Desde o inicio dos trabalhos de Cartografia Social na região Sudeste do Pará, houve estreitamento de relações de pesquisa com o povo indígena Akrãtikatêjê. No Boletim Informativo nº 03 “O direto a dizer não”, de 2010, apresenta-se a nova situação que os atingirá com a construção da UHE Marabá já anunciada.
O projeto Mapeamento social como instrumento de gestão territorial contra o desmatamento e devastação: processos de capacitação de povos e comunidades tradicionais inseriu atividades com o povo Akrãtikatêjê em diversas programações e definiu a elaboração de um fascículo, no qual serão apresentadas as realidades localizadas do grupo. A aldeia Indígena Akrãtikatêjê é uma conquista deste povo deslocado de suas terras pela Eletronorte para a construção da UHE de Tucuruí na década de 1980. A Terra Indígena (TI) Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins, onde residem hoje, resulta de um novo processo de territorialização próximo à margem direita do Rio Tocantins, limitando-se entre o Igarapé Frexeira e o Rio Jacundá e atravessado pelo Rio Mãe Maria. Nesta TI existem seis aldeias.
Caique Payaré, falecido em março de 2014, teve um papel fundamental no pleito pelo reconhecimento da TI Mãe Maria e na organização política e econômica do grupo.
Em junho de 2013, foi realizada a Pré-Oficina de Cartografia Social, com elaboração de croquis e mapa, realização de entrevista e material audiovisual e coleta de pontos e GPS. O retorno nos dias 31 de julho e 01 e 02 de agosto de 2014 teve como objetivos, revisão dos croquis de julho de 2013; entrevistas; preparação para o georreferenciamento da Aldeia, antecedido com um curso básico de GPS; construção de novos croquis atualizados e trabalho de campo de coleta de ponto de GPS.
A oficina ocorreu no denominado Acampamento, rodeado de vegetação, e concebido como espaço social da Aldeia Akratikãtêjê. Participaram nas duas secções das oficinas 26 pessoas entre adultos e crianças. O grupo de jovens Rotokwyi Airomkenti Valdenilson, Tatamti Airomkenti Valdenilson; David Kakotyiré Valdenilson de Souza; Penpkoti H. Valdenilson e Amxêrê Valdenilson Topramre assumiram o estudo e a elaboração do novo croqui, consultando os adultos e mostrando grande interesse e conhecimento sobre a TI, assim como manifestando projetos e estratégias no plano econômico e cultural. Os jovens têm consciência da necessidade de aprender a língua e retomar a arte da cultura corporal, brincadeira de toras, e o debate das questões políticas e organizativas das Aldeias, e relações com a Eletronorte, Vale S.A e Estado.
Após o reconhecimento em campo e o trabalho parcial de coleta de ponto de GPS na Colocação Açaizal Mole (reserva de castanhais para os Akrãtikatêjê dentro da TI Mãe Maria, com abundância de palmeiras de açaí), Roças e Acampamento Pedrinhas, os jovens se dedicaram a realizar o desenho detalhado da Aldeia e em seguida expuseram aos participantes um novo croqui.
Os Akratikãtêjê receberam a visita dos parentes da Aldeia Krikatêjê para acompanhar o segundo dia da oficina, compartilhando ideias e uma confraternização com almoço. Essa prática de visita foi considerada como uma retomada das suas relações sociais internas na TI.
Em um momento de trocas de ideia sobre a política identitária, uma indígena Krikãtêjê disse: “Kupê nâ înôre Kyikatêjê”, que significa: “Eu não sou Kupê (Branco), sou índia Krikatêjê”
A Sra. Rônore Káprere Pahiti com mais de 90 anos, teve uma participação ativa na oficina dedicando-se a relatar detalhes da cultura Akrãtiktêjê. Os cantos, mitos, legendas, práticas e conhecimentos tradicionais, foram sabiamente falados e o registro foi feito pelos pesquisadores.
Participaram do trabalho os pesquisadores Rosa Elizabeth Acevedo Marin, Jurandir Santos de Novaes, Rita de Cássia Costa, Thiago Alan Guedes Sabino e Cristiano Bento da Silva.