZÔNIA: MAPEAMENTO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO TERRITORIAL CONTRA O DESMATAMENTO E A DEVASTAÇÃO – PROCESSO DE CAPACITAÇÃO DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS. A delegação foi composta pelos seguintes representantes:
From The Norwegian Embassy in Brasília:
- Aud Marit Wiig – Embaixadora
- Elisabeth Forseth – Conselheira
From The Government of Norway’s International Climate and Forest Initiative
within The Norwegian Ministry for Climate and Environment:
- Simon Rye – Deputy Director for Development Policy
- Lívia Costa Kramer – Adviser
From The Department for Climate, Energy and Environment
within The Norwegian Agency for Development Cooperation (Norad):
- Ivar Jørgensen – Policy Director
A coordenação do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA), após várias conversas por telefone, atendendo as solicitações da doutora Elisabeth, membro da delegação e organizadora da visita, propôs uma programação, a qual consistiu em dois momentos. No primeiro, houve um encontro na sede do PNCSA, no qual houve uma apresentação do laboratório e das pesquisas realizadas na Amazônia, com exposição de mapas, livros, fascículos, boletins informativos e cartilhas, com breve exposição de cada pesquisador que participou do Projeto Fundo Amazônia. No segundo momento, na parte da tarde, a delegação e um grupo de pesquisadores do projeto Fundo Amazônia foram à aldeia Três Unidos, de designação Kambeba, no rio Cuieiras, Baixo rio Negro, onde aconteceu uma das oficinas com recurso do projeto e que reuniu representantes das outras aldeias deste rio.
De acordo com o objetivo da delegação, esta visita foi marcada pela exposição das lideranças indígenas sobre a oficina de mapas e seus desdobramentos. Depois, as lideranças Kambeba, Tikuna e Baré levaram os representantes da Noruega para conhecer as trilhas da aldeia Três Unidos. As lideranças indígenas se sentiram à vontade para responder a algumas perguntas da delegação da Noruega e apresentaram a importância da oficina de mapas no processo de reordenamento sociocultural e político das etnias do rio Cuieiras. Respondendo à pergunta feita pela antropologia, doutora Elisabeth Forseth, sobre o que as aldeias ganharam com a confecção dos mapas, Raimundo, da Aldeia Três Unidos, e Clodoaldo, da aldeia Terra Preta, responderam da seguinte forma.
“A oficina de mapas veio contribuir no nosso trabalho, até mesmo para descobrir novas coisas que estão acontecendo e avaliar se são boas ou ruins. Hoje, no nosso rio, está tendo exploração de areia e, agora, na época da seca, acontece a pesca ilegal do tucunaré, exploração de madeiras, que ainda existe quando o rio seca. Na oficina de mapas, isso foi falado, discutido com as lideranças, e ficamos muito preocupados. Agradecemos aos pesquisadores e a coordenação da cartografia pelo apoio. No fascículo, está a história de todas as comunidades e como estamos vivendo, preocupados com a questão do meio ambiente. Isso vem fortalecer nossas ideias. Nossa preocupação hoje é com a demarcação da terra. As oficinas levaram a Funai a refletir mais sobre o processo de demarcação. A oficina veio contribuir muito com nosso trabalho. Os depoimentos das outras lideranças mostram nossa preocupação com a invasão da área por pessoas de fora. As lideranças vieram e participaram bastante, para todos conhecerem qual a realidade nossa e do rio Cuieiras. As preocupações com a saúde, educação e economia, preservação do meio ambiente, e como manter nossas culturas com outras diferentes. Isso faz com que valorizemos nosso conhecimento. No encontro de Belém, aprendemos muito com a experiência de outros povos, contando seus problemas, as dificuldades. As oficinas vieram fortalecer, saiu um relatório, que sozinho [sobre a extração de areia] não faríamos, foi com os pesquisadores. Nem as próprias comunidades não sabiam o que estava acontecendo. Sete comunidades indígenas fazem um território só, mesmo que ainda não tenhamos a medida com precisão. Começamos a discutir sobre como ter essa terra indígena” (professor bilíngue, Raimundo Kambeba, da comunidade Três Unidos)
“Quero colocar que foi importante para nós, colocamos nossas situações: exploração de madeiras, areia, pescado, ameaças pelos nossos vizinhos. Colocamos os locais de pesca e caça. Não tínhamos noções de como começar a relação com as autoridades. Juntamos todas as necessidades pelas quais as comunidades passam. A primeira oficina foi dividida em grupos e as lideranças falaram das necessidades. Tivemos a noção do que estava acontecendo, a partir do que foi interessante para nós, os locais de pesca, caça, o que existe na área, o tipo de lago. Fizemos esse esforço para montar o mapa. Depois, na outra oficina, foram incluídas as outras comunidades” (Clodoaldo, liderança da aldeia Terra Preta).
A volta do rio Cuieiras terminou no fim da tarde, com uma rápida visita ao lugar do encontro das águas do rio Negro com as do Rio Solimões.
O encontro com a embaixadora da Noruega e com antropólogos que estavam na delegação serviu para colocar em discursão aspectos referentes às informações e sistematização das pesquisas, que já são referendadas pelos núcleos de pesquisa da Amazônia e estão em pauta de reflexão nos estudos e nos encontros entre pesquisadores e agentes sociais. Alguns desses aspectos podem ser sintetizados desta forma: i) política que se manifesta, por um lado, marcada pelo agronegócio, e, por outro, precária para as comunidades e povos, sobretudo no que diz respeito a titulação de terras; ii) a luta pela “terra” não está desassociada da luta pela identidade; iii) a desterritorialização de grupos étnicos está dentro de um processo de negligência social. Estes três itens de discursão traz uma base empírica expressa em vários depoimentos, seja durante as oficinas de mapas, seja nos encontros de troca de experiências, de caráter regional, parcial e geral, que podem ser ilustrados por este: “a linha prejudica a gente porque a região, onde a gente colocava a mandioca na água, foi cortada; […] existe também, a invasão dos fazendeiros, a devastação e ameaça são muito grandes” (José Protocolar da Silva, comunidade Quilombola Contenda, depoimento sobre o linhão das comunidades quilombolas de Viana-MA).
Por Glademir Sales