No final da tarde desta terça-feira (11/11/2025), dezenas de indígenas da etnia Turiwara ocuparam a antiga Aldeia Tukano Sawa, no Alto rio Acará, município de Tailândia, Pará, numa ação de retomada do território etnicamente configurado que reivindicam junto ao Estado brasileiro.
A aldeia Tukano Sawa compõe o território indígena Ita Pew, situado no Alto rio Acará, também conhecido como rio Miritipitanga, que na toponímia Turiwara significa “mãe d’água”. O território abrange dez antigas aldeias, espalhadas nas duas margens do rio, do cemitério do Livramento até a cachoeira grande do Acará. Expulsos violentamente por fazendeiros, pistoleiros e empresas do agronegócio do dendê, esse povo tradicional se viu totalmente privado de seus recursos e direitos. Expostos a um repertório de violências, passaram a viver confinados precariamente em vilas como Turi-Açu, Palmares, Balsa, Urucuré e outras.
Na perspectiva das lideranças indígenas, a retomada do território representa o retorno para casa, a conexão íntima, respeitosa e cuidadosa para com o meio ambiente, fortalecendo vínculos ancestrais com lugares sagrados do território e afirmando etnicamente sua identidade. Segundo José Antõnio Turiwara, filho do cacique Sipriano Turiwara e da cacica Hilda Maria Turiwara,
“Ficamos adormecidos por muitos anos, mas hoje viemos para resgatar de volta nossas crenças e nossas culturas, cuidar do nosso bem precioso, que é nossas florestas. Aqui estamos retomando nosso território, aonde meus pais foram expulsos há mais de quatro décadas para não serem mortos por pistoleiros que deram nossas terras para essa empresa chamada Agropalma, que vem nos matando desde o momento em que tomou nossas terras. Hoje deixaremos um grande recado: nós nascemos da floresta e pra ela estamos voltando! Aqui estamos, nós indígenas Turiwara, de volta na aldeia Tukano Sawa”.
Sufocados pelos efeitos nocivos da implantação de grandes fazendas destinadas ao cultivo de dendezeiros, indígenas e quilombolas do Alto rio Acará têm se mobilizado étnica e politicamente para apresentar suas reivindicações territoriais junto ao órgão indigenista oficial e ao Instituto de Terras do Pará. O processo da Terra Indígena Ita Pew tramita na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sob o número 08770.000695/2022-34, e aguarda reconhecimento e demarcação.
No “Dossiê Indígenas Turiwara-Tembé no Alto rio Acará: conflitos territoriais e étnicos”, (2024) descreve-se o movimento indígena dos Turiwara – Tembé articula-se desde a década de 2020 quando define o sentido de suas próprias ações face ao Estado e à situação conflitiva em que se encontram diante dos antagonistas – empreendimentos da plantation do dendê, da economia verde e da mineração, que estabelecem uma racionalidade única ditada por uma gramática de poder e territorialização, diferente das dimensões sociais e simbólicas de ocupação do território com base em laços de parentesco, sentimentos de pertencimento dos povos e de relações e saberes com a natureza.
O Dossiê é produto das pesquisas realizadas nos últimos seis anos pelo Projeto Nova Cartografia da Amazônia junto aos indígenas do Alto rio Acará, e foi publicado em novembro de 2024 e pode ser baixado gratuitamente no site do projeto. https://www.youtube.com/watch?v=s60ZatbTa-4.

